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Não falarei de guerras, por Luzia Almeida
Quando o mundo adoece, é preciso reaprender a sentir

Não falarei de guerras, por Luzia Almeida
Uma provocação poética para resgatar a essência humana diante de tempos sombrios. (Foto: Pixabay)

Publicado em 27/06/2025

    Não falarei de guerras nem de suas consequências. Não falarei de fome ou de miséria porque Bandeira já fez isso: “O bicho, meu Deus, era um homem”. Sim, um bicho capaz de matar seu semelhante, capaz de levá-lo ao lixo. Não falarei do que há de mais terrível no coração humano. Não falarei de sangue, nem de corpos dilacerados. Não falarei em vulcões, ou em viroses que assolam o planeta. Há muitos vírus desconhecidos e minha fala seria inútil. Não há máscaras para todos e é desconcertante essa luta vã. A resiliência é a grande virtude da atualidade e a compaixão anula os intentos da guerra, da fome e da miséria.

    Compaixão é um tipo de vacina rara, não tem reações adversas. A compaixão é a grande necessidade de nosso tempo: esse tempo sombrio e carente que foge de tudo o que é racional. Ela é necessária para driblar o tempo de Drummond: “Tempo em que não se diz mais: meu amor / Porque o amor resultou inútil”. Não! É preciso salvar o tempo de Drummond. É preciso dizer “não” aos ditadores das guerras. De todas as guerras e explorações humanas; de todos as agressões e falas mascaradas com teias de aranha. Há aranhas gigantescas, quem poderá pisá-las?

    A compaixão é um tipo de amor sem interesse sexual. Um amor com jeito de empatia. Eu disse empatia? Eis a palavra perfeita!... assim como é perfeito o amanhecer. Precisamos acordar o sonho da ternura e trocar as lentes dos óculos. Chega de miopia! Chega de embriaguez! A compaixão é um tipo de exercício que ajusta a postura humana como um pilates do caráter. É preciso conhecer a compaixão por dentro e esconder as sombras e libertar o sol.

    Não quero falar no que há de mais sórdido no coração humano... no que há de mais impuro. Quero falar sobre algo ameno e cheio de energia. Algo para que se estabeleça um acordo entre os homens: um acordo de paz, mas sem viés político. Um acordo desinteressado e guiado pela beleza do amor ao próximo. Um acordo leve como os passarinhos e que lembre a simplicidade de Alberto Caeiro: “O meu olhar é nítido como um girassol. / Tenho o costume de andar pelas estradas / Olhando para a direita e para a esquerda, / E de vez em quando olhando para trás... / E o que vejo a cada momento / É aquilo que nunca antes eu tinha visto, / E eu sei dar por isso muito bem... / Sei ter o pasmo essencial / Que tem uma criança se, ao nascer, / Reparasse que nascera deveras... / Sinto-me nascido a cada momento / Para a eterna novidade do Mundo...”

    Todavia o mundo gira e as pessoas ficam tontas, esquecidas de nascer.   

 

 

 

 

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Sobre o autor

Luzia Almeida

Luzia Almeida

Luzia Almeida é professora, escritora e mestra em Comunicação


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