Pinot NoAhr!
Conheça o local onde cerca de 80% da região é plantada com uvas tintas
Vocês sabem onde fica a região mais ao Norte dedicada à produção de vinhos tintos?
É a região do Ahr, no Norte da Alemanha, acima do paralelo 50!
O Ahr é um dos 13 Anbaugebiete alemão, com outros nomes como Mosel, Rheingau, Pfalz, Baden, entre outros. Nomeado pelo Rio que corta a região, é uma das menores regiões alemãs, com menos de 550 hectares de vinhedos.
São apenas 43 vinícolas independentes e 3 cooperativas que juntas produzem mais da metade do vinho local. Quando estive lá, visitamos duas delas, sendo a Mayschoss uma das cooperativas mais antigas do mundo.
Cerca de 80% da região é plantada com uvas tintas e o destaque total é para Spätburgunder, ou como é chamada na Alemanha a Pinot Noir, que tem quase 65% da superfície plantada.
É no Ahr que eles fazem os melhores Pinot Noir da Alemanha que provei durante a minha viagem. Além dela vi iniciou-se um maior foco na Frühburgunder ou Pinot Precoce, ou Pinot Magdeleine uma mutação espontânea da Pinot Noir que tem um ciclo de mais de 2 semanas adiantado em relação a mesma, com menos acidez e taninos mais macios.
Podemos dividir a região grosseiramente em duas partes: o Middle Ahr na parte Oeste, com um vale muito mais estreito e vinhedos muito inclinados cheios de ardósia e greywacke, uma espécie de arenito escuro. E a parte Leste mais ampla chamada de Baixo Ahr, com solos de um cascalho argiloso nos terraços e marga, greywacke e até partes vulcânicas.
O Ahr tem 43 vinhedos únicos classificados por sua perfeita exposição de quadrante Sul e inclinação extrema, aproveitando ao máximo a absorção da luz e do calor solar, super necessário nessa região no extremo Norte.
Falando em inclinação, apesar do Mosel ter a fama, é no Ahr que temos a maior proporção de vinhedos inclinados, com 68% deles acima do gradiente de 30% e 73 hectares extremos, acima de 50%. Quase todos no Meio do Vale.
O aquecimento global é sentido nessa região de clima sempre marginal, na década de 1970 o Hugling Index do Ahr apontava a maturação no máximo para variedades precoces como Pinot e Riesling. Hoje já temos algumas plantações de Cabernet e Merlot e nesse ritmo podemos cultivar Sangiovese por lá em 2050. A média anual subiu de 9,6 para 11 graus celsius nesse período.
O estilo dos melhores produtores é variado, temos alguns tradicionais com muita inspiração na Borgonha tradicional, como Jean Stodden e Meyer Nekel, e outros com um estilo redutivo como Bertram Baltes. Muita gente jovem chegando também fazendo vinhos interessantes, incluindo Riesling nos vinhedos de solo mais pobre e pedregoso.
Infelizmente, o que torna esse local único e belo também ajudou na catástrofe de 14 de julho de 2021. Uma enchente, que, na verdade, foi descrita pelos locais como um tsunami gigantesco, varreu literalmente a região. Essa pequena cidade perdeu 135 pessoas, além de muitos bens materiais e muito, mas muito vinho. Durante a visita, 2 anos depois, ainda foi possível ver o rastro de destruição e a reconstrução ainda em andamento. Temos histórias incríveis como das irmãs Meyer Näkel que foram arrastadas e ficaram agarradas por 11 horas em um grupo de árvores que seu avô tinha plantado a 2km de distância.
A mobilização do setor vinícola alemã foi de emocionar e vai ser sempre lembrada pelos locais, com muitos dos maiores e mais famosos produtores da Alemanha indo até lá ajudar no que podiam e salvar a safra 2021 que estava chegando.
Para quem ama Pinot Noir o Ahr produz vinhos obrigatórios e, para quem curte viajar, eles estão a menos de 2h do aeroporto de Frankfurt e valem muito a visita! Afinal, como eles dizem, "We Ahr Open!"
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Sobre o autor
Eduardo Machado Araujo
Certified Sommelier - Court of Master Sommeliers
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