Florianópolis recebe principal festival internacional de dança contemporânea do Brasil
Pela quinta vez Florianópolis recebe o Dança em Trânsito, hoje o principal evento de Dança Contemporânea em Santa Catarina e um dos mais relevantes do país. Em 2019, o festival internacional circula por oito cidades brasileiras, além de Paris. Em SC, o circuito começa na Capital, com espetáculos de grupos do Brasil, França, Espanha, Itália e Suíça. As cidades de Capivari de Baixo, Tubarão e Alto Bela Vista, no interior do Estado, também recebem o festival itinerante. Todas as apresentações são gratuitas.
Além de colocar em evidência a produção nacional e internacional da linguagem contemporâneo, o Dança em Trânsito tem o propósito de ocupar espaços públicos e paisagens urbanas por onde circula. Este ano, para além das apresentações nos teatros Ademir Rosa (CIC) e Pedro Ivo, quatro espetáculos serão no Largo da Catedral, no Centro, e dois no Centro de Artes da Udesc.
— Colocar a dança na rua é muito particular. É preciso estudar cada espaço e entender a dinâmica do lugar — diz Giselle Tapias, diretora artística e curadora do evento.
O bailarino espanhol Maximiliano Sanford, por exemplo, apresenta no Centro da Capital o solo Al Borde, peça de dança de 11 minutos que convida a experimentar diferentes sensações e imagens representadas pelo corpo do intérprete. O bailarino estimula a interação com o público que fica para assistir ou está apenas de passagem. Já Bolero de 4, do baiano João Neto, propõe um diálogo poético entre os princípios da dança contemporânea e as técnicas esportivas de bicicleta BMX.
Dança contemporânea para crianças e diálogo com artistas estrangeiros
A cada edição, a curadoria do festival procura abrir espaço para a diversidade de temas e linguagens. Em 2019, elementos do circo estão presentes em mais de um trabalho, inclusive no espetáculo infantil Creme do Céu, do Grupo Tápias (Rio de Janeiro), em cartaz no dia 22/8 no Teatro Ademir Rosa. A montagem, criada em 2017 na França, ganhou nova versão brasileira este ano e combina dança, teatro e videoarte.
— São poucos espetáculos de dança contemporânea para crianças. É uma maneira de formar plateia, já que o público infantil brasileiro ainda não está tão acostumado a essa linguagem — comenta Giselle Tapias.
E o diálogo entre cias brasileiras e estrangeiras é também um dos pilares do evento. O ganho para o público se vê na oportunidade de assistir ao que há de novo, ver de perto companhias consagradas e espetáculos que dificilmente circulariam pelo Brasil. Para a classe artística, o intercâmbio resulta em aprendizado e parcerias.
Formação sobre Dança Contemporânea com francesa Marie Urvoy
Além de promover a democratização da linguagem contemporânea da dança, o festival também aposta na formação. A intenção é promover intercâmbio entre artistas e o público em geral com diferentes níveis de técnica ou conhecimento de dança. Em Florianópolis, a francesa Marie Urvoy ministra a oficina prática de Dança Contemporânea. A formação será no dia 22 de agosto na Cenarium Escola de Dança, das 12h às 14h. Indicado para participantes com experiência em técnicas de movimento. Gratuito.
Sobre o Dança em Trânsito
O Festival Internacional de Dança Contemporânea Dança em Trânsito é realizado há 16 anos no Rio de Janeiro e tem caráter itinerante. Há cinco anos tem edição também em cidades de Santa Catarina e há dois anos é realizado também em Paris, na França. Em 2019, o circuito começa no dia 8 de agosto, no Rio de Janeiro (8 e 17/8), depois vai para Maricá - RJ (18 a 20/8), Minaçu – GO (15/8), Florianópolis (22 e 23/8), Capivari de Baixo e Tubarão – SC (25/8), Alto Bela Vista – SC (27/8), Entre Rios do Sul – RS (28/8), Brasília (5 a 7/9) e termina em Paris (8 a 15/9).
Programação em Florianópolis
QUINTA, 22/8
15h30, no Ceart – Udesc
- Bolero de 4, de João Neto (Salvador)
- La Bambina Impertinente, de Cia SENSINTÉRIEURBRUT (Paris)
19h, no Teatro Ademir Rosa (CIC)
Creme do Céu, do Grupo Tápias (Rio de Janeiro)
20h30, no Teatro Pedro Ivo
Un ange passe-passe ou entre les lignes il y a un monde, da Cia À Fleur de Peau (Paris)
SEXTA, 23/8
13h, na Praça XV de Novembro
- Bolero de 4, de João Neto (Salvador)
- O azul do céu me indetermina, da Cia Referência em Arte (Rio de Janeiro)
- I am not, Trânsito Cia de Dança (Genève, Suíça)
- Al Borde, Maximiliano Sanford (Madri, Espanha)
20h30, no Teatro Pedro Ivo
Café não é só uma xícara, do Grupo Tápias (Rio de Janeiro / Paris)
Agende-se
Dança em Trânsito 2019
Quando: 22 e 23/8
Onde: teatros Pedro Ivo e Ademir Rosa, Ceart / Udesc e Largo da Catedral
Quanto: gratuito. Os ingressos para as apresentações nos teatros devem ser retirados na bilheteria uma hora antes
Informações: www.dancaemtransito.com.br
Conheça os espetáculos
Bolero de 4, de João Neto (Salvador – BA)
O espetáculo faz um dialogo entre os princípios da dança contemporânea e as técnicas esportivas de bicicleta BMX. Essa mistura estética desloca o esporte para o ambiente artístico e vice-versa, criando outros significados particulares e próprios em que o dançarino-performer poderá expressar sentimentos, construir discursos e enfim criar uma linguagem própria. Desenvolve uma nova possibilidade e aplicação cênica para a bicicleta BMX, tirando-a do âmbito esportivo para um ambiente artístico. É uma dança circular e crescente, que retrata de forma poética a historia, o relacionamento e a cumplicidade entre o dançarino e sua parceira de cena.
Classificação: livre. 16 minutos.
La Bambina Impertinente, de Sens Intérieur Brut (Merano, Itália)
Uma viagem por meio da sombra de nós mesmos, uma morte e um renascimento. Uma tentativa de transformar a escuridão em amor. O solo La Bambina Impertinente, escrito e interpretado por Francesca Ziviani, articula sua pesquisa em torno do ritual.
Criar suas próprias regras, para expandir seus próprios ritos que, através de gestos, palavras, atitudes, canções e danças, nos permitem domar e transformar as forças que nos ultrapassam.
Classificação: 10 anos. 20 minutos
Creme do Céu, do Grupo Tápias (Rio de Janeiro)
A queda acidental de uma estrela na Terra é o ponto de partida de Creme do Céu. Criado originalmente em 2017, na França, pelo Grupo Tápias, o espetáculo infantil reúne dança, teatro e videoarte e teve uma nova versão brasileira, em 2019. O texto, escrito por Rosane Alves, conta as aventuras de uma estrela curiosa que cai no planeta Terra e precisa encontrar uma forma de voltar ao céu. Para isso, conta com a ajuda de um adolescente, uma astrônoma e sua aprendiz. Enquanto buscam alternativas para o retorno da estrela, os quatro explicam o que é o Sistema Solar e as características de seus planetas de forma lúdica e divertida. O Grupo Tápias é uma companhia de dança contemporânea com atuação no Brasil e no exterior e que conta com parcerias para a coprodução de alguns dos seus espetáculos, tanto no Brasil como na França. Como a coreógrafa Flávia Tápias foi artista residente no Les Bords de Scènes no ano de 2017, Creme do Céu é uma coprodução do Les Bords de Scènes com apoio do DRAC Paris e do Centro Les Récollets.
Classificação: livre. 50 minutos
Un Ange Passe-Passe ou Entre Les Lignes Il Y a Un Monde, da Cia À Fleur De Peau (Paris)
O duo é como um hino ao silêncio que une, por meio de uma cascata de milhares de gestos precisos e sutis, o humor à emoção e a generosidade ao domínio perfeito de um estilo inimitável. Se consideramos o silêncio como a estaca zero da comunicação, é interessante nos questionarmos sobre a importância de uma comunicação além das palavras. Como se fazer entender neste mundo onde a comunicação é praticamente onipresente, mas se resume quase sempre num diálogo de surdos? Instalados em Paris, Denise Namura e Michael Bugdahn fundaram a companhia À Fleur de Peau em 1989. O grupo tem mais de 40 coreografias no repertório.
Classificação: 10 anos. 75 minutos
O Azul do Céu me Indetermina, da Cia Referência em Arte (Rio de Janeiro)
A funda intimidade de Manoel de Barros com as coisas da terra, com os cheiros e hálitos que marcaram sua infância e que se traduz com imensa simplicidade nos poemas do livro, são base para as descobertas coreográficas que Flávia Tápias transforma, por meio do corpo de Renata, numa narraEva que ondula como um rio entre pedras, lodo, bichos, plantas e lembranças, até entrar em estado de árvore. Em O azul do céu me indetermina, a narrativa coreográfica é propositalmente imprecisa, fluida, aparentemente solta; o movimento conta histórias em seu percurso, ao mesmo tempo em que suscita reações do público. A Cia foi criada pelas bailarinas e diretoras de movimento Fernanda Cavalcanti e Renata Versiani. Funciona como um polo de ideias no campo da dança e das artes, um núcleo criativo com o objetivo promover a arte e suas reflexões em um constante diálogo entre artistas e público através de oficinas, performances, espaço de dança, workshops e intervenções artísticas.Classificação: livre. 17 minutos.
I am Not (criação), com Nicole Seiler (Génève, Suiça)
Nova criação coreográfica de Nicole Seiler para a Trânsito Cia de Dança. Com jovens dos Centros de Cultura de Entre Rios do Sul (RS), Alto Bela Vista e Capivari de Baixo (SC). Performance específica para ser apresentada em espaços públicos, foca na relação entre o corpo e a voz. Os dançarinos formarão um coro de fala que acompanhará seus movimentos. Uma justaposição de palavras e dança cujo significado emergirá através de combinações aleatórias. Classificação: livre. 20 minutos
Al Borde, de Maximiliano Sanford (Madrid, Espanha)
Uma peça de dança que não tem a pretensão de ser narrativa; simplesmente leva a experimentar diferentes sensações e imagens representadas pelo corpo do intérprete. Al Borde é a metáfora da fronteira que limita a pele. De lá, o corpo experimenta a vertigem de ser suspenso diante do desconhecido. Al Borde é o ponto limite que leva a viajar para a parte mais primária e intrínseca do corpo. Onde está a linha onde as emoções transbordam? Maximiliano Sanford Monte foi um ex-ginasta da seleção olímpica brasileira. Dançou em grupos como europeus, como Losdedae (Madri), Cie La Flux (Paris) e Cía Isabel Vásquez (Sevilla), entre outras. Participou de diferentes projetos com coreógrafos europeus. Classificação: livre. 11 minutos.
Café não é só uma Xícara, do Grupo Tápias (Rio de Janeiro / Paris)
A montagem é inspirada na obra fotográfica de Sebastião Salgado e evoca os encontros permeados pela presença do café: café é vício, é encontro, é intervalo, é negócio, é mimo, é familiar, é cheiro. Dentro de todas as possibilidades do corpo de resgatar os registros do fotógrafo brasileiro Sebastião Ribeiro Salgado, a coreógrafa vai colocar em cena um trabalho que brinca esteticamente com o instante eternizado pela pesquisa que será realizada entorno da fotografia. A ideia é que o público entre e já sinta o cheiro do café. Um exercício lírico perpassado pela fé profana ou religiosa, por crenças, tradições e espiritualidade – sem, no entanto, subtrair do ser humano o poder de transformar e recriar sua realidade. A borra do café inspira Flávia Tápias na leitura de movimentos novos, frescos como hortaliças apanhadas ao pé do orvalho.
O Grupo Tápias é uma companhia que atua no território nacional e internacional há anos. Tem base no Brasil e na França, promovendo sempre em suas criações o intercâmbio entre artistas de diferentes nacionalidades. É a companhia de dança associada ao Espaço Tápias e todas as suas produções. Com direção artística de Flávia Tápias, o Grupo Tápias é composto por artistas estrangeiros e brasileiros. Classificação: livre. 40 minutos
Da Redação