Festival Choro Mulheril confirma força feminina no choro
Programação gratuita reuniu instrumentistas de todo o país em sete dias de oficinas, rodas de conversa e apresentações

De 8 a 14 de setembro, Florianópolis se transformou em palco para a música instrumental brasileira com a realização do 2º Festival Choro Mulheril – Encontro das Mulheres no Choro. O evento, totalmente gratuito, reuniu instrumentistas de diferentes estados, como São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, em uma semana intensa de oficinas, palestras, rodas de conversa, exibição de filmes e shows. Com programação aberta ao público em espaços como o Cinema do CIC, o Teatro Álvaro de Carvalho e bares Bugio, o festival destacou o protagonismo feminino na música e reforçou a importância do choro como patrimônio cultural imaterial do Brasil.
No campo da formação, as oficinas gratuitas de prática de choro no Museu da Escola Catarinense receberam 100 participantes e foram conduzidas exclusivamente por professoras mulheres, que passaram estudos de repertório de compositoras clássicas como Chiquinha Gonzaga e Tia Amélia e contemporâneas como Luísa Mitre e Laila Aurore. Entre elas, as residentes do coletivo Choro Mulheril: Angela Coltri, Natália Livramento e Thayan Martins; e as convidadas: Aline Gonçalves, Samara Líbano e Roberta Valente, nomes de grande relevância na cena nacional. As atividades culminaram na prática coletiva em formato de bandão, que teve regência das próprias professoras e ganhou apresentação final na Bugio Trindade, no último domingo (14/9), reunindo alunas, alunos e convidadas em um espetáculo de encerramento.
A programação cultural iniciou com a exibição inédita em Florianópolis do documentário A Música Natureza de Léa Freire, no Cinema do CIC, seguida de conversa com a própria compositora e multi-instrumentista paulista e com o diretor Lucas Weglinski. Léa, uma das figuras mais influentes da música instrumental brasileira, foi presença marcante nesta edição, participando de debates, rodas de choro e ministrando uma oficina de percepção musical. Com mais de quatro décadas de trajetória, ela reafirmou sua importância como referência na interpretação de diversos gêneros mas, principalmente, enquanto compositora, posição historicamente dominada por homens. Léa emocionou o público com sua sensibilidade artística, genialidade e técnica.
As rodas de choro realizadas na Bugio Trindade reuniram Léa Freire, Carla Pronsato e integrantes do Choro Mulheril em noites que celebraram a diversidade de sotaques musicais. No Teatro Álvaro de Carvalho, os shows reforçaram a potência criativa das mulheres instrumentistas. O Trio Mulheril, formado por Angela Coltri, Natália Livramento e Thayan Martins, convidou a pianista cubano-brasileira Claudia Rivera para uma apresentação que misturou choro e ritmos latino-americanos. O coletivo carioca Chora Mulheres na Roda destacou a representatividade negra e feminina em releituras de Chiquinha Gonzaga e Dona Ivone Lara, além de obras autorais. Já as Brejeiras, do Paraná, emocionaram o público com algumas músicas do álbum Senhora da Canção – Brejeiras cantam Ivone Lara, lançado neste ano, com a participação da flautista Marcela Zanette. Daniela Spielmann, saxofonista de trajetória internacional, e Sheila Zagury, pianista reconhecida por sua versatilidade, apresentaram o espetáculo Entre Mil… Você!, releitura sofisticada da obra de Jacob do Bandolim que dialogou com a música de câmara e o jazz.
A agenda contou também com a exibição do filme Chiquinha Gonzaga: Música Substantivo Feminino, seguida do painel “Gênero e Racialidade no Choro”, com as pesquisadoras Carolina Alves, Lia Vainer Schucman e Mayara Araújo, que trouxeram reflexões fundamentais sobre memória, racismo e desigualdade de gênero. No campo acadêmico, a pesquisadora e instrumentista Aline Gonçalves apresentou a palestra sobre o projeto Escritas Musicais de Mulheres Brasileiras (EMMBRA), enquanto a pesquisadora catarinense Camila Barros conduziu a palestra “Choro Patrimônio Nacional”, apresentando a Base de Dados do Choro, criada após o reconhecimento do gênero como patrimônio cultural imaterial em 2024.
A tradicional Grande Roda de Choro Mulheril, realizada na Bugio Centro, reuniu professoras, alunas e convidadas em uma celebração coletiva que simbolizou a união e a potência feminina na música instrumental, no último sábado (13/9), com um público de diversas idades que se encantou com a interpretação de chorinhos clássicos e contemporâneos.
Mais do que uma série de apresentações e debates, o festival reafirmou sua identidade como um projeto feminino para todas as pessoas. Produzido integralmente por mulheres, teve professoras, produtoras, profissionais de comunicação mulheres, repertórios formados majoritariamente por composições femininas e uma curadoria que homenageou nomes históricos como Chiquinha Gonzaga e Tia Amélia, sem deixar de valorizar a nova geração de instrumentistas.
Ao consolidar sua segunda edição, o Festival Choro Mulheril não apenas reafirmou o papel de Santa Catarina como polo cultural, mas também se projetou nacionalmente como um dos principais eventos do gênero no Brasil. Criado pela Roda de Choro Mulheril, projeto idealizado por Angela Coltri e Natália Livramento, com produção de Caroline Cantelli e Valentina Bravo, o festival demonstrou a força de uma rede que valoriza, difunde e renova o choro como patrimônio vivo, diverso e plural.
Da redação
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