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O Brasil já é o dobro do seu tamanho, por Vinicius Lummertz

O Brasil já é o dobro do seu tamanho, por Vinicius Lummertz
O Brasil já aparece como a 7ª maior economia mundial em paridade de poder de compra, mas segue distante de converter esse peso estatístico em prosperidade para sua população. (Charge: Ed Carlos)

Publicado em 26/08/2025

O Brasil é maior do que imagina, mas ainda muito menor do que poderia ser. Pelo PIB nominal, ocupa a 10ª posição mundial, com cerca de US$ 2,3 trilhões. Em termos per capita, no entanto, cai para a 70ª, com apenas US$ 13 mil por habitante e uma das piores distribuições de renda do planeta. Mas quando se mede pela paridade de poder de compra, PPC, o retrato se transforma. O país alcança cerca de US$ 4,2 trilhões e salta para a 7ª posição global, logo abaixo da Alemanha e atrás apenas de China, Estados Unidos, Índia, Rússia e Japão. É como se, em termos reais, fosse duas vezes maior do que aparenta pelo câmbio.

Esse contraste se reflete no cotidiano. O brasileiro médio ainda consegue almoçar carne, arroz, feijão e legumes, com preços razoáveis. Frutas tropicais abundantes e baratas completam uma dieta que, no hemisfério norte, é artigo de luxo. O mesmo ocorre com os serviços. Serviços domésticos, pequenos consertos e serviços em geral estão ao alcance de grande parte da população porque os salários são mais baixos e a economia é fortemente informal, longe dos quase 40 porcento de impostos que os governos cobram em impostos e longe dos altos juros ao consumidor. Já na Europa ou nos Estados Unidos, esses serviços são de elite. Nesse sentido, pelo custo de vida, o Brasil parece maior.

Mas a ilusão se desfaz quando o consumo depende de bens industrializados. Automóveis, celulares e eletrodomésticos custam muito mais aqui do que no exterior. Um iPhone pode ser 40% mais caro. Um carro popular no Brasil equivale a veículos de padrão superior em outros países. E uma televisão comprada a prazo custa o preço de duas ou três. É aí que se revela o peso de um sistema que encarece tudo e reduz o poder de consumo. A natureza entrega, mas o modelo econômico retira com a mão grande.

Esse modelo singular de "capitalismo jabuticaba", produz riqueza, mas não a transforma em maior felicidade. A combinação de impostos indiretos elevados, crédito proibitivo e gasto público ineficiente suga a renda antes que ela se consolide e se multiplique. O resultado é um país que aparece como robusto em paridade de poder de compra, PPC mas frágil na distribuição de renda per capita. Somos grandes como país mas pobres como indivíduos.

O problema central é a produtividade. A renda só cresce de forma sustentada quando há aumento de produtividade, e no Brasil ela tem patinado há décadas. A razão é justamente o nosso modelo de capitalismo: caro, distorcido e incapaz de premiar quem produz mais e melhor. A economia brasileira se limita à produção de produtos sem conseguir expandir valor por meio de inovação, eficiência e competitividade. A falta de infraestrutura adequada, o excesso de burocracia, a insegurança jurídica e a distorção tributária compõem uma armadilha que impede o avanço. Sem produtividade, a renda fica estagnada e o país não passa de uma potência estatística.

Esse diagnóstico não é novo. Edmar Bacha descreveu o Brasil como "Belíndia", uma Bélgica cercada por uma Índia. Maria da Conceição Tavares alertava para o crescimento "espúrio", incapaz de gerar desenvolvimento com equidade. Marcos Mendes reforça que gasto público ineficiente, tributação distorcida e baixa produtividade mantêm o país preso ao atraso. De diferentes pontos ideológicos, todos convergem num mesmo ponto: o capitalismo jabuticaba brasileiro tem parentes próximos na Turquia e no México, e precisa ser reformado, não para reduzir dinamismo e mas sim aumenta-lo tornando-o capaz de traduzir potencial em prosperidade.

Enquanto isso, jovens, microempreendedores e startups buscam caminhos próprios, apoiados até na chamada teologia da prosperidade. Mas a soma desses esforços não é suficiente para superar os limites estruturais de um sistema que concentra renda, consome recursos e bloqueia oportunidades. A vitalidade individual não consegue romper barreiras que apenas mudanças institucionais profundas poderiam derrubar.

O Brasil já é o dobro do seu tamanho em poder de compra, mas não consegue converter essa condição em felicidade geral da nação. A estatística é grande, mas a experiência cotidiana é pequena e estressante. O desafio é simples de enunciar e difícil de executar: aumentar a produtividade, reduzir os impostos sobre consumo, racionalizar o gasto público e democratizar o crédito. Sem isso, o país continuará a desperdiçar energia e a viver de avanços parciais, recuos e frustrações.

O Brasil precisa de um capitalismo reformado, mais justo e mais eficiente, capaz de transformar potencial em renda, renda em prosperidade e prosperidade em futuro. Já somos a sétima economia do mundo em paridade de poder de compra, mas seguimos barrados por nossa própria ineficiência. Os brasileiros querem liberdade para trabalhar.

 

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Sobre o autor

Vinicius Lummertz

Vinicius Lummertz

Ex-Ministro do Turismo, ex-Secretário de Turismo e Viagens do Estado de São Paulo, ex-Secretário de Articulação Internacional de Santa Catarina


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