Nem novos e bons produtos fazem a Peugeot “decolar”
Primeiro trimestre mostra participação estagnada em 1,1% e 88% dos licenciamentos dependentes das vendas diretas

Definitivamente, os consumidores brasileiros não andam com “boa vontade” com a Peugeot, que, apesar de novos produtos, como o bonito SUV 2008, versões de entrada mais competitivas e tecnológicas, até redução de preços, segue sem reagir nas vendas e, por conta disso, com participação estagnada em 1,1%.
Após os três primeiros meses de 2025 a Peugeot continua como a quinta e última marca da Stellantis em licenciamentos, com 5,9 mil unidades de automóveis e utilitários vendidos, crescimento de 2% ou 163 veículos a mais do que no ano passado, mas em um mercado que cresceu mais de 7% na média.
É a 16ª colocada no geral, junto com a Mitsubishi. Até mesmo a RAM, também do grupo Stellantis e dedicada exclusivamente a picapes de luxo, está à frente em número de veículos negociados.
Mesmo tendo como opção mais barata a Rampage Big Horn, que custa a partir de R$ 238 mil. Em comparação, o Peugeot mais em conta, o 208 com transmissão manual, é oferecido no site da empresa por cerca de R$ 80 mil — R$ 75 mil em valor promocional para abril.
O desempenho comercial do hatch sintetiza bem o quadro de dificuldades que tem caracterizado a caminhada da Peugeot nos últimos anos. Após um ano e meio de ganhar versão 1.0 turbo, o modelo ainda não decolou, como muitos imaginavam.
Mesmo com design atraente e muito bom nível de conteúdo, ocupa a 10ª posição entre os doze carros elencados pela Fenabrave na categoria de hatches pequenos, com pouco mais de 1,9 mil emplacamentos. Imediatamente à frente dele está, por exemplo, o elétrico BYD Dolphin, que tem preço inicial de R$ 160 mil.
A diferença para os líderes do segmento então é brutal. O primeiro colocado Volkswagen Polo teve 21,9 mil unidades vendidas de janeiro a março, onze vezes mais do que o 208, e o vice-líder Fiat Argo, com quem o 208 compartilha a motorização turbo, 19,7 mil licenciamentos, dez vezes mais.
Lançado em agosto do ano passado, com estilo e acabamento instigantes e nível de tecnologia no mínimo em pé de igualdade com os dos melhores veículos da categoria, o 2008 também não alcançou ainda o potencial patamar de vendas que sugeria.
Foram negociadas no primeiro trimestre 3,5 mil unidades do modelo que utiliza a mesma plataforma do 208, ambos produzidos em El Palomar, Argentina. Nos quatro meses em que esteve à venda em 2024, o SUV compacto acumulou 7,1 mil emplacamentos. Desses, 2,2 mil em dezembro, maior volume mensal até agora.
A média aproximada de 1,5 mil por mês é muito pouco para um produto que foi qualificado pela própria montadora como seu mais importante lançamento desde o 206.
O pioneiro hatch brasileiro é o carro de maior sucesso da Peugeot no Brasil desde a inauguração, em 2001, da fábrica de Porto Real, RJ, complexo que passou a fabricar só Citroën após 2023, quando a Stellantis encerrou a produção da geração anterior do SUV compacto.
Não de hoje
As vendas em patamar bem abaixo das concorrentes generalistas não é recente na história da Peugeot brasileira. Em mais de duas décadas, a maior participação de marca, 3,4%, foi registrada lá no distante 2007.
O índice a colocava na 6ª posição no ranking das marcas mais vendidas, atrás somente das então “Big Four” – Fiat, Volkswagen, GM e Ford, nessa ordem —, da também ainda novata Honda e à frente de Toyota e Renault.
Já em 2008, porém, a fatia caiu para 3,1% e desde então não ultrapassou 2,7%, chegando ao piso de 0,7% em 2020.
Hoje a Peugeot vê lá de trás várias concorrentes que começaram a produzir aqui bem depois, como Hyundai, Jeep, Caoa Chery e Nissan, e, desde o ano passado, até mesmo as ainda importadoras BYD e GWM e a própria Ford, que, de volume mais significativo, vende mesmo somente a picape Ranger.
Quando da criação da Stellantis, em 2021, a montadora estabeleceu como uma de suas metas resgatar, em dois anos, os melhores momentos da Peugeot e Citroën no Brasil — exatamente na primeira década do século, quando as participações somadas estiveram entre 5% e 6%.
Ainda está longe do objetivo, mesmo que, com a renovação da linha nacional com C3, C3 Aircross e Basalt, a Citroën tenha começado a reagir. Neste primeiro trimestre, estabeleceu participação de 1,8%, 0,4 ponto porcentual a mais do que em 2024.
Muito mais vendas diretas
O consultor independente Milad Kalume Neto não vislumbra um caminho mais bem pavimentado para a Peugeot no Brasil, pelo menos no curto prazo. Ao contrário, considera até alguma dificuldade extra com a chegada da Leapmotor como sexta marca da Stellantis no mercado brasileiro ainda este ano.
“A Stellantis, claro, concentra maiores esforços nas marcas Fiat e Jeep, as que mais vendem aqui. Também investirá na Leapmotor nos próximos meses. É uma equação complicada”, diz Kalume, que vê em alguns antigos problemas técnicos — há muito superados, faz questão de frisar — um legado negativo ainda a ser extirpado da imagem da Peugeot.
O consultor destaca outro importante “retrato instantâneo” da Peugeot no Brasil em 2025. A dependência das vendas diretas no primeiro trimestre foi muito acima da média do mercado. Dos mais de 5,9 mil veículos negociados, 5,2 mil foram nessa modalidade — quase 88% do total, o dobro da média de 46,5% registrada nas vendas de automóveis e comerciais leves de todas as marcas.
Curiosamente, o 2008, que ainda tem o apelo comercial de ser novidade recente nas ruas e revendas, é o que mais dependeu das negociações diretas entre a montadora e os clientes finais. Nada menos do que 94%: 3,3 mil dos 3,5 mil emplacamentos. No caso do 208, a participação chegou a 85% do universo negociado de janeiro a março.
“Pode até ser até uma estratégia momentânea para fazer um carro chegar mais rapidamente às ruas e assim ser mais visto. Mas também sinaliza alguma dificuldade nas vendas”, pondera Kalume.
Da redação
Fonte: AutoIndústria
Para receber notícias, clique AQUI e faça parte do Grupo de WHATS do Imagem da Ilha.
Gostou deste conteúdo? Compartilhe utilizando um dos ícones abaixo!
Pode ser no seu Face, Twitter ou WhatsApp!
Para mais notícias, clique AQUI
