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A DEMOCRACIA DOS VINHOS
Coluna de Eduardo Machado Araujo

Foto: Reprodução

Publicado em 04/11/2015

O vinho nunca esteve tão em alta na mídia brasileira. Não sei se o motivo é pelo fato de eu trabalhar no ramo e consequentemente procurar notícias, ler e falar sobre o assunto todos os dias, além, é lógico, de ser bombardeado de informações em qualquer local da internet que me meto, pois o Google, Facebook e outros sites utilizam as minhas informações de interesses pra me alimentar com conteúdo. Mas, de fato temos mais a presença do vinho nas camadas mais populares da informação. Revistas, jornais e até mesmo novelas do horário nobre abordam o tema com mais frequência e até mesmo com certo protagonismo.

Esse acesso ao tema faz com que o vinho seja mais falado, procurado e, logicamente, apreciado. Até mesmo em locais novos, aonde chego sem ser apresentado como sommelier ou proprietário de adega, o tema é bastante conversado. Nas festas em que antes só se serviam cervejinhas aguadas hoje vemos não somente cervejas melhores, mas vinho! Isso é fantástico e mostra que aquela bebida tida como celebrativa, romântica ou “de velho” como já ouvi falar, está em copos descompromissados num churrasco de final de semana ou numa festinha de aniversário onde cada um leva a sua bebida.

Vejo isso também quando estou na loja atendendo aos clientes querendo escolher um rótulo de vinho para a confraternização de quinta à noite ou o jantar da turma da academia. E, o melhor, querendo harmonizar com a pizza ou o risoto que será feito.

Essa busca pelo vinho, simplesmente o vinho, é às vezes mais interessante que a busca pelo vinho quase como um vício, a enofilia. Imagino sempre como seria se o vinho fosse tratado com respeito pelos nossos governantes, como uma cultura que dá sustento não só ao camponês, mas aos empresários que geram empregos, como uma bebida que gera cultura, conhecimento, socialização e, principalmente, relacionada a bons costumes e saúde.

Seria fantástico poder chegar numa loja ou mercado e comprar um vinho de verdade por quatro ou cinco unidades monetárias nacionais, como acontece na Europa, por exemplo. Mas, como disse na última coluna, mais um imposto na absurda cadeia tributária do vinho aumentou e nós, que geramos emprego e que geramos a cultura do vinho, somos penalizados. Ainda assim conseguimos alternativas, lógico, mas com muito trabalho e, infelizmente, penalizando o consumidor.

Há poucos dias, comentando e degustando vinhos num curso básico na Santa Adega, provamos dois vinhos nacionais que foram unanimidade para os 15 participantes que até então nutriam do velho preconceito contra os vinhos brasileiros. Ao lado de dois representantes chilenos e argentinos de preços mais altos – o Miolo Cuvée Giuseppe Merlot/Cabernet e o Villa Francioni Francesco – mostraram que podemos ter vinhos numa camada intermediária de preço (faixa de R$ 60 - R$ 70) competindo com os nossos vizinhos, ainda mais depois da desvalorização do real.  E se formos comparar com os famigerados Reservados chilenos, nossos vinhos na casa dos R$ 20 - R$ 30 não fazem feio também. Lógico que gosto pessoal não se discute. Então prove e tente não aprovar!


Sobre o autor

Eduardo Machado Araujo

Certified Sommelier - Court of Master Sommeliers


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