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Sorvete é servido como complemento nutricional a pacientes com câncer no HU, em Florianópolis

Foto: Divulgação/Grangeiro e Scarduelli Comunicação

Publicado em 30/08/2018

Em 2018, o Brasil deve registrar cerca de 600 mil novos casos de câncer, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA). Entre os tratamentos, o mais frequente para enfrentar esta doença é a quimioterapia. Apesar de necessária e eficaz, ela traz inúmeros efeitos colaterais, como queda de cabelo, perda de apetite, alteração do paladar, enjoos, vômitos, aftas, feridas na boca, entre outras alterações que acabam por reduzir a vontade de comer e, invariavelmente, comprometem o estado nutricional dos pacientes.

Estudos mostram que pacientes em quimioterapia têm preferência por frutas, suco de frutas e gelados, possivelmente devido aos efeitos antiemético (contra enjoos e vômitos) e anestésico desses alimentos sobre a mucosa bucal (aliviando aftas e mucosite), especialmente gelados. Assim, tem-se buscado alternativas alimentares que utilizam a crioterapia, que nada mais é do que o consumo de gelo ou alimentos gelados na conduta terapêutica. É uma prática de baixo custo, com alta eficácia, de fácil aplicabilidade clínica e que não oferece riscos ao paciente.

Dentro dessa perspectiva, em Florianópolis, no Hospital Universitário (HU) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), uma pesquisa está sendo realizada com o consumo de sorvetes produzidos especialmente para pacientes em tratamento de câncer.

Carolina Gilda Martins, 31 anos, é uma das pacientes. Há seis meses em atendimento no HU por conta de um linfoma, ela se considera privilegiada pois não sente os mesmos sintomas de outros pacientes que fazem a quimioterapia, como sangramentos orais, vômitos e fraqueza, talvez porque ao longo da vida tenha sempre se preocupado com a saúde. Por isso, ficou muito feliz em saber que existe um sorvete desenvolvido especialmente para pessoas em tratamento de doenças.

Poder sentir o sabor do sorvete é mais um motivo para Carolina celebrar a vida. Ela é contadora e administradora de empresas e gosta muito de viajar. Além dos Estados Unidos, já conhece países da Europa e da América do Sul. Estava com tudo pronto para ir morar na Califórnia com o marido, quando, 15 dias antes da viagem, descobriu que estava com câncer linfático. “Minha vida mudou completamente", desabafa. Carolina trocou as viagens internacionais pelo ir e vir para o HU, onde fica internada na Clínica Médica II, uma das unidades onde os testes com o sorvete estão sendo realizados. Diariamente experimenta um, conforme orientações da nutricionista Aline Valmorbida, que acompanha a pesquisa.

Complemento alimentar

O complemento alimentar na forma de sorvete foi desenvolvido para auxiliar no atendimento às necessidades nutricionais dos pacientes em tratamento de quimioterapia. A pesquisa foi coordenada pela professora Francilene Kunradi Vieira, do Departamento de Nutrição da UFSC, e teve à frente a nutricionista Paloma Mannes, residente em Alta Complexidade do Programa de Residência Integrada Multiprofissional em Saúde do HU, e a nutricionista da unidade de oncohematologia Akemi Arenas Kami, que realizaram a introdução do complemento na dieta dos pacientes. A pesquisa contou ainda com o apoio da equipe de nutricionistas do hospital e da equipe de oncohematologia. A parceria com a empresa catarinense YPY Sorvetes Premium foi fundamental para o desenvolvimento do produto.

Para testar a aceitação do complemento alimentar por estes pacientes, a empresa desenvolveu, junto com a equipe de pesquisa da UFSC e HU, um produto que é fonte de proteína de alto valor biológico, fonte de fibra, livre de gordura trans, sem lactose e sem glúten, com alto valor calórico, apresentado em quatro sabores de sorvete: limão, morango e chocolate.

O complemento alimentar foi desenvolvido no ano passado e avaliado no período de setembro a dezembro de 2017, sendo consumido por provadores sem câncer e por pacientes em tratamento de quimioterapia. “Todos os sabores foram bem aceitos pelos dois grupos, com percentual de aceitação acima de 75%. Os resultados sugerem uma possibilidade terapêutica promissora a ser inserida na alimentação. Ou seja, a inclusão do sorvete na terapia pode ser abraçada”, explica Paloma. A pesquisa foi transformada em artigo científico e foi publicada em meados de agosto numa prestigiada publicação dos produtores de ciência: o Journal of Culinary Science & Technology.

A pesquisa não para por aí. A ideia é levar esse complemento alimentar para todos os pacientes internados ou em tratamento domiciliar que tenham necessidades nutricionais que requeiram aumentar o valor calórico e proteico na dieta. Tem a vantagem por ser um alimento que faz parte do repertório alimentar das pessoas em todas as faixas etárias, é nutritivo e saudável, além de respeitar os hábitos alimentares dos indivíduos já tão fragilizados, tanto do ponto de vista biológico como emocional.

“Humanizar o atendimento nutricional é nossa grande meta. Acreditamos que este complemento poderá ser usado também por pacientes com outros tipos de câncer, com distúrbios neurológicos, pacientes pós-trauma bucomaxilo, entre outras situações como idosos que não têm vontade de se alimentar”, acredita a professora Francilene.

Da redação