BEBIDAS - 1ª QUINZENA DE JULHO
Experiências sensoriais
Eu gosto de vinhos versáteis, aqueles que vão bem sozinhos, num bate papo, mas também agradam e até melhoram quando casados com um bom prato. Quem lê ou fala sobre vinhos deve se deparar frequentemente com o termo “vinho gastronômico”. Mas afinal, que tipo de vinho é esse?
Bom, antes de tudo, a harmonização é um tema quase que perpétuo nas rodas de vinho, é uma constante atender clientes e amigos que querem comprar ou abrir um vinho de acordo com o que vão servir, e as escolhas podem variar muito. Mas uma coisa que os vinhos que casam bem e melhoram com a presença da comida têm em comum é que eles são bem versáteis. É claro que temos vinhos cheios de caráter e expressão, que são harmonizações clássicas com pratos refinados, mas temos que nos dar conta que na maioria das vezes o que temos é o corriqueiro e mais simples.
Nesta filosofia, muitos vinhos que têm por características atributos que poderíamos classificar como médios nos levam a uma segurança na hora de harmonizar. Álcool, corpo e madeira são atributos que não queremos em exagero, mas uma coisa que o vinho gastronômico precisa ter destacado é uma boa acidez e, dependendo do caso, um tanino um pouco fora desse equilíbrio. Esse tanino seria amaciado com a presença da comida. Bom, é um ponto de vista, mas ainda acho que um bom vinho é bom sozinho e melhora com o prato.
A acidez é fundamental para nos dar, literalmente, água na boca e assim limpar nosso palato e contribuir com a contraposição da gordura, o equilíbrio com a acidez do prato, a diminuição do sal, e, quando temos um sabor picante, ajuda a suavizar a sensação de calor causada. Percebo que um dos motivos que curto bastante os vinhos brancos, vinhos da metade norte da Itália, vinhos nacionais e a uva Pinot Noir, pra citar alguns exemplos, é justamente esse toque acima da curva de acidez.
Falando nisso, não podemos nos esquecer do vinho espumante, que possui tudo isso e ainda por cima o gás carbônico para contribuir com a bela acidez. Um verdadeiro coringa!
Algumas dicas de harmonização podem ser seguidas, por exemplo, um risoto de camarões com um Chardonnay encorpado como o Villa Francioni, ou um bom espumante como o Dunamis Champenoise. Um prato de carne vermelha com cogumelos pede um Pinot Noir da Borgonha, pela sua acidez e um equilíbrio entre notas terrosas e frutas vermelhas. Se quiser preparar um tradicional fondue de queijo, tente um branco inusitado com um Riesling alemão de um bom produtor, como Dr. Loosen. Já o tradicional e marcante ossobuco casa perfeitamente com um rico Barolo di Serralunga Giovanni Rosso, onde a uva Nebbiolo com taninos marcantes e acidez viva ajuda a limpar a gordura e o colágeno do corte.
Tente de tudo! A boa notícia é que o exercício de harmonização nos traz diversas experiências sensoriais fantásticas que ficam ainda melhores com uma mesa farta. Saúde!
Sobre o autor
Eduardo Machado Araujo
Certified Sommelier - Court of Master Sommeliers
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