“Homem com H” honra a vida e obra de Ney Matogrosso
Mais do que uma cinebiografia, “Homem com H” é um verdadeiro deleite para quem gosta de música, história, cinema e ousadia. A atuação magistral de Jesuíta Barbosa e a direção assertiva de Esmir Filho faz de quem assiste um personagem em cena.

Homem com H é uma homenagem em vida das mais bem elaboradas que já vi. Traduz em graça, em vida, em força e em luz toda androginia, insurgência, elegância e o valor inestimável para a cultura brasileira deste ser político que é Ney Matogrosso. Em tempos de frugalidades e verdades inventadas, luxo mesmo hoje é poder ser cinebiografado do alto dos 83 anos e em pleno vigor físico e artístico. E ele pode! Ney se permitiu mais uma vez mostrar suas entranhas. E também sua beleza infinita, suas lutas e vulnerabilidades, seus traumas e incertezas, suas paixões e sua forma livre de ver e construir o mundo. Temas que no filme passam longe do ativismo ou da narrativa enfadonha. Ao contrário. A música, as cores, o ritmo dos cortes e a brilhante atuação do protagonista Jesuíta Barbosa nos envolvem tão efusivamente que chegam a nos mostrar que estamos vivendo errado. Precisamos de mais cor, mais propósito, mais amor e mais coragem.
O ator Jesuíta é tão convincente e fiel no papel de Ney – não só na caracterização física, mas principalmente naquele semblante semi-arrogante, transgressor e inteligentemente debochado – que esquecemos que é uma obra de ficção. É como se a fidelidade e genialidade da atuação transcendessem a própria arte. Assiste-se como a uma história real, passada em tempo real diante dos nossos olhos. Vive-se junto as agruras de uma educação repressora, a empáfia e resistência do artista em tempos de ditadura militar, a descoberta gostosa das suas paixões, o amor pela natureza e pelos bichos, a construção da carreira, as suas fórmulas para lidar com o sucesso e com a solidão. Percebi pelo filme que há uma insolência no gestual de Ney Matogrosso que lhe confere um charme sem igual. Sabedoria, equilíbrio, aceitação do diverso. E ao mesmo tempo uma transgressão e uma incapacidade imensa de engolir os “nãos” ou de ver seu desejo tolhido.
Impossível não cantar e curtir as boas histórias por trás das músicas que lhe deram tanto sucesso. A trilha sonora do filme contempla nada menos do que 15 obras, o que dá ao filme a chancela de musical. Mas, calma, não pense que vai ser aquela cantoria do início ao fim, típico dos musicais antigos. O roteiro amarra muito bem a narrativa e o ir e vir dos personagens, assim como da passagem do tempo, justificando a entrada de cada música. É leve, solto, gostoso.
Em pouco mais de duas horas, Esmir Filho conseguiu atravessar ao menos sete décadas da vida de Ney e ainda se permitiu contar outras histórias paralelas e outras entremeadas, como a de Cazuza. O ritmo é frenético, a atenção é plena e o tempo passa voando. Guarde um tantinho mais de emoção para o epílogo onde o próprio Ney, já octogenário, assume arrebatadoramente as rédeas da narrativa. Pronto, dei spoiler! Homem com H é um filme que honra a vida e a obra de Ney Matogrosso. E quem é Ney? Um homem que ousou ser livre.
Onde assistir: No Paradigma Cine Arte até quarta (07), às 16h15. De 8 a 15 de maio às 18h30.
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Sobre o autor

Karin Verzbickas
Jornalista conhecida por suas resenhas de filmes no Jornal Imagem da Ilha
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