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Volta às aulas: como lidar com o medo do retorno

Foto: Reprodução

Publicado em 13/10/2020

Uma pesquisa* revelou que 70% dos pais entrevistados não querem que os filhos voltem às aulas neste ano. Contudo, alguns estados estão retomando as atividades presenciais para os Ensinos Fundamental, Médio e Superior, nas redes pública e privada, como em Santa Catarina, onde estão programadas para reiniciar esta semana em alguns municípios.

“Manter as emoções equilibradas é algo que tem sido um desafio ainda maior neste ano e não é diferente para os pais com crianças em casa e para os próprios pequenos que viram sua rotina absolutamente transformada”, observa Flora Victória, mestre em Psicologia Positiva. 

Ela comenta que não há uma decisão certa ou errada neste momento, mas chama a atenção para o outro lado, o que se passou com os estudantes nos últimos meses: a falta de convívio social que levou crianças de muitas idades a sentimentos como frustração e tristeza. “Muitos destes jovens estão contentes com a volta, mesmo que controlada, a este ambiente em que encontram sua individualidade e podem socializar com menos tutela de seus pais”, comenta a especialista.

São prismas diferentes, por um lado a carência dos jovens por uma maior socialização, por outro um sentimento muito presente para pais e professores: o medo?

Para Flora é primeiro importante legitimá-lo: “são mais de 100 bilhões de células nervosas no nosso cérebro que podem levar ao pensamento consciente ou a respostas autônomas. No caso do medo a resposta é quase que inteiramente autônoma e se refere a esse estado de apreensão por um futuro com perspectivas negativas. No caso de um perigo real ele pode ser preventivo”, explica.

Martin Seligman, criador da Psicologia Positiva já demonstrou que o medo é uma forma de condicionamento humano. Por meio de um estudo em que os participantes eram expostos a fotos de certos objetos e recebiam um choque elétrico, criava-se medo intenso ou moderado. Ao serem apresentadas imagens de aranha ou cobra, por exemplo, bastavam de dois a quatro choques para estabelecer uma fobia, porém, imagens de flores ou árvores, precisavam de muito mais choques a fim de criar um medo real.

Em outras palavras, o medo surge a partir de memórias ou conhecimentos passados que geram uma resposta instantânea, impulsiva ou racional, quando o ser humano recebe a ameaça.

Flora Victória lembra que, embora legítimo sob o aspecto de um vírus que ainda não pode ser combatido, é necessário buscar o equilíbrio para que ele, o medo, não represente um mal maior a longo prazo.

Isso porque a sensação frequente de lutar ou correr produz efeitos contrários ao bom funcionamento do organismo, comprovados por diversos estudos. “Viver sob a influência constante do medo gera malefícios imediatos no indivíduo que impactam diretamente em sua saúde. Por isso, adotar estratégias para prevenção, mas sem comprometer seu bem-estar, é o caminho que terá de ser encontrado por todos os envolvidos neste volta às aulas presenciais”, finaliza a especialista.

*Os dados são da pesquisa "As escolas brasileiras no contexto do coronavírus", feita a pedido da União pelas Escolas Particulares de Pequeno e Médio Porte, entre 22 e 29 de junho. Participaram 14.307 responsáveis por estudantes em 407 instituições de todo o país, desde a educação infantil até o ensino médio.

Da redação