As descobertas do Uruguai
Nem só de Tannat vive este pequeno país que produz grandes rótulos
Sempre quando falamos em Uruguai, pensamos em Tannat, e, quando falamos em Tannat, pensamos em Uruguai. A culpa não é nossa, fomos influenciados por essas informações desde sempre, em todos os livros de estudos, com a maioria dos vinhos trazidos para o Brasil e nas comunicações das vinícolas de lá. Faz sentido! É mais fácil começar a aparecer com uma casta pouco utilizada mundialmente, como o Chile fez com a Carménère, por exemplo.
E a uva Tannat sempre se deu muito bem por lá, apesar de suas origens no Sudoeste francês, onde geralmente faz parte de blends, por seu caráter mais rústico e que gera vinhos mais duros e tânicos. Ela foi trazida para o Uruguai por imigrantes Bascos por volta de 1870, e hoje tem mais Tannat plantada ali do que na sua origem em Madiran e Irouléguy. Mesmo no Uruguai, sempre ligamos essa uva a vinhos intensos, encorpados e mais duros, que precisam de tempo de barrica e garrafa para “arredondar”. Exemplos como Amat e Pisano são clássicos que precisam de mais de 10 anos de garrafa para serem degustados. Mas, hoje em dia, com novas regiões sendo desenvolvidas e um novo perfil de consumo, algumas vinícolas estão com uma “mão mais leve” e têm oferecido vinhos mais macios e trabalhado com outros varietais.
Esse é um tema complexo, alguns acham que a Tannat é assim mesmo, meio indomável. Daniel Pisano afirma que a uva tem esse caráter e que “se você não dá conta desse cavalo, compre um pônei”. Dizem que esse perfil é um “Tannat para quem não gosta de Tannat”. Mas, é justamente nesse ponto que eu acho válido a prova, pode ser uma ótima porta de entrada e de conhecimento dessa uva, até chegar ao paladar do estilo raiz que o Uruguai se tornou referência. Outro exemplo de uva que já podemos considerar que se adaptou por lá é a Albariño, essa variedade branca muito presente nas regiões de Rias Baixas e Minho (Alvarinho), tem sido plantada há quase 20 anos no Uruguai, e os resultados são animadores, tanto nas versões frescas e leves, até mesmo nas que têm contato com a madeira. José Ignácio, Bouza e Garzón são ótimas opções, esse último, inclusive, levou o prêmio de melhor branco do Guia Descorchados com seu Single Vineyard.
Tintas como Marselan e Cabernet Franc, além de Merlot e Petit Verdot, são outras que temos visto com mais frequência. Mas, é mesmo nos novos estilos de Tannat, que podemos observar a variedade de climas e solos que podemos encontrar no país, desde a clássica região de Canelones, passando pelo Cerro do Chapéu, na fronteira com o Brasil, até as novas regiões costeiras próximas a Punta del Este, temos opções para todos os gostos.
Na recente visita que fiz à Bodega Garzón, que, aliás, é fantástica, - recomendo a visita para quem está de passagem por Punta del Este -, pude provar diversas opções sem muita extração, sem madeira e com mais utilização de tanques de concreto e inox para preservar o caráter varietal, sem precisar esperar muito tempo em garrafa. Até mesmo os ícones Petit Clos e Balasto nos trazem uma concentração com equilíbrio e a complexidade que o terroir nos passa, utilizando concreto e barricas de grandes formatos de madeira sem tosta. São vinhos fantásticos que já podem ser apreciados agora e com potencial de guarda para melhorar com os anos. Vale a pena descobrir os novos vinhos uruguaios das regiões costeiras, pois, com certeza, irão agradar os mais exigentes paladares e são uma nova forma de introdução ao país.
Sobre o autor
Eduardo Machado Araujo
Certified Sommelier - Court of Master Sommeliers
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