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O primeiro champanhe, por André Vasconcelos
Do falso champanhe à produção nacional premiada, o espumante brasileiro ganha protagonismo nas páginas do novo livro

O primeiro champanhe, por André Vasconcelos
O primeiro champanhe pode até ter sido uma sidra com rolha de plástico, mas a trajetória da bebida no Brasil é digna de celebração literária. (Foto: Divulgação)

Publicado em 10/07/2025

Quando Washinton Olivetto criou “O primeiro sutiã a gente nunca esquece!” não imaginou que essa chamada se transformaria em um bordão na nossa vida cotidiana e numa das maiores verdades da vida adolescente: nem meninas quando os usam, nem meninos quando os descartam, esquecem do primeiro sutiã.

E o que diria ele do primeiro champanhe???

É sempre um momento marcante e feliz mesmo que esquecido na manhã seguinte.

O primeiro champanhe, para muitos, nada tinha de champanhe: o guaraná champanhe, refrigerante lançado em 1921, uniu o extrato do fruto amazônico com as bolhinhas de gás carbônico que imitam o perlage da clássica bebida francesa, um clássico falso-champanhe que sobrevive até hoje.

O primeiro verdadeiro champanhe, se é que alguém se lembra dele ou de quando foi apreciado, pode não ter sido tão verdadeiro assim!

Aquela sidra sacolejante cuja rolha de plástico era lançada como um míssil e a espuma jorrava sobre as taças e os convivas que a amparavam antes que fosse ao chão, fez papel de champanhe em réveillons de muitas famílias, provavelmente o primeiro champanhe de muitos.

Desde 1915 o champanhe é produzido no Brasil pela família Peterlongo, com o mesmo processo que é produzido na França.

Foi o primeiro produzido na América com essa técnica, champenoise, e é chamado e rotulado como champanhe até hoje.

Por volta de 1950, os franceses, incomodados, moveram um processo na Corte Internacional de Genebra contra o produtor brasileiro, alegando que o nome champanhe era exclusividade dos vinhos espumantes da região de Champagne.

Perderam, pois à época em que foi criado o champanhe de Garibaldi, Champagne não produzia champanhe como uma bebida de origem controlada, uma D.O.C., região regulamentada só em 1927.

De lá para cá, o espumante brasileiro evolui a olhos vistos. Aliás, na minha modesta opinião, esse é o grande talento vitivinicultor do Brasil: vinhos marcantes e elegantes como muitos de Epernay e Reims.

Agora o champanhe é nosso, festivo como é o nosso povo euro-afro-sino-tupiniquim que vive a comemorar sem saber o que nem o porquê.

O champanhe é uma bebida feliz que nos faz sonhar e sorrir, talvez pelas cócegas que seu perlage faz nas nossas narinas, talvez pelo pilequinho gostoso ou até por nos levar às nuvens em poucas taças.

O champanhe não é bebida de fossa, de depressão ou de “dor-de-corno”: Maysa certamente não tomava uma Don Perignon quando cantava “Meu mundo caiu”, e sim um whisky cowboy.

Difícil imaginar Reginaldo Rossi com uma taça de Deutz dizendo ao garçom numa mesa de bar: “saiba que meu grande amor hoje vai se casar”... o cenário combina mais com uma cachaça vulgar.

E mesmo que não lembremos do primeiro champanhe, vamos comemorar o último, seja ele um espumante brasileiro, um Drappier ou um Luxor Brut 24k com suas lantejoulas de ouro bailando na suave perlage.

E o que dizer do espumante ladeando a boa gastronomia?

Vamos então comemorar, rir, sorrir, se emocionar e fazer um brinde ao primeiro sutiã degustando o próximo champanhe.

Tim Tim!!!!

Lancei mão desse texto que criei para o Clube do Champanhe de Florianópolis para falar do que considero o lançamento literário gastronômico do ano: Benditas Borbulhas, da escritora Roberta Malta Saldanha, lançado pela Editora Senac na Bienal do Livro do Rio de Janeiro.

Nele, Roberta descreve a trajetória do champanhe na França e do espumante no Brasil!

A mais festiva das bebidas é brindada com relatos, depoimentos, histórias curiosas e personagens admiráveis.

E como todo brinde, chefs renomados apresentam receitas harmonizadas com rótulos nacionais de todas as regiões produtoras, além de bartenders com coquetéis inusitados que têm como protagonistas as benditas borbulhas dos nossos espumantes.

Eu e muitos rótulos de Santa Catarina estamos nestas páginas borbulhantes.

Um brinde a essa bebida única festejada em um livro único!

 

 

 

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Sobre o autor

André Vasconcelos

André Vasconcelos

Cozinheiro raiz e autodidata, hoje no comando de sua Cozinha Singular Eventos e d'O Vilarejo Hospedaria e Gastronomia, onde insumos e técnicas são a base de cardápios originais e exclusivos... e aprendiz de escritor também!


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