Alimentando gerações, por André Vasconcelos

Escutei em um papo jovem de academia que a geração Z, se alimenta melhor que as anteriores! A geração Y, os “millennials”, cresceu no fast food, de Mc Donalds e Burger Kings. E que a geração anterior, a geração X, tinha no seu cardápio principal produtos industrializados mais rudimentares, como ervilhas em lata e vitaminas milagrosas!
Ao chegar em casa, fui pesquisar o que era aquilo que eles estavam falando, o como essa garotada tinha essa informação. Em dois cliques e perguntas ao IA, tinha o texto que eles decoraram para justificar tomar shakes bizarros ao invés de “bater” um prato de arroz e feijão! Á tempo, descobri que sou da geração Baby Boomers… pelo menos minha geração tem um nome e não uma letra me define… mas isso é assunto para outro longo e confuso texto.
Sou de uma geração que o Biotônico Fontoura transformava anões em Hércules! Uma geração que se arrepiava ao ver a imagem do pescador com um peixe nas costas no rótulo de um vidro marrom: óleo de fígado de bacalhau... isso era de morrer!
Levando isso em consideração, tarde dessas, em uma roda de amigos observando as beldades que passavam entre goles de café em uma varanda cultuada no Jardins em Sampa, surgiu um dilema: porque essa geração de agora, próxima aos vinte anos, é tão mais perfeita e bela do que a nossa na flor da idade??? (Nota do autor: observando as beldades como uma análise, não com “comendo com os olhos” e babando como fazíamos na minha juventude… isso é politicamente incorreto nos tempos em que a internet expõe as pessoas como se estivessem em vitrines, à venda como cortes de kobe beef.)
Cabelos bonitos, corpos esculturais, pele de pêssego, rostos desenhados a pincel. Acho que Calcigenol, Biotônico e Emulsão Scott só davam saúde, e não beleza! Já um cardápio mais contemporâneo com frango de granja, danoninho, agrotóxicos e até papinhas prontas com sabores sintéticos, devem conter algum elemento embelezador!
Talvez até o Mc Donald's e a Coca Cola sejam fatores determinantes desta evolução da beleza feminina, e deixando o machismo de lado, da masculina também. Brincadeiras de “tios Sukita” à parte, a alimentação sempre foi um fator determinante na formação de todas as gerações pois, e, como afirmou o filósofo alemão Ludwig Feuervach: o homem é aquilo o que come … independente da geração que tenha nascido!
O grego Hipócrates, pai da medicina, já colocava a alimentação como fonte de todos os males, e cura dos mesmos também. Alguns historiadores dão a ele a autoria da frase de Feuervach, mas Hipócrates postulou mesmo foi o mandamento: que o alimento seja teu remédio! Transcorridos quase 2400 anos, essa filosofia é mais atual que nunca, pois as gerações batizadas com letras, pós-Biotônico e total-Danoninho, trazem um discurso que exalta a preocupação em consumir alimentos promotores da saúde: a alimentação funcional.
Não é posto em prática, mas é posto em posts do Instagram. Em 1990, a Fundation for Innovation in Medicine cunhou o termo “nutracêutico” para nominar uma nova área de pesquisas biomédicas, que nada mais é a velha receita de nossas avós: “- como todo o brócolis que faz bem!”, “- olha como o Popeye fica forte com o espinafre”, “...gemada de manhã é um santo remédio!”. Elas eram sábias pois estavam muito mais ligadas à natureza do que nós.
Mas bem antes das nossas avós, os homens das cavernas, muitas vezes só observando o comportamento dos animais, sabiam o valor dos alimentos e sua capacidade de cura. Nas tribos, os pajés conhecem o poder das plantas e os aplicam em suas pajelanças, baseadas principalmente em dietas alimentares.
Na realidade, são estes pajés e curandeiros os pais da fitoterapia, ao lado dos magos e alquimistas da idade média. Diferente da cultuada culinária molecular, que tem como principal foco modificar a estrutura dos alimentos e “desconstruí-los” apresentando-os de forma hi-tec em restaurantes da moda onde o chique é pagar caro e ficar meses esperando por uma reserva, a cozinha funcional previne, e até cura, doenças, sem que para isso a refeição tenha que ser sem graça e sem sabor como na maioria dos espaços 'ditos' naturais.
Na verdade, todo alimento natural, aquele que não foi processado industrialmente, pode ser classificado como funcional, já os nutracêuticos (nutri = nutriente + cêutico=farmacêutico), têm a capacidade comprovada de proporcionar benefícios à saúde. Mais uma vez, o homem cria e transforma mas acaba voltando as origens: os poderosos agrotóxicos, os polêmicos transgênicos, os milagrosos fertilizantes, os frutos perfeitos como pinturas, as verduras quase sintéticas, enfim, tudo que foi criado pela inteligência humana está dando cada vez mais espaço aos alimentos orgânicos, consumidos cada vez mais por humanos inteligentes.
O simples fato de substituir o vinagre de álcool pelo de maçã reduz o colesterol, melhora o metabolismo, facilita a digestão e até contribui para a manutenção de uma pele saudável. Os glucosinolatos presentes nos vegetais crucíferos, como brócolis e couve flor, comprovadamente previne o câncer, assim como as frutas cítricas. A semente do gergelim, rica em cálcio e fósforo além de proteínas, lecitina, vitaminas A, E, B1, B2... entre tantas coisas, quando torrada e transformada em óleo, confere um sabor surpreendente às mais variadas combinações.
Mas tratar os alimentos como mero “remédios” pode ser tão chato e repetitivo quanto crias espumas mirabolantes e gelecas coloridas que despertam nossos cinco sentidos como propagandeia um batalhão de chefs munidos de pozinhos milagrosos..
Para mim, o ato de se alimentar tem que dar prazer. A combinação no prato, tem que ser harmoniosa em cor, sabor, textura e perfume. E se esta alquimia de alimentos tiver um agente curativo, e por que não, embelezador, melhor ainda. Comer bem faz bem, alegra e embeleza! Bom apetite!
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Sobre o autor

André Vasconcelos
Cozinheiro raiz e autodidata, hoje no comando de sua Cozinha Singular Eventos e d'O Vilarejo Hospedaria e Gastronomia, onde insumos e técnicas são a base de cardápios originais e exclusivos... e aprendiz de escritor também!
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