A relação entre sulfitos e o vinho
Com a crescente onda de intolerâncias e alergias aos ingredientes ou componentes da nossa alimentação, tem aumentado também a preocupação se o que ingerimos é “natural” ou orgânico. Na maior parte das vezes essa preocupação é exagerada e tem criado um desconforto nos mais variados profissionais do ramo alimentar e de bebidas.
Uma das grandes questões na indústria do vinho é sobre o sulfito e sua colaboração para a dor de cabeça gerada ao se beber. Existem muitas pessoas afirmando que não bebem vinhos “industrializados” pelo excesso de sulfito no processo produtivo. Mas, vamos lá, o que é verdade no assunto?
Sulfitos são usados há séculos em alimentos como preservativos e agentes anti-descolorantes. Os limites variam muito, sendo que nos vinhos tintos normalmente são encontrados entre 50-250 PPM (partes por milhão) da substância e nos vinhos brancos chegam a 450 PPM. Diversos outros alimentos como refrigerantes, frutos do mar embalados, frutas secas e batatas frita - esses últimos chegando a níveis superiores a 3.000 PPM-, utilizam sulfitos nas suas diferentes formas como conservante. Ou seja, se o sulfito fosse causa de dor de cabeça e outros sintomas, provavelmente passaríamos a vida toda assim consumindo sulfitos em quase tudo. E, se você não fica inchado, com rubor na pele e com dor de cabeça após comer alguns desses alimentos, você não faz parte dos cerca de 1% da população que tem reação ao sulfito.
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Os diferenciais de um bom vinho
É impossível um vinho não conter sulfitos. O próprio processo de fermentação gera esse produto, o chamado SO² livre. Mas, então por que algumas pessoas são mais sensíveis que outras e da onde surgem essas reações? É muito comum as pessoas que reclamam de dores de cabeça e vermelhidão na pele associarem esse problema após o consumo de vinhos tintos e como já vimos essa categoria é a que menos leva conservantes.
Mas, temos aí outros possíveis vilões. O primeiro é claramente o álcool e todo o seu efeito no nosso organismo quando consumido em grande quantidade e principalmente sem hidratação. Outros dois elementos possíveis e presentes nos vinhos são as Histaminas e as Tiraminas que causam dilatação e constrição nos vasos sanguíneos causando esses efeitos. Os vinhos tintos possuem no geral muito mais Histaminas, sendo assim a relação fica mais clara entre os efeitos sentidos na maior parte após o consumo dos tintos.
No fim das contas, temos a presença de diversos elementos com possíveis reações no nosso organismo e os sulfitos, que estão presente numa vasta maioria dos alimentos que consumimos, estão em uma concentração muito pequena. O importante é perceber os sintomas e prevenir. A água é muito importante e a melhor amiga de uma degustação, a hidratação é fundamental e talvez seja preciso tomar um anti-histamínico se for o caso de reações às Histaminas.
O ponto final é saber corretamente de quem é a “culpa”.
Sobre o autor
Eduardo Machado Araujo
Certified Sommelier - Court of Master Sommeliers
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