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Quanto custa um vinho?


Publicado em 14/09/2012

Muitas vezes me perguntam o motivo de um vinho custar R$50 e outro similar chegar a preços muito mais elevados no mercado, ou se um vinho realmente vale aquilo que é cobrado, chegando a valores estonteantes, passando à dezena de milhares de reais em alguns casos. Mas afinal o que define o preço de um vinho?

Bom, podemos encontrar dezenas de fatores básicos, ligados ao simples fato de o vinho ser um produto industrializado. Sim, apesar de todo o romantismo e elegância o vinho nada mais é do que um produto destinado à venda e lucro.
Podemos pensar no custo de produção de acordo com o pedaço de terra onde o vinho é produzido, alguns totalmente inóspitos e onde não seria possível cultivar qualquer outro tipo de cultura; o custo de implantação de um vinhedo; a mão-de-obra durante o cultivo; a colheita e a vinificação; e todos os custos operacionais de produção, como a instalação da vinícola, tanques de inox e barricas de carvalho, que são altamente custosas. Também temos o tempo que esse vinho fica imobilizado, em amadurecimento, e posteriormente o material utilizado na embalagem, a variação da qualidade das garrafas, caixas, rolhas e rótulo.
Todos esses fatores, sem contar impostos e transporte, podem resultar em vinhos com o custo de menos de um euro por garrafa. Mas alguns fatores extremamente importantes podem fazer esse custo alcançar facilmente a casa dos dez euros. A quantidade de vinhas por hectare, o preço da terra, a produtividade de um vinhedo (hectolitros x hectare) e o envelhecimento em barricas de carvalho podem fazer o custo se aproximar dos EUR¢10, ou seja, fatores que influenciam diretamente a qualidade de um vinho são fatores que naturalmente encarecem bastante o processo.
Logicamente um vinho jovem, mais simples, com uma produção de centenas de milhares e até dezenas de milhões de garrafas será muito mais barato que um vinho produzido apenas em safras especiais, com poucas uvas aproveitadas por planta e uma produção que, por vezes, não ultrapassa algumas centenas de caixas.
Mas, mesmo assim, nada disso justifica o motivo de existirem vinhos que custam, por vezes, mais de R$20.000. Entram os fatores que envolvem o intangível, as marcas, a oferta de certo vinho e a margem de lucro de produtores e importadores.
O que pesa hoje são fatores como a origem (Borgonha, Bordeaux, Champagne) e o peso da marca, ou o chamado rótulo, logicamente relacionado com a mítica que envolve essa marca e a quantidade de produção versus a quantidade de pessoas dispostas a pagar por esse vinho. Não necessariamente que um vinho de R$1.000 seja dez vezes melhor que um de R$100, o que pode ser até mesmo um engano.
Ultimamente, um fator ainda maior influencia os preços. Por termos uma quantidade quase infinita de vinhos no mercado e pouca informação sobre o que vale a pena ou não, muitas pessoas usam os críticos de vinhos como balizadores. Foram criados então os “super críticos” e de lá pra cá vinhos que possuem menos que 90 pontos parecem não ter qualidade, infelizmente um grande engano. Assim sendo, todo vinho que recebe pontuações mais altas tem seu preço super inflacionado, respingando geralmente pra todos os outros vinhos da vinícola, aproveitando a carona da marca em evidência. Isso foi comprovado por uma recente pesquisa americana e mostrou a volatilidade do mercado e como os preços flutuam de acordo com o que dizem os críticos, sinal de que o consumidor ainda é guiado por eles.
Mas, essa variedade de vinhos no mercado pode ser positiva, pois quem manda é nosso paladar e este pode ser totalmente diferente do paladar “profissional”. Assim sendo, achar o melhor vinho, com uma ótima relação entre preço e prazer, além de ser necessário é também recompensador, pois garanto que iremos degustar muitos vinhos excelentes e surpreendentes.

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Sobre o autor

Eduardo Machado Araujo

Certified Sommelier - Court of Master Sommeliers


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