Camadas do Autoconhecimento - O Paciente Mergulhador, por Denise Evangelista
Psicoterapia é apresentada como caminho para ouvir e se ouvir de forma transformadora

O conhecimento e o autoconhecimento têm camadas e estão intimamente ligados à experiência. Todos nós podemos imaginar como é passar por uma ou outra situação, como é ser no mundo tendo uma e outra característica, mas a experiência de cada um é intransferível.
Quando crianças costumam nos perguntar: o que você quer ser quando crescer? Lembro-me de dizer que queria ser empregada doméstica, caminhoneira, para saber como é ser… Acabei fazendo teatro e psicologia, duas profissões que estimulam o exercício da empatia. Ser empático, no entanto, não é ter passado por tudo, sentido do mesmo jeito, experimentado os mesmos contextos, a mesma época, nem as mesmas condições; por mais que tenham aspectos comuns com uma ou outra pessoa, nunca são exatamente os mesmos e nem experimentados da mesma maneira.
É a experiência, a forma como a sentimos e a processamos que faz da nossa vida algo absolutamente singular. Cada ser humano sente, interpreta e lida com a vida e com seus acontecimentos, a seu modo. Assim também são nossos processos de aprendizagem, as transformações na nossa percepção, os deslocamentos que somos capazes de fazer para vermos as situações de diferentes perspectivas. É um exercício sempre inacabado, esse de experimentar e também o de aprender. Quanto mais referências nós tivermos, mais elementos ao nosso dispor para fazer conexões e para construir novos sentidos. E só se consegue atravessar camadas, mergulhando, desejando saber o que têm mais adiante. É pela própria experiência que conquistamos o que se convencionou chamar de “lugar de fala”.
O processo de autoconhecimento é, assim também, uma busca, um exercício sempre inacabado. Precisamos aprender a nos “ouvir”. Uma das funções da psicoterapia é pavimentar um caminho para que o paciente possa desenvolver um auto suporte para se “ouvir”. Outra, que através de um bom vínculo com seu psicoterapeuta, ele se sinta seguro para entrar em contato com sentimentos, com os quais não aprendeu a ter intimidade. Para se ouvir, o paciente necessita ser ouvido, mas com uma escuta aberta, não ansiosa, não julgadora, e que acompanhe o ritmo e as possibilidades do paciente mergulhador. O processo de autoconhecimento pode ser entendido como um traduzir de manifestações do inconsciente, como as dos sonhos, mas também do próprio comportamento, das repetições que parecem existir sem o nosso consentimento e que nos geram sofrimento, bem como das tantas manifestações do nosso corpo, do que é dito e do que é silenciado.
É o paciente, em primeira pessoa, que conduz o processo terapêutico. É ele, com o psicoterapeuta a bordo, que pega o leme e vai mostrando a rota. O psicoterapeuta, ao lado dele nesse barco, fica na cordinha, soltando ou tensionando a vela para aproveitar os ventos, da melhor maneira possível. De vez em quando, os dois ancoram em algum lugar e mergulham juntos, na tentativa de descobrir o que está sob a superfície. Seguem assim, nesse mar imenso, atravessam camadas, revisitam “experiências” e conectam pontos cardeais em busca de sentido e direção.
O processo psicoterapêutico é como um processo digestório, nos auxilia a assimilar o que nos nutre e a nos desfazer do que é tóxico, através da experiência do mergulho, de corpo e sentimentos, razão e emoção, ampliando nossa capacidade de ver para dentro e para além de nós mesmos.
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Sobre o autor

Denise Evangelista Vieira
Psicóloga formada pela UFSC e em Artes Cênicas pela Udesc. Escreve sobre o universo humano. Quem somos e em quem podemos nos tornar? CRP 12/05019.
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