00:00
21° | Nublado

Defeitos no vinho


Publicado em 09/10/2013

Amigos e clientes me perguntam, com frequência, quais os defeitos que um vinho pode apresentar e, por incrível que pareça, essa não é uma resposta simples.

Além de lidarmos com a subjetividade do gosto, resultante da diferente tolerância dos consumidores aos componentes do vinho, gerando a percepção de qualidade, podemos argumentar que essa interpretação de qualidade propriamente dita não consiste num defeito, mas numa característica que permite avaliações muito variadas.

No dia a dia vemos cada vez menos vinhos apresentando defeitos e, nos livros, as informações descritivas são de problemas antigos, antes de as vinícolas desenvolverem métodos de controle, assepsia e antioxidação mais modernos e eficientes.

Mesmo assim, alguns defeitos ainda são presentes e serão difíceis de eliminar por completo.

A oxidação é provavelmente a causa mais comum de reclamações, porque ela pode ocorrer em qualquer estágio de vida do vinho. Vedação de baixa qualidade é um dos principais motivos e os sintomas são relativamente fáceis de observar, um dos primeiros é a perda da cor característica, com os vinhos ficando opacos, puxando pras cores marrom e laranja. O aroma se torna desgastado, perdendo seu frescor e lembra notas de caramelo e mais adiante, vinagre e acetona. Na boca é marcado por um gosto azedo.

Apesar do dito popular "quanto mais velho, melhor!", o vinho tem, sim, sua vida útil e cada vez mais os vinhos são produzidos para um consumo breve e podem deteriorar com o tempo. Uma proporção muito pequena é produzida para durar décadas, evoluindo e melhorando, mas ainda assim, com um final. O vinho é cheio de preservativos naturais como álcool, acidez, taninos e outros polifenóis, além da concentração e o corpo que esse conjunto forma.

Mas, os consumidores em geral procuram vinhos mais leves, frutados e, logicamente, baratos, por isso os vinhos são produzidos com menos extração desses compostos.

Mesmo sendo ligados, oxidação e prazo de validade possuem uma diferença importante. Os vinhos que chegaram ao final de sua vida não estão necessariamente oxidados. O seu componente frutado simplesmente se foi, deixando o vinho morto, sem caráter, e isso acontece mesmo na ausência do oxigênio.

Outra falha, ainda que difícil de ser reconhecida pelo consumidor final, é o famoso bouchoné – ou cheiro de rolha. Criado no vinho a partir do TCA impregnado na rolha, causa um aroma desagradável de mofo, papelão molhado e que, em níveis muito baixos, pode ser confundido com os aromas de vinhos envelhecidos e terrosos.

Um aroma que é ainda mais interpretado de maneira diferente é o chamado Brett (Brettanomyces). Às vezes tratado como qualidade, outras como defeito, é um fenômeno microbiológico que causa um aroma de estábulo e também animal como suor de cavalo. A preferência pessoal é muito importante para identificar se o nível de brett de um vinho é qualidade ou defeito.

O cuidado da vinícola é fundamental para assegurar a ausência de defeitos até o vinho chegar a você, depois disso a armazenagem é essencial e pode evitar diversos outros problemas. Procure sempre uma adega climatizada, longe da luz direta e de vibrações e lembre-se que todo vinho tem sua “data de validade”.

 


Sobre o autor

Eduardo Machado Araujo

Certified Sommelier - Court of Master Sommeliers


Ver outros artigos escritos?