Missão oficial de Maryanne vira lição de resiliência
Vice-prefeita de Florianópolis vivencia momentos de tensão em Israel e destaca aprendizados que podem ser aplicados na capital catarinense

Durante missão institucional em Israel, a vice-prefeita de Florianópolis, Maryanne Mattos (PL), vivenciou uma experiência inesperada: alertas de ataque durante a madrugada e a necessidade de se abrigar em um bunker. Mesmo diante do clima de tensão, a comitiva manteve sua agenda adaptada e pôde conhecer iniciativas voltadas à gestão pública, segurança, tecnologia e juventude. Em entrevista ao Imagem da Ilha, Maryanne compartilha impressões sobre o contexto vivido, os aprendizados adquiridos e como essa experiência pode influenciar políticas públicas em Florianópolis.
Bunker em que a vice-prefeita Maryanne está.
Imagem da Ilha: Como foi para a senhora viver a experiência de acordar de madrugada com alertas de ataque e precisar ir a um bunker? A comitiva conseguiu manter a tranquilidade diante dessa situação ou houve momentos de tensão entre os integrantes?
Maryanne Mattos: Desde o primeiro dia que nós chegamos aqui, a primeira orientação deles foi nos ensinar como procurar um bunker, como procurar um lugar seguro caso tocasse a sirene, porque isso é algo que acontece rotineiramente aqui para a população no país, para o povo de Israel. Então, a primeira preocupação deles é que a gente saiba fazer isso também para ter a nossa segurança. Nos três primeiros dias ali foi tudo tranquilo e na terceira madrugada tocou o alarme, ele toca no celular das pessoas. Então se a pessoa não escuta, ele começa a aumentar o volume. Daí eu acordei, já vi a movimentação do pessoal andando no corredor, mas todo mundo caminhando, todo mundo tranquilo, porque eles falaram: "Tem tempo, tem tempo". Por exemplo, começou a tocar o alarme, tem tempo de ir ao banheiro, pegar suas coisas, pegar uma água e ir para o bunker. O que é que eles orientam a levar para o bunker? O documento, uma garrafinha de água e se quiser uma bolachinha, uma comida, alguma coisa, mas principalmente água e documento.
Imagem da Ilha: Mesmo com o susto, a senhora mencionou que a agenda foi mantida normalmente. Como está sendo conciliar o foco institucional com esse contexto de alerta e tensão?
Maryanne Mattos: Então, a partir do momento que tiveram os primeiros ataques, eles cancelaram as agendas externas. Nós estávamos visitando as prefeituras, visitando os escritórios de gestão do município, as secretarias, principalmente de segurança pública, de monitoramento e aí o que foi cancelado foram as visitas externas porque o governo de Israel orientou a não ficar andando de carro, não ficar fazendo esse tipo de transporte via terrestre. Eles programaram as aulas todas aqui no instituto onde nós estamos, aqui tem sala de aula, tem refeitório, cada um tem a sua suíte, tem os alojamentos, né? E aqui também tem o bunker. Então nesse espaço aqui a gente passou a ter as aulas, a fazer todas as nossas refeições e quando precisou ir para o bunker, na hora que teve o alarme, a gente também descia, ficava no bunker o período necessário, que é informado isso também no aplicativo. E também na hora que não precisa mais ficar no bunker, eles avisam: "Ó, você pode sair, agora já está seguro". E aí a gente sai, volta para o quarto, volta para aula e vai tocando as atividades normais aqui nesse espaço.
Comitiva brasileira adaptou a agenda e seguiu conhecendo boas práticas de gestão que podem influenciar ações no Brasil.
Imagem da Ilha: Sua presença em Israel acontece em um momento particularmente sensível da geopolítica local. Qual foi o objetivo principal dessa missão oficial?
Maryanne Mattos: Neste mês em Israel, como já teve também no ano passado, acontece a Muni Expo, uma feira internacional para municípios. Então, o que que Israel fez? Já teve ano passado essa feira e aí ele convidou também prefeitos de capitais do Brasil e também da Argentina, do Paraguai, da Colômbia, convidou, né, esses gestores municipais para virem aqui conhecer o que tem de novidade na área de gestão de município, de inteligência, de tecnologia e trocar experiência também. A gente veio com uma agenda intensa de visitar várias prefeituras, várias áreas de gestão e também a feira que seria essa semana. Então, a feira foi suspensa, né? As atividades continuaram aqui no instituto, mas essa feira, infelizmente, provavelmente eles vão manter a feira daqui a três meses, enfim, daí a gente não vai mais poder vir nessa feira, mas era esse objetivo. Isso já aconteceu no ano passado. Como essa rotina deles é “normal”, de vez em quando ter um ataque, ter alguma coisa, fora isso, eles mantém as agendas normais também da cidade, das escolas, dos serviços públicos, do comércio, porque para eles isso é normal. Se eles pararem tudo e não voltarem ao normal, aí mesmo que o povo vai ficar doente, né? Então eles falam, eles trabalham muito com a resiliência e com o retorno rápido para a rotina.
Imagem da Ilha: Diante do cenário atual, a senhora acredita que essa experiência poderá trazer algum aprendizado ou reflexão importante para sua atuação em Florianópolis?
Maryanne Mattos: Bom, eu mesmo tendo essa essa quebra das visitas, a gente pode ver projetos incríveis aqui que eu quero sim poder testar em Florianópolis. Fazer projetos pilotos trazendo a inspiração deles aqui, como a questão do trabalho com jovens no contraturno, os jovens vindo para um serviço voluntário, entendendo a importância de ajudar uma criança, de ajudar um idoso, de ajudar o município, para ele também ser responsável. Eles tem vários projetos que trabalham com os jovens. O jovem aqui, duas, três vezes por semana, faz um trabalho voluntário. Nos outros dias, ele tem atividades em locais apropriados, que é um um centro comunitário da juventude, digamos assim, que eles se encontram lá e fazem outras atividades também e aprendem outras coisas além do que eles aprendem nas escolas. A escola aqui, ela funciona sempre no período da manhã e aí à tarde tem esses projetos. Daí tem o contraturno da criança, tem o contra turno dos jovens e assim eles vão mostrando a importância desde criança de cuidar da cidade, participar da vida da cidade. Isso é muito interessante e realmente aqui as crianças, os jovens, eles têm um sentimento de pertencimento, de cuidado com o que é público, com o que é da cidade porque é seu. E aos 18 anos os jovens sempre vão para o exército, tanto as meninas como os meninos e eles vão com orgulho, eles esperam esse momento de uma forma muito feliz porque eles têm orgulho de poder prestar esse serviço também de proteção do seu povo do seu país. É um sentimento diferente. Outro aprendizado que eu vou tirar muito daqui, além de tudo que a gente viu de tecnologia, de reuso da água, da questão da iluminação, a questão de gestão de crise. Esses comunicados em tempo real que eles vão colocando, informando a população o que está acontecendo, isso é muito importante e é muito semelhante com o que a gente faz na defesa civil em Santa Catarina.
Mas outra questão que eles têm muito cuidado também é a resiliência, de sempre que tiver uma crise, aqui no caso deles é a questão da guerra, né? No nosso caso, por exemplo, a questão de um alagamento, de um vento forte... a gente viu o que aconteceu no Rio Grande do Sul, e Florianópolis já passou por situações assim também, o nosso estado de Santa Catarina... E é você prontamente já começar a reconstruir. Isso eu vejo que no governo do prefeito Topázio e do governador Jorginho Mello, eles fazem isso quando acontecem esses desastres naturais. Assim que melhora a situação, eles já estão com máquinas na rua, com a equipes trabalhando para voltar a normalidade o quanto antes. Mesmo vivendo uma situação adversa, a vida segue. As pessoas precisam viver, as pessoas precisam produzir, as pessoas precisam se divertir, as pessoas precisam ter esse sentimento. Aqui eles têm um trabalho muito forte de psicologia para trabalhar o emocional das pessoas, de adultos, jovens, crianças, para que mesmo entendendo a gravidade da situação, se não cuidar da sua vida aqui, de quem está aqui, também vai ficar uma situação grave de uma depressão. E eles falam: "O nosso povo não pode ficar doente, porque o nosso povo é muito bom", então eles colocam isso muito claro e todos os governantes que a gente conheceu, a gente visitou três prefeituras, todos eles têm esse cuidado com as pessoas da cidade. E aí as pessoas também participam da gestão como voluntários, isso é muito interessante, para mim foi um aprendizado que eu vou levar, com certeza. Isso é algo cultural também. Isso faz com tempo, mas eu acho que se a gente começar a plantar uma sementinha, daqui a pouco começa a dar frutos.
Grupo de lideranças jovens. Participam de projetos no contraturno escolar.
Da redação
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