Relatório põe em xeque Unidades de Conservação da Capital
Documento questiona legalidade de 11 Unidades de Conservação que cobrem um terço da Ilha de Santa Catarina
A Câmara Municipal de Florianópolis reacendeu a discussão sobre o futuro das Unidades de Conservação (UCs) da capital ao aprovar um relatório preliminar que questiona a legalidade da criação de 11 áreas protegidas. Juntas, elas representam cerca de um terço da Ilha de Santa Catarina e incluem parques, refúgios de vida silvestre e monumentos naturais. O documento, elaborado pela Comissão Parlamentar Especial das Unidades de Conservação, foi aprovado em setembro e tem gerado preocupação entre ambientalistas, moradores e especialistas.
Relatório questiona legalidade e aponta falhas no processo
O parecer sustenta que, ao longo dos anos, algumas UCs foram instituídas de maneira inconstitucional, com trechos criados por decretos do Poder Executivo — o que, segundo os autores do relatório, representaria invasão de competência do Legislativo. O texto também aponta ausência de estudos técnicos e de impacto ambiental, além da falta de pareceres financeiros que avaliem possíveis custos de desapropriação.
Para o relator da comissão, vereador Claudinei Marques (Republicanos), a revisão busca corrigir irregularidades e garantir segurança jurídica. Ele propõe suspender temporariamente o status de Unidade de Conservação de três áreas — Morro do Lampião, Refúgio de Vida Silvestre Municipal Meiembipe e Parque Municipal do Manguezal do Itacorubi (Fritz Müller) — até que sejam regularizadas com participação popular. “A intenção não é extinguir as UCs, mas encontrar equilíbrio entre a preservação ambiental e os direitos das pessoas que vivem nessas regiões”, afirmou.
Vereadoras alertam para riscos de retrocesso ambiental
A proposta foi criticada por parlamentares e entidades ligadas à pauta ambiental. A vereadora Carla Ayres (PT) classificou o relatório como uma tentativa de enfraquecer as áreas protegidas, destacando o papel fundamental das UCs no abastecimento de água, na prevenção de enchentes e no enfrentamento das mudanças climáticas. Segundo ela, “enfraquecer essas unidades é abrir espaço para a especulação imobiliária sobre dunas, restingas, manguezais e morros — e isso coloca em risco o futuro da cidade”.
Também integrante da comissão, a vereadora Ingrid Sateré Mawé (PSOL) se posicionou contrária ao parecer e lembrou que a proteção de 33% do território municipal está alinhada às metas internacionais de conservação. “Estudos indicam que preservar ao menos 30% de um ecossistema é essencial para manter suas funções ecológicas”, afirmou. Ela também contestou a alegação de inconstitucionalidade, destacando que a própria legislação brasileira atribui ao Poder Executivo a competência para criar áreas protegidas.
Entidades e especialistas divergem sobre impactos
A Rede Nacional Pró-Unidades de Conservação manifestou preocupação com o relatório, apontando que ele contém interpretações jurídicas questionáveis e pode representar um retrocesso na política ambiental do município. Em contrapartida, o Sinduscon (Sindicato da Indústria da Construção Civil) considera a revisão necessária. O presidente da entidade, Carlos Leite, argumenta que muitos proprietários foram prejudicados pela criação de UCs sem o devido processo legal. “Há áreas que, sozinhas, poderiam gerar bilhões em indenizações. É preciso corrigir os erros para não comprometer o orçamento da cidade”, afirmou.
Prefeitura reforça compromisso com a preservação
O secretário municipal do Meio Ambiente, Alexandre Valtrick Rates, defende a reavaliação das UCs, mas garante que não há intenção de reduzir áreas protegidas. “Alguns imóveis podem não ter atributos que justifiquem sua inclusão, e precisamos compreender os impactos sobre essas famílias. Continuarão sendo áreas de conservação, mas com maior segurança jurídica”, explicou.
Em nota, a Prefeitura de Florianópolis declarou não ter sido oficialmente notificada sobre o relatório e reafirmou o compromisso com a proteção ambiental. “A administração municipal segue comprometida com a preservação, o uso sustentável dos recursos naturais e a defesa dos ecossistemas locais”, destacou o comunicado.
O Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) acompanha o caso e solicitou esclarecimentos aos órgãos envolvidos. Enquanto isso, o debate segue em aberto — dividindo opiniões entre quem vê na revisão uma medida de correção e quem teme que ela seja o primeiro passo para reduzir a proteção ambiental em uma das capitais mais verdes do país.
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Da redação
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