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“O Ateneu” e a nova escola, por Luzia Almeida
Nesta crônica, a colunista aborda o que ainda podemos avançar na educação

Do lúdico ao conhecimento: a educação é formada por um tripé fundamental que precisa do apoio do Estado (Foto: Pixabay)

Publicado em 20/09/2025

“Vais encontrar o mundo, disse-me meu pai, à porta do Ateneu. Coragem para a luta”. Essas palavras do pai do personagem Sérgio estavam tão desprotegidas de verdade quanto o menino de 11 anos que acabara de entrar num antro: “Nada de protetor, dissera o Rebelo. Era o ermo. E, na solidão, [...], as adversidades de toda espécie, falsidade traiçoeira dos afetos, perseguição da malevolência, espionagem da vigilância; por cima de tudo, céu de trovões sobre os desatentos”. Eis o perfil do Ateneu, mas não foi este tipo de escola que eu sonhei para o Brasil.

 O romance “O Ateneu” de Raul Pompéia, publicado em 1888, tem as marcas da escola que fracassou. E porque fracassou? Porque o sistema era perverso. E como este é um romance de tese que ampara o Naturalismo, temos um menino que vai lidar com toda sorte de intriga, de hipocrisia e de maldade, tornando-se, assim, também mau. O meio o contamina e o corrompe. De acordo com Hippolyte Taine, o determinismo social é responsável pela mudança de conduta do personagem Sérgio.

Nesse sentido, verifica-se que o personagem: “No recreio andava só e calado como um monge. Depois do Sanches não me aproximava mais de nenhum colega, senão incidentemente, por palavras indispensáveis. Rebelo tentou atrair-me; eu desviava. Sanches, rancoroso, perseguia-me como um demônio. Dizia coisas imundas”, mas a escola não pode subsistir com alunos assim, nem há formação acadêmica para lidar com perfis dessa natureza. A escola não pode admitir alunos andando sozinhos e calados como se fossem monges, nem perseguindo os colegas como se fossem demônios. A nova escola que sempre sonhei não dialoga com a solidão e não abraça a perversidade: ela está baseada no respeito.

O respeito ressignificado que vai além do dicionário: aprender a respeitar os outros deve ser uma ideia cultivada, uma prática, uma ordem, uma doutrina. A nova escola que tem como base o respeito não pode sucumbir. Não há esperança fora da ordem e o respeito é um tipo de amor que anula as perversidades, as intrigas e as “espertezas”.

O Brasil já usou vários modelos educacionais e ainda está aquém das expectativas, o PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) é uma prova disso. E, embora seja um gigante, permanece dormindo nas linhas da pirâmide: deve ser porque a educação está ligada às classes sociais. É preciso apagar essas linhas, é preciso levar a sério o salário dos profissionais da educação. A CNDB (Carteira Nacional do Docente do Brasil) é um paliativo diante da urgência desta valorização, a educação brasileira jamais será alavancada com paliativos.

A educação brasileira não pode ser um divisor de classes, não pode negar o diálogo, não pode admitir uma nota apenas para efeito de aprovação ou de reprovação. O conhecimento como um bem a ser adquirido deve estar acima do zero e do dez. Os alunos precisam aprender que o conhecimento é como água: se faz necessário ao longo da vida.

A nova escola que sonhei para o Brasil ensina o real sentido da vida, não tem um sistema perverso, pelo contrário, tem professor com salário digno, sala climatizada, merenda e biblioteca para todos.

 

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Sobre o autor

Luzia Almeida

Luzia Almeida é professora, escritora e mestra em Comunicação


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