Corpo de Bombeiros Militar dá adeus a cão Barney
Homenagens e emoção marcaram a despedida do cão Barney, de busca e resgate do Corpo de Bombeiros Militar de SC, nesta segunda-feira, 6, em São José. O cão, tutoreado pelo soldado Luciano Warth Rangel, morreu na última sexta-feira, 3, em uma missão de busca, em um rio na cidade de Içara.
Durante a cerimônia de despedida, realizada no crematório de animais Garden Pet, uma homenagem foi realizada pela corporação ao cão que atuou em missões importantes e levou esperança a muitas famílias, como na situação de Brumadinho, onde esteve por duas vezes. “Este é um momento triste, mas também de reconhecimento e homenagem ao trabalho dos militares com os cães da corporação", afirmou comandante-geral do CBMSC, coronel Edupércio Pratts.
Em meio ao sentimento de tristeza, uma boa notícia. O subcomandante-geral do CBMSC, coronel BM, Charles Alexandre Vieira, anunciou que um novo filhote de labrador será deslocado dos Estados Unidos para ser treinado pelo soldado Rangel, em reconhecimento ao excelente trabalho prestado pelo bombeiro e cinotécnico.
Entre as homenagens recebidas, Barney foi lembrado pela soldado Andreza Amorim Moraes, veterinária da instituição, que o acompanhou desde filhote, como um excelente cão, amigável, alegre e brincalhão. “Eles já vêm prontos, cheio de amor. Nós aprendemos muito com os cães”, declarou.
A cerimônia contou com a presença dos familiares do Soldado Rangel, além de parceiros na atividade de cinotecnia, cães de busca, Bombeiros Militares e imprensa.
Desde o acontecido, o soldado Rangel está recebendo da corporação o suporte psicológico necessário.
Conheça a trajetória do cão Barney
No Corpo de Bombeiros Militar, a dupla de bombeiro e cão de busca é chamada de binômio. A partir do momento que o condutor assume a função, após ser certificado como cinotécnico, passa a conviver 24h com o cachorro, com treinamentos diários inclusive aos finais de semana.
Ainda filhote, com poucas semanas, o cão passa a morar com o condutor e recebe os primeiros ensinamentos.
No dia 10 de junho de 2016 Rangel e Barney, ainda filhote, foram apresentados na sede do 5º Batalhão de Bombeiros Militar, em Lages, como binômio, para atuação em operações de buscas e resgates.
Ao receber Barney em casa, o soldado Rangel se dedicou para o aprimoramento das técnicas, treinando o cão intensamente e diariamente, garantindo a atividade e principalmente a saúde do animal. Mais de 3 horas diárias eram dedicadas ao Barney, em treinamentos e cuidados.
Em setembro de 2017, após muito treinamento, veio a primeira certificação estadual, garantindo a atuação. Logo no início de 2018, a certificação internacional.
Barney atuou em diversas missões, entre elas, a que rendeu homenagens e destaque, neste ano de 2019, em Brumadinho. O cão de três anos era acompanhado pelos veterinários do CBMSC e estava saudável.
Moção de aplausos
Com apenas três anos, Barney já tinha recebido prêmios por sua atuação com o soldado Rangel. Em 12 de dezembro de 2018, bombeiros de Lages receberam uma moção de reconhecimento na Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina (Alesc).
O ato foi uma homenagem ao trabalho realizado pelos Bombeiros em uma ocorrência atendida em Bocaina do Sul, no resgate de um rapaz em área de grande vegetação. A vítima estava com um grupo de amigos, quando perdeu-se em uma trilha e caiu em um local de difícil acesso, com cerca de 40 metros de altura.
A área de grande desnível possuía pedras e árvores que prejudicavam o acesso. Com uso de um tripé de salvamento e auxílio do cão, a vítima foi retirada do local, infelizmente em óbito. A operação de resgate durou cerca de 12 horas.
Brumadinho
Soldado Rangel e Barney também fizeram parte da equipe de força-tarefa do Corpo de Bombeiros Militar. Após a tragédia ocorrida em 25 de janeiro deste ano, com o rompimento da mina Córrego do Feijão em Brumadinho, em Minas Gerais, bombeiros militares de Santa Catarina foram acionados para auxílio na busca de vítimas.
O cão de busca Barney viajou de Lages até Minas Gerais por duas vezes e indicou a localização de diversas vítimas soterradas sob a lama. Em fevereiro deste ano, o governador do Estado, Carlos Moisés, acompanhado da vice-governadora, Daniela Reinehr, recebeu a primeira equipe da força-tarefa para condecorações. Barney não esteve presente porque já havia retornado a Brumadinho, mas foi um dos homenageados.
Sobre a atividade de Cinotecnia no CBMSC
A atividade realizada em Santa Catarina segue critérios e padrões internacionais de certificação da IRO (International Rescue Dogs Organization), com provas adaptadas para a realidade catarinense, de desastres climáticos e terrenos diferenciados.
A certificação, promovida pelo CBMSC, é anual, com validade para dois anos de atuação e possui os níveis Estadual, Nacional e Internacional, dependendo do empenho e do preparo do binômio para a atuação profissional. Todos os cães em atuação são certificados.
A atividade de busca
O treinamento dos animais é feito exclusivamente com feedback positivo, sem nenhum maltrato, tanto na questão de obediência, quanto na parte técnica. Cães entendem a atividade como brincadeira
É comum ver, em uma busca, o cão se divertindo, balançando o rabo. Além disso, ao encontrar o que é proposto, os cães recebem recompensas, como carinhos, brinquedos e agrados.
A atividade de cinotecnia é utilizada para buscas de desaparecidos em áreas de desastres climáticos, além de buscas em rios e lagos, com outros bombeiros militares envolvidos.
A corporação utiliza cães da raça Labrador, por conta do olfato apurado, além do temperamento dócil, entre outros fatores.
Cães do CBMSC vivem com seus tutores
Desde filhotes os cães do CBMSC vivem na casa de seus tutores, como membros da família. Essa convivência e o modelo de treinamento adotado pelo Estado faz com que Santa Catarina seja uma referência nacional na área.
A corporação tem uma rotina de cuidados para manter a saúde física e mental dos animais, jamais expondo-os a situações de risco.
“Os condutores, a coordenadoria de Busca, Resgate e Salvamento com Cães e a equipe de saúde animal estão sempre em contato e acompanhando os cães, com trocas de informações, para prevenir doenças e manter a saúde física e também mental dos nossos animais. Cada cão tem o veterinário de confiança nas suas cidades, mas mantemos um acompanhamento conjunto, para segurança do cão”, explica a médica veterinária do CBMSC, soldado Andreza Amorim Moraes.
Aposentadoria
Para assegurar a boa saúde dos cães, em torno dos oito anos de vida os Labradores são aposentados das buscas e passam a trabalhar apenas na Cinoterapia, que é a terapia assistida por cães em hospitais, clínicas, além de treinarem os outros cães para a atividade de busca e salvamento.