Oregon: A Borgonha Norte-Americana, por Eduardo Araújo

Na vasta paisagem vinícola dos Estados Unidos, o Oregon brilha como um território de finesse, onde Pinot Noir e Chardonnay expressam o terroir com uma pureza que evoca a Borgonha, mas sem a pretensão de imitá-la. Situado na mesma latitude 45 graus norte, o Willamette Valley combina solos vulcânicos, clima marítimo fresco e uma abordagem inovadora para criar vinhos elegantes, acessíveis e profundamente ligados ao lugar.
Inspirados pela Côte d’Or, mas criando uma identidade própria, produtores do Oregon, incluindo pioneiros borgonheses como a família Drouhin e Dominique Lafon, transformaram a região em um destino imperdível para amantes de vinhos de terroir.
A história da conexão com a Borgonha começou nos anos 1970, quando Robert Drouhin, da icônica Maison Joseph Drouhin de Beaune, notou paralelos entre o Willamette Valley e sua terra natal: latitude semelhante, verões longos e solos propícios ao Pinot Noir. O momento decisivo veio em 1986, numa degustação às cegas organizada pela Wine Spectator em Nova York, onde o Pinot Noir Eyrie Vineyards 1975, do Oregon, superou vinhos borgonheses, incluindo os da própria Drouhin. Impressionado, Robert adquiriu mais de 100 hectares em Dundee Hills em 1987, fundando o Domaine Drouhin Oregon.
Sob a liderança de Véronique Drouhin, enóloga formada em Dijon, a vinícola introduziu técnicas borgonhesas, como fermentação com leveduras nativas e uso de barricas francesas de maneira equilibrada, produzindo vinhos que harmonizam elegância e vivacidade. O sucesso do projeto validou o Oregon globalmente, atraindo outros borgonheses, como Dominique Lafon, e consolidando a região como um polo de qualidade.
O terroir do Oregon é a espinha dorsal dessa revolução. Protegido pelas montanhas Cascade a leste e pela Coast Range a oeste, o Willamette Valley desfruta de um clima marítimo fresco, com névoa matinal, verões secos e invernos úmidos, mas amenos, diferente do clima continental mais imprevisível da Borgonha. Os ventos do corredor Van Duzer resfriam as noites, preservando acidez e permitindo maturação lenta, ideal para vinhos longevos. Os solos são um mosaico único: Jory, argiloso e rico em ferro vulcânico; Nekia, com fósseis marinhos calcários; e Gelderman, pedregoso e bem drenado. Esses elementos, moldados por erupções antigas e oceanos pré-históricos, conferem aos vinhos uma mineralidade distinta, com um toque “selvagem” que os diferencia da finesse calcária borgonhesa, mas mantém a capacidade de expressar o lugar.
Duas sub-regiões (AVAs) destacam-se no norte do Willamette Valley: Eola-Amity Hills e Dundee Hills. Eola-Amity Hills, ao sul, é marcada pelos ventos do corredor Van Duzer, que reduzem doenças fúngicas e concentram sabores. Seus solos Jory e Nekia produzem Pinots elegantes e Chardonnays com acidez vibrante, combinando a fruta do Novo Mundo com a mineralidade do Velho Mundo. A região atraiu nomes de peso como Dominique Lafon, cuja vinícola Lingua Franca melhor expressa a fusão de técnicas borgonhesas com o terroir local. Dundee Hills, por sua vez, é o berço do Pinot Noir no Oregon, plantado desde 1965 por pioneiros como David Lett. Seus solos vermelhos Jory, ricos em ferro, geram vinhos estruturados, com equilíbrio entre potência e finesse, enquanto os Chardonnays mostram textura cremosa. As diferentes altitudes e exposições de cada AVA permitem que produtores explorem clones borgonheses, como Dijon e Pommard, criando vinhos complementares que celebram a diversidade do terroir.
A Lingua Franca, fundada em 2014 em Eola-Amity Hills por Dominique Lafon e Larry Stone, Master Sommelier, é um símbolo dessa ponte entre o Oregon e a Borgonha. Com vinhedos biodinâmicos em solos Jory e Nekia, a vinícola, liderada pelo enólogo Thomas Savre, pupilo de Lafon, usa fermentações naturais para produzir vinhos que capturam a essência do terroir com elegância borgonhesa e exuberância americana. Premiados por críticos, seus Pinots e Chardonnays são referências de qualidade, mostrando como o Oregon pode honrar a tradição francesa enquanto constrói sua história. O Oregon não quer ser a Borgonha, mas se inspira nela. Seus vinhos, cheios de personalidade, oferecem uma alternativa vibrante aos clássicos franceses. Para quem busca elegância e um senso de lugar, o Willamette Valley é a resposta.
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Sobre o autor

Eduardo Machado Araujo
Certified Sommelier - Court of Master Sommeliers
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