Urbano Salles e os 40 anos de um jornalismo que atravessou gerações
Com uma história que atravessa o impresso, a televisão e o jornalismo digital, colunista do Imagem da Ilha reflete sobre as transformações da profissão, compartilha aprendizados e revela desafios da era das redes sociais

O Dia do Jornalista, celebrado nesta semana, vai muito além de uma data no calendário. É um convite à reflexão: qual o papel do jornalismo em tempos de excesso de informação, bolhas digitais e desconfiança generalizada? Em meio a esse cenário desafiador, histórias como a de Urbano Salles ajudam a entender não só o passado, mas também os caminhos possíveis para o futuro da profissão.
Poucos jornalistas em Santa Catarina viram e viveram tantas transformações no ofício quanto Urbano Salles. Com 40 anos de trajetória, iniciada em 1986, ele se tornou uma referência no jornalismo local pela consistência do trabalho, pela fidelidade à apuração e pela adaptação às mudanças que redesenharam a comunicação no Brasil — da era das laudas até o jornalismo digital em tempo real.
Vestindo camiseta com verso do catarinense Lindolf Bell.
Salles começou no extinto jornal O Estado, onde se destacou com uma coluna de variedades que registrava personagens, eventos e bastidores da cidade. “Naquela época, nós éramos o Facebook da cidade. A sociedade lia nossas colunas para saber o que estava acontecendo”, lembra ele, com humor. O prestígio da coluna, que circulava de terça a sábado, o levou também à televisão. Foi âncora em telejornais nas retransmissoras das redes OM e CNT.
Mesmo diante da migração de leitores para as redes sociais, Urbano continuou a se reinventar. “A partir dos anos 2000, cada pessoa passou a ter sua própria coluna, por meio do Instagram, do Facebook. Isso tornou a concorrência brutal para nós jornalistas. Mas eu nunca quis criticar isso. É apenas a realidade. Tivemos que nos adaptar.”
Após deixar a televisão, Urbano foi convidado pelo diretor Hermann Byron, por sugestão da jornalista Ana Lavratti, a integrar o Imagem da Ilha, projeto que marcaria uma nova fase em sua carreira. Começou com uma coluna mensal e logo passou a fazer parte do conselho editorial do jornal, vivendo de dentro o processo de transição do impresso para o digital. Em 2020, com a pandemia, a edição impressa foi suspensa — e o Imagem migrou definitivamente para o digital. “Foi um grande desafio. O que fazer na era digital? Como manter relevância? Como não me perder no volume de conteúdo?”, relembra.
Mesmo diante de incertezas, ele enxerga vantagens no novo formato. “O digital trouxe agilidade, praticidade. Corrigir um erro ficou mais fácil. Não precisamos mais jogar papel fora. E o alcance? Antes a gente tinha limite de tiragem. Agora, o céu é o limite.”
Parte da biblioteca de Urbano Salles, assíduo leitor.
Sua atuação também passou por revistas como Veja SC e Revista Gente. Mas o acervo físico desses tempos foi descartado em um momento de desapego. “Tive um surto de organização e mandei tudo pro lixo. Me arrependo. Foi minha mãe quem guardou tudo desde o início. Agora, meu legado está na memória — e em lugares como a Biblioteca Pública, onde alguns arquivos ainda resistem.”
Mesmo com uma carreira consolidada, Urbano encara novos desafios. Um deles é dialogar com o público jovem. “A maior parte dos meus leitores tem mais de 50 anos. A comunicação com a juventude não é simples, mas tento. Quero manter os antigos leitores e conquistar novos.”
O que não mudou com o tempo foi sua ética e comprometimento. “A credibilidade é o nosso maior patrimônio. E se mantém com checagem. Sempre falo: checar, checar, checar. Não podemos nos deixar levar pelas fake news. O jornalista precisa ser filtro, curador de conteúdo. Precisamos oferecer algo melhor que os grupos de WhatsApp.”
E se pudesse deixar uma mensagem aos jornalistas que estão começando? Urbano não hesita: “O jornalista tem a missão de lançar luz sobre os fatos. Não podemos deixar as pessoas presas em bolhas. Precisamos ir além do que os algoritmos entregam. E isso só é possível com profundidade, com respeito à diversidade e com uma visão democrática da sociedade.”
Confira a coluna de Variedades do jornalista Urbano Salles neste link.
Da redação
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