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A arte que faz sentir: Como a criatividade de Marcela Schmidt transforma a dor em luz
Com um olhar sensível, a artista plástica conecta dor e beleza, criando uma experiência que vai além da simples visão

Marcela revela como a arte pode ser uma jornada de cura e superação durante tempos desafiadores. (Fotos: Acervo pessoal)

Publicado em 04/02/2025

Durante o turbulento período da pandemia, quando a incerteza pairava sobre todos, a artista plástica Marcela Schmidt encontrou na arte uma maneira de não apenas resistir, mas também de transformar o sofrimento em luz. Foi assim que nasceu o projeto A Luz da Pandemia, que reúne 15 telas, cada uma representando uma história real de superação. O número 15, que parecia um detalhe, revelou-se significativo. “Eu achei que receberia muitas histórias, mas chegaram exatamente 15, o número que eu precisava. Foi como se Deus tivesse escolhido por mim”, diz Marcela, emocionada com a conexão profunda que o projeto gerou.

Para dar vida a essas narrativas tão profundas, Marcela mergulhou na experiência de cada um dos entrevistados, criando um vínculo que ultrapassava o profissional e adentrava o pessoal. O processo foi intenso. “Foram momentos muito emocionais. Passei uma semana inteira ouvindo, anotando, fotografando. As histórias eram tão pesadas, tão profundas, que eu me senti completamente absorvida por elas. Após terminar, precisei de um tempo para me recompor, respirar. Estava completamente consumida”, revela a artista. Mas foi nesse espaço de entrega, de conexão emocional, que a arte de Marcela encontrou sua força e significado.

Marcela tem uma filosofia pessoal que guia seu trabalho e sua vida: "A arte que faz sentido, é a arte que faz sentir". Para ela, o que importa é o impacto emocional que a arte causa. “Se te tocou, é porque ela faz sentido para ti”, afirma.

A Garça: Símbolo de transcendência e esperança

O elo entre as 15 telas é a garça, um símbolo poderoso de transcendência, resiliência e visão ampliada. A ave, com sua leveza, força e elegância, tornou-se um símbolo de como é possível se elevar diante das adversidades. “A garça representa um olhar diferenciado, uma visão de altura. Ela traz uma leveza para histórias tão pesadas, com uma estética singela, elegante e imponente. Quando mostrei as telas para os entrevistados, vi como eles se viam na figura da garça. Eles se reconheceram nela, e isso foi um momento de profunda conexão”, explica Marcela. Essa conexão não se limitou apenas à visão: as garças se tornaram o ponto de partida para uma exploração sensorial da exposição.

A exposição imersiva: Para além da vista, a arte que toca

A proposta da artista vai além do visual. Ao incorporar elementos sensoriais, a exposição A Luz da Pandemia proporciona uma experiência imersiva que envolve todos os sentidos. Cada tela é acompanhada de um QR Code que direciona o visitante a um poema narrado sobre a história representada na obra. "Quanto mais sentidos envolvemos, mais profunda se torna a experiência. Alguns se arrepiaram, sensibilizados. A inclusão do tato e do som foi uma forma de tornar essa luz acessível para todos", destaca Marcela. Para a artista, essa inclusão sensorial é uma forma de democratizar a arte, tornando-a mais acessível, especialmente para aqueles com deficiências. “Muitas pessoas com deficiência auditiva e visual se emocionaram com a experiência. Isso me tocou profundamente, pois é a arte alcançando todos, sem deixar ninguém para trás”, completa.

A garça, símbolo de transcendência e esperança, une as 15 histórias de superação em um projeto imersivo de cura.

 

Transformação pessoal e coletiva

Se, para muitos, a pandemia foi um tempo de retração, para Marcela foi um período de profunda transformação. Mãe de um recém-nascido, ela se viu dividida entre a maternidade e a necessidade visceral de criar. O processo de adaptação foi desafiador. “Eu criava pequenos espaços de tempo para pintar, mas eram breves, interrompidos pelo choro do meu filho. Era frustrante. Mas, ao mesmo tempo, me ensinou uma lição importante: o processo de transformação não acontece no tempo que queremos, mas no tempo que precisamos”, reflete a artista. Foi nesse processo que ela encontrou sua própria luz, e a expressão artística se tornou uma válvula de escape e cura para as adversidades pessoais.

Ao longo dos cinco anos de desenvolvimento do projeto, Marcela amadureceu sua identidade artística e se aprofundou no simbolismo da garça, tornando-a sua assinatura. “A garça me representa como artista e tem sido o símbolo de cada história. Ela transcende a estética e traz uma profundidade que não se limita à aparência. Ela representa a superação, a visão ampliada e a capacidade de transformar dificuldades em momentos de elevação”, explica Marcela, com a convicção de quem encontrou sua voz artística. Para ela, a arte vai além da obra em si. “Meu sonho não é criar telas bonitas. Quero que minha arte vá além do objeto, que carregue um legado, que toque as pessoas e transforme as histórias”, conclui.

Marcela acredita profundamente no poder curativo da arte. Para ela, a arte não é apenas uma expressão estética, mas uma forma de cura. “Arte cura. Esse é um dos meus mantras. Seja pela música, pela dança, pela palavra ou pelas artes plásticas, todos temos o poder e a responsabilidade de transformar o sofrimento em luz”, afirma. Durante a pandemia, ela viu seu próprio processo de transformação sendo refletido nas histórias que retratou. "Cada história que retratei me tocou profundamente e, ao mesmo tempo, me ajudou a transcender minhas próprias limitações. Eu também me curei ao pintar", revela Marcela.

Com uma formação em Arquitetura e Design de Produto e uma década dedicada às artes plásticas, Marcela reflete sobre como sua trajetória acadêmica e profissional influencia seu trabalho artístico. Para ela, a formação em design, especialmente o curso de Design de Produto realizado em Milão, foi um divisor de águas. “O curso de design me abriu os olhos para a importância de criar com um propósito, com um conceito forte, algo que vá além da estética”, explica. A arquitetura também teve um papel importante, embora de forma mais sutil. “A arquitetura me ensinou sobre proporção, equilíbrio e harmonia. São conceitos que eu carrego em meu trabalho artístico, principalmente quando falo de transcendência, de transformação", conclui, destacando a integração das disciplinas que formaram sua visão única de arte.

A arte de Marcela transcende os limites da tela, criando uma conexão profunda com as histórias de superação.

 

A exposição Luz da Pandemia está aberta para visitação até o dia 15 de fevereiro, trazendo uma reflexão visual sobre o impacto da pandemia por meio da arte. O público pode conferir as obras às quartas e quintas, das 18h às 23h, e às sextas e sábados, das 20h às 23h na Galeria Berlin (Rua Victor Konder, 409 Centro Florianópolis).

 

 

 

Da redação

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