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Nos braços de Calderano, por Luzia Almeida
A trajetória do brasileiro em Macao lembra uma verdadeira epopeia mitológica — com suor, estratégia e alma

Hugo Calderano venceu os principais nomes do tênis de mesa mundial e conquistou a Copa do Mundo em Macao, China — um feito inédito que coloca o Brasil no topo da modalidade. (Foto: Luzia Almeida)

Publicado em 25/04/2025

O que move um guerreiro? Há coisas na vida que não tem explicação: não adianta bater cabeça que ninguém vai entender.

Há coisas na vida que precisam ser ligadas às áreas do conhecimento: Literatura, Filosofia, Química, Física para que o cérebro entenda e descanse... foi então que pensei em Hércules e nos seus doze trabalhos: matar o leão de Nemeia, matar a hidra de Lerna, capturar a corça de Cerineia, capturar o javali de Erimanto, limpar os estábulos de Aúgias, matar as aves do lago Estínfalo, matar o touro de Creta, capturar os cavalos de Diomedes, roubar o cinturão de Hipólita, capturar o gado de Gerião, capturar os pomos de ouro do Jardim de Hespérides e capturar Cérbero; tudo fichinha quando Calderano matou a jogada do nº 1 do mundo para assumir o posto de campeão na China. Venceu! E eram tantas as emoções de orgulho. Emoção de orgulho patriótico. O Brasil representado na China por um superatleta chamado Hugo Calderano. Só agora entendi o significado da palavra superatleta. E ainda estou processando outras palavras como estratégia e ousadia. Palavras estas que se perderam do dicionário encantadas com as jogadas de Calderano.

Qual era a possibilidade do brasileiro ganhar a Copa do Mundo de Tenis de Mesa 2025 em Macao, na China? Era a mesma possibilidade da menina (personagem do conto “Felicidade clandestina de Clarice Lispector) emprestar o livro “As reinações de Narizinho” para a colega da escola. Havia uma possibilidade, mas penso que os chineses não acreditavam porque estavam convictos de seus jogadores nº 3, nº 2 e nº 1 do mundo. Elementar, meu caro Watson! Na dança dos números, ele era o nº. 5. Ele teria que impor não apenas seu talento, mas também sua coragem diante de um quadro totalmente vermelho, mas foi o amarelo que se fez pódio no ponto mais alto para arrancar o hino de Calderano das entranhas de um mar vermelho e foi maravilhoso quando “Ouviram do Ipiranga as margens plácidas”.

A conjugação do verbo ouvir perdeu-se com as outras palavras. E para onde elas teriam ido? Não sei. Sei apenas que a conquista de um mundial de tênis de mesa por um brasileiro foi uma maresia no meu dicionário tão comportadinho. Mas essa paixão era necessária. Essa surpresa tem tanto a nos ensinar!... Uma coisa por exemplo: determinação. Não se pode ver o fogo ardendo dentro de um peito e, quanto mais fogo, mais possibilidades de vitória. Então vamos resolver essa equação: além de talento, técnica, competência, habilidade além de tudo Calderano tinha sede — acrescentei um sinônimo para fogo —, mas não dava para ver, apenas poderíamos supor. E ardia com tanta intensidade por conta das adversidades. E ele, com a espada, foi abrindo caminho até chegar bem perto da taça. Ela era como uma esposa fiel que o aguardava na sua agonia de “leitora apaixonada”. E, na última batalha, o último pretendente foi vencido para que ele a tomasse nos braços. Na mitologia grega, Ulisses retorna para os braços de Penélope depois de vinte anos de batalhas: para Hugo Calderano, Penélope era a taça que nos braços dele pode descansar dos olhares de seus pretendentes porque somente ele sabia aplicar o backhand. Temos então uma “Odisseia” brasileira.

A Literatura, a Filosofia, a Química e a Física não podem supor o tamanho da luta travada na mesa... E a definição de guerreiro acabou de escapar do dicionário.

 

 

 

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Sobre o autor

Luzia Almeida

Luzia Almeida é professora, escritora e mestra em Comunicação


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