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O Brasil pode multiplicar o que já tem: turismo, cultura e criatividade, por Vinícius Lummertz

O Brasil pode multiplicar o que já tem: turismo, cultura e criatividade, por Vinícius Lummertz
Vinícius Lummertz propõe uma nova visão para o turismo brasileiro, baseada em políticas de longo prazo e integração com a cultura. (Charge: Ed Carlos)

Publicado em 22/10/2025

Volto ao tema: o Brasil precisa tomar uma decisão política definitiva sobre o papel do turismo no desenvolvimento nacional, reconhecendo o setor como componente central da redenção econômica do país, se é que queremos isso. Segundo o WTTC, o turismo será o maior empregador do planeta até 2035, respondendo por um quarto dos novos empregos. O turismo de natureza será o segmento que mais crescerá na próxima década, e o turismo cultural já representa cerca de 40% da atividade mundial. O Brasil lidera em potencial de natureza e está entre os dez maiores potenciais culturais do planeta, mas ainda carece de compreensão estratégica sobre esse sistema econômico amplo e interligado.

O turismo é também uma das mais poderosas engrenagens de geração de empregos do século XXI. Mesmo diante disso, o setor não aparece de forma explícita no PAC e segue com crédito público reduzido, enquanto o agronegócio dispõe de montante muito superior. Falta transformar vocação em política de Estado, contínua e integrada, com promoção permanente, orçamento sólido e planejamento de longo prazo que garantam posicionamento internacional consistente.

O Brasil já é uma potência de grandes eventos. O Carnaval, o São João e as festas juninas do Nordeste, a Oktoberfest de Blumenau, o Rock in Rio, o The Town, os Réveillons no Rio de Janeiro, em Florianópolis e Balneário Camboriú, além dos grandes shows internacionais realizados no país, de Paul McCartney a Coldplay, Madonna e Taylor Swift, formam um ecossistema criativo vibrante. O que falta é conectividade aérea competitiva, infraestrutura moderna e desburocratização dos investimentos que dão suporte ao turismo com muito mais promoção permanente.

O país pode tratar a infraestrutura turística como bem de utilidade pública. Resorts, marinas, parques temáticos e centros de convenções devem ser entendidos como investimentos estratégicos de interesse nacional, com prioridade em licenciamento e garantias de sustentabilidade ambiental e social. No mundo, essa visão está consolidada em legislações de distritos turísticos, que integram turismo, urbanismo e meio ambiente em um mesmo marco regulatório. O Estado de São Paulo já adotou modelo semelhante, e o país deveria ampliá-lo como política federal, garantindo segurança jurídica e atração de investimentos.

A China é um exemplo claro do que o Brasil ainda não fez. O país interliga regiões culturais e naturais com trens de alta velocidade, parques temáticos, infraestrutura hoteleira e roteiros de natureza. Cidades como Lijiang, Wuhan e Jingdezhen receberam investimentos maciços em cultura, tecnologia e meio ambiente, descentralizando o desenvolvimento e criando milhões de empregos regionais. Enquanto isso, o Brasil tem mais de 70 parques nacionais, mas menos visitantes por ano do que os parques da Nova Zelândia. Falta infraestrutura, acesso, hospedagem e um modelo de concessão que atraia o setor privado com regras claras. O turismo ambiental e de natureza, que mais cresce no mundo, ainda é subaproveitado no país com a maior biodiversidade do planeta.

A Espanha transformou séries em vitrines regionais, a Coreia do Sul fez do audiovisual instrumento de diplomacia cultural e a Turquia exportou suas novelas junto com seu turismo. O Brasil, que já encantou o mundo com suas telenovelas, precisa recuperar presença nas plataformas globais e integrar imagem, cultura e turismo em uma política contínua. Nos Emirados Árabes, na Arábia Saudita e no Qatar, o turismo é o eixo da chamada economia do visitante, que une infraestrutura, urbanismo e diplomacia econômica. A China, a Turquia e o México já compreenderam que o turismo cultural e o de natureza são motores da nova economia global. O Brasil, com sua diversidade e potencial, ainda não tomou a decisão política definitiva de transformar o turismo e a economia criativa em políticas de Estado.

O atraso brasileiro é, antes de tudo, um atraso de percepção. O país reconhece o valor do turismo, mas não o trata como prioridade nacional. O turismo e a economia criativa unem cultura, natureza, tecnologia e trabalho e são as infraestruturas do futuro. O Brasil já tem o essencial: natureza, cultura, talento e alegria. Falta apenas unir e multiplicar o que já tem, com menos burocracia, mais promoção e visão de longo prazo. O ponto de virada será o momento em que o país compreender que o turismo é mais do que lazer: é um bem público e uma das chaves da sua própria redenção econômica.

Vinícius Lummertz foi ministro do Turismo, secretário de Turismo de São Paulo, presidente da Embratur e é Senior Fellow do Milken Institute (EUA).

 

 

 

 

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Sobre o autor

Vinicius Lummertz

Vinicius Lummertz

Ex-Ministro do Turismo, ex-Secretário de Turismo e Viagens do Estado de São Paulo, ex-Secretário de Articulação Internacional de Santa Catarina


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