Uma Bela Vida, por Karin Verzbickas

As salas lotadas desde a estreia de A Bela Vida há duas semanas refletem a aprovação do público para a bonita obra do diretor franco-greco Costa-Gavras Fato que está levando o filme a permanecer em alta e em cartaz por pelo menos mais dez dias no circuito nacional. Aqui em Florianópolis, pra quem ainda não viu, a oportunidade está só no Paradigma Cine Arte.
Mas do que Costa-Gavras fala afinal neste seu último trabalho? Fala de morte. Ou melhor, corrigindo, fala da vida. E da forma como todas as vidas invariavelmente findarão um dia. Dessa questão imponderável, dessa certeza única e infalível que é onde também reside um dos maiores tabus e fugas da humanidade.
Uma Bela Vida mostra que é possível tratar do tema de forma leve, profunda, emocionante e verdadeira, sem cair em clichês ou tentar vender um paraíso ou reencarnação como prêmio de consolação final. O filme de Costa-Gavras é realista e impregnado de sentimento e de significados sobre vida e morte.
A trama é um diálogo filosófico – interessante e por vezes bem-humorado – entre um médico especializado em tratamentos paliativos Augustin Masset (Kad Merad) e um renomado escritor e filósofo Fabrice Toussaint (Denis Podalydés). Os dois examinam a vida e a morte através das histórias de diferentes pacientes com doenças terminais, como uma rica socialite parisiense, uma mãe com o último desejo de comer ostras e tomar um vinho Breizh’Cadet à beira do mar, uma líder de uma comunidade cigana e uma matriarca que prefere que sua morte assistida seja mantida em segredo.
Cada personagem é um universo inteiro de emoções, medos e interesses que irão guiar Toussaint no confronto com suas próprias ansiedades. Masset é quem conduz o artista nesses inúmeros encontros que colocam em perspectiva também os sentimentos de imortalidade da juventude e a motivação para continuar lutando e vivendo apesar dos obstáculos.
O filme é baseado no livro Le Dernier Souffle, inédito no Brasil e escrito pelo jornalista Régis Debray e o médico Claude Grange. O elenco do filme conta ainda com um ótimo grupo de atrizes que interpretam personagens centrais nos episódios relembrados pelo médico: a inglesa Charlotte Rampling, a palestina Hiam Abbass, a espanhola Ángela Molina e a francesa Karin Viard. O longa estreou no último Festival de San Sebastián e contou com exibições no Festival do Rio.
Presidente da prestigiada Cinemateca Francesa desde 2007, Costa-Gavras tem uma extensa e invejável filmografia que inclui títulos prestigiados e premiados, reconhecidos pela contundência de suas denúncias políticas e sociais, como Z (1969) ⎯ vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro e de montagem, além do Prêmio do Júri no Festival de Cannes ⎯, Desaparecido: Um Grande Mistério (1982), Oscar de melhor roteiro e Palma de Ouro em Cannes, Muito Mais que um Crime (1989), Urso de Ouro no Festival de Berlim, e Amém (2002), prêmio César de melhor roteiro.
Uma curiosidade: o greco Costa-Gavras tem hoje 92 anos e ele chegou a dizer durante as filmagens que esse trabalho era uma espécie de “testamento cinematográfico” onde ele próprio estava refletindo sobre as questões de vida e morte. Se é realmente sua última obra, ninguém sabe, mas se for pode-se dizer que ele fechou a filmografia em alto nível.
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Sobre o autor

Karin Verzbickas
Jornalista conhecida por suas resenhas de filmes no Jornal Imagem da Ilha
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