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Arroz e feijão

(Foto: Divulgação)

Publicado em 06/12/2016

Arroz e feijão na mesa dos brasileiros é quase um mantra, É como Mickey e Pateta, Milionário e Zé Rico, Tico e Teco, Romeu e Julieta e tantas outras duplas que vivem no imaginário coletivo. Arroz e feijão: qual a origem deste prato tão popular e tão brasileiro? Sabe-se que o arroz é originário da Ásia, onde é cultivado há mais de sete mil anos. Qual então é a explicação de Cabral, em suas primeiras peregrinações por terras brasileiras, ao levar consigo a Portugal amostras de arroz consumido pelos índios?

E o que dizer do cultivo deste cereal em áreas alagadas do Amazonas como relatou Américo Vespúcio no século XV, antes da descoberta oficial do Brasil? Existem documentos que citam vastas áreas cultivadas com arroz na Bahia do século XVI... e é fato que o Brasil foi o primeiro país das Américas a cultivar o arroz! Mas como o arroz chegou aqui antes dos europeus? Quanto ao feijão, este já estava aqui, e daqui foi levado para o resto do mundo. No entanto, o ingrediente já estava presente nas mesas das pessoas muito antes do continente americano existir oficialmente muitos arqueólogos dizem que há mais de 10 mil anos.

Na Bíblia fala-se de feijão no Egito e no Império Romano. Nas ruínas de Tróia havia feijões e também há registros de cultivos de feijão desde a Grécia Antiga, onde os grãos eram usados em votações: o feijão branco era um sim, e o preto um não. No Brasil pré-colonial, os índios chamavam o feijão de “comanda”, apreciado com farinha, e os portugueses gostaram tanto da mistura que agregaram esse prato ao seu dia-a-dia, como é ainda hoje no país.

Os lusitanos que levaram o nosso feijão trouxeram os porcos e seus miúdos – focinhos, pés, orelhas e outros “restos” – que eram cozidos com as favas de feijão nos idos anos 1700, dando origem ao que chamamos hoje de feijoada. O arroz abundante e barato era servido como acompanhamento, e desde então, surgiu arroz com feijão, e a partir daí, foi tomando formas regionais Brasil afora. O arroz com feijão no Nordeste se regionalizou como o baião-de-dois: feijão de corda verde, arroz, toucinho, paio e queijo coalho, como é no Ceará.

Rubacão, que é a mesma receita enriquecida com natas, é o arroz com feijão da Paraíba. Em Alagoas é chamado de arrumadinho, e em Minas ganha sabores mais indígenas com o feijão cozido engrossado com farinha e servido com arroz e couve, o caipira tutu. Em São Paulo, o feijão tropeiro também leva farinha, além de carnes, ovos e do arroz. Acredita-se ser essa receita a “mãe” das receitas de cozidos de feijão e arroz que foi levada para o interior do país pelos bandeirantes. Isto é história!

Mas é em Goiás que o arroz com feijão tem seu nome mais peculiar: uma mistura de arroz com aparas de carne e caldo de feijão ralo: o arroz de puta pobre! Acho que na geração do politicamente correto, o nome seria arroz de mulher de vida licenciosa sem recursos ou arroz de cortesã falida, nomes bem elegantes que poderiam até fazer parte de um cardápio de bistrô. Ingredientes diferentes com nomes iguais, receitas parecidas com nomes diferentes, produtos e temperos regionais transformando o sabor da mesma mistura, enfim, tudo é arroz e feijão!

Arroz e feijão é o mais brasileiro dos pratos, e não menos nobre que os pratos emblemáticos dos países tradicionalmente gastronômicos, só não valorizado por um povo que parece ter vergonha de sua origem e cultura! Mas essa discussão não caberia em poucas linhas, talvez em uma enciclopédia. Feliz Natal, com muito arroz e feijão!talvez em uma enciclopédia. Feliz Natal, com muito arroz e feijão!