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Resgate histórico e vinhedos centenários no Sul do Chile
Pequenos produtores estão criando vinhos únicos, resgatando tradições esquecidas

A uva País, trazida pelos conquistadores, é agora a estrela de vinhedos antigos que resgatam o passado do vinho chileno com um olhar moderno. (Foto: Eduardo Strechar)

Publicado em 06/03/2025

O Sul do Chile é responsável por um dos maiores resgates históricos do mundo do vinho nas últimas décadas.Apesar de muito distante da capital e dos principais polos vinícolas do país, que sempre receberam investimentos milionários e o foco do trade, como Maipo e Colchagua por exemplo, regiões como Itata, Bío-Bío e Maule sofreram mais com essa distância. Para viajar de Santiago a Chillán em Itata são mais de 400km. 

Mas, apesar disso, é lá que se encontra a mais rica, intocada e antiga história do vinho Chileno, pois os Conquistadores trouxeram uvas que até hoje são importantes naquela parte. Uma delas é a País, ou Listán Prieto como era chamada na sua origem em Castilla-La Mancha. 

Ela foi levada em 1540 pelos Franciscanos Espanhóis para a costa oeste das Américas, ganhando o nome de Mission (por causa dos missionários religiosos) no México e o que vinha a ser o estado da Califórnia. Na Argentina ela é chamada de Criolla Chica. É muito provável que ela tenha sido a primeira Vitis Vinífera a ser trazida para as Américas.

Durante muitas décadas esses vinhedos foram de camponeses simples que vendiam uvas a granel para os grandes produtores de volume por preços quase que simbólicos. Vinhedos centenários, inclusive alguns com mais de 200 anos de idade, eram vendidos a centavos o quilo para serem misturados nos blends de vinhos básicos.

Alguns produtores com visão e com respeito à história passaram a viajar frequentemente pro Sul, provando vinhos até no acostamento, alguns chamados de Pipeños, feitos de maneira artesanal e até mesmo utilizando uma madeira local chamada da raulí. Quando encontravam qualidade iam atrás dos proprietários para propor uma troca justa, cuidar desse patrimônio natural e pagar um valor digno de sua qualidade que encorajava o camponês a continuar seu trabalho e viver melhor.

Assim foram sendo criados rótulos novos e houve uma verdadeira revolução local. Esses vinhedos antigos e selvagens, em solos graníticos ou vulcânicos, cultivados de forma natural inclusive em “secano”, ou seja, sem irrigação, começaram a chamar atenção. A uva País ganhou holofotes e outros locais de vinhedos antigos como Moscatel e Carignan.

Hoje o Sul do Chile é lar de nomes reconhecidos internacionalmente produzindo vinhos originais que são puro reflexo de terroir. Referências em Moscatel e País como Roberto Henriquez e Cacique Maravilha com suas filosofias de vinho natural, à François Massoc e sua visão mais clássica e “francesa” do País. Passando por ícones como Pandolfi Price e seu famoso Chardonnay Los Patrícios de Itata e Gonzales-Bastias, Itata Paraíso e De Martino. Temos até um produtor brasileiro, Cata Terroirs, fazendo ótimos vinhos na região e agora, claro, as grandes marcas estão começando a se aventurar por lá buscando esse resgate histórico.

Um resgate que foi um grande alento para os pequenos produtores locais que passaram anos lutando para manter esse patrimônio especial.

 

 

 


Sobre o autor

Eduardo Machado Araujo

Certified Sommelier - Court of Master Sommeliers


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