Sesta e Cesta: a cor e a palavra na conduta dos artistas, por Luzia Almeida

“A Siesta” é um óleo sobre tela de Vincent Van Gogh, pintado entre dezembro de 1889 e janeiro de 1890 enquanto estava internado num hospital de doentes mentais numa cidade francesa de Saint-Rémy-de-Provence. O tema da obra faz a representação do repouso de um casal simples (trabalhadores) num amarelo benéfico. Um quadro de simplicidade que nos concede lembranças de uma arcádia querida e desejada neste século XXI cheio de tantas crises e mudanças climáticas.
A crônica “A cesta” de Paulo Mendes Campos tem a representação imaculada de um caráter que não se vende por litros de bebidas importadas. O personagem (o marido) não vacila diante da honestidade que o observa além das garrafas importadas.
A Arte e a Literatura não confundem nossas ideias, pelo contrário, quem conhece o quadro de Van Gogh entende o que é repouso sem conceito, apenas com as impressões do amarelo na dinâmica do repouso, na simplicidade dos gestos e na harmonia das expressões dos camponeses deitados após a refeição. No que se refere à Literatura, a crônica de Paulo Mendes Campos nos instrui a partir da conduta do personagem: ele não aceitou um presente que não lhe pertencia: “Quando a cesta chegou, o dono não estava. Embevecida, a mulher recebeu o presente. Procurou logo o cartão, leu a dedicatória destinada ao marido, uma frase ao mesmo tempo amável e respeitosa”. A chegada da cesta foi uma alegria para a mulher, mas quando o marido chega do trabalho, descobre que a cesta não é pra ele, é para outra pessoa que tem o mesmo nome: entregaram no endereço errado. Mas devolver um presente assim tão caro não é fácil: “Garrafas de uísque escocês, champanha francês, conhaque, vinhos europeus, patê, licores, caviar, salmão, champignon, uma lata de caranguejos japoneses... Tudo do melhor.”. Para a mulher era difícil ou quase impossível devolver a cesta para o dono verdadeiro. O marido, pelo contrário, não encontrou dificuldade alguma para devolvê-la: “
“A Siesta” de Van Gogh nos concede um deleite aos olhos e uma alegria indizível ao saber desta capacidade criativa, deste talento impregnado de vida que encontramos no amarelo do pintor holandês. “A Siesta” nos convida à reflexão a partir de um repouso proposto numa tela que investiga a condição humana considerando trabalho e repouso. A vida num encanto de simplicidade.
“A cesta” de Paulo Mendes Campos nos encanta por sua proposta de idoneidade a partir do bom caráter do personagem que não se deixa vencer pelos apelos da mulher: “Pense um pouco mais, meu bem.”. Ele não pensou, não se deixou seduzir pela voz meiga da mulher que inutilmente tentava seduzi-lo a ficar com a cesta que não lhe pertencia: “Era um homem de bem. Pegou o catálogo, procurou o telefone do homônimo banqueiro, falou diretamente com ele depois de alguma demora: não é muito fácil um desconhecido falar a um banqueiro”.
Na crônica de Paulo Mendes Campos temos uma visão didática. É antes de tudo um ensinamento de vida, de moral, de bons costumes e de liberdade. É um deleite para o coração ler uma crônica dessas num tempo de ruína moral. O tema da honestidade visto nesta crônica faz lembrar as palavras de Willian S. Corrêa “Honestidade não deixa ninguém rico, mas deixa livre”. É dessa liberdade de que o Brasil precisa.
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Sobre o autor

Luzia Almeida
Luzia Almeida é professora, escritora e mestra em Comunicação
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