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Brasil pode ter seu próprio GPS?

Brasil pode ter seu próprio GPS?
O governo brasileiro iniciou estudos para avaliar a criação de um sistema nacional de geolocalização por satélite, alternativa ao GPS norte-americano. (Foto: Agência Brasil)

Publicado em 23/07/2025

O governo brasileiro deu o primeiro passo para avaliar a possibilidade de criar um sistema nacional de geolocalização por satélite, semelhante ao GPS norte-americano. Um grupo técnico formado por representantes de ministérios, da Aeronáutica, da Agência Espacial Brasileira (AEB), de institutos federais e da Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil foi instituído para estudar a viabilidade do projeto, que exigiria altos investimentos e amplo domínio tecnológico.

A iniciativa ganhou forma no início de julho com a publicação da Resolução nº 33 do Comitê de Desenvolvimento do Programa Espacial Brasileiro, assinada pelo ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Marcos Antonio Amaro dos Santos. O grupo terá 180 dias para apresentar um relatório com conclusões e recomendações sobre a criação de um sistema próprio de posicionamento, navegação e temporização.

Apesar da coincidência com debates recentes nas redes sociais sobre uma possível restrição do GPS no Brasil por parte dos Estados Unidos, o diretor de Gestão de Portfólio da AEB, Rodrigo Leonardi, afirma que não houve qualquer comunicado oficial do governo norte-americano nesse sentido. Segundo ele, a decisão de criar o grupo técnico é anterior a esse tipo de especulação. “Já vínhamos discutindo o tema há tempos. A criação do grupo não teve relação com esse ruído”, afirmou.

Leonardi destaca que os atuais sistemas globais de navegação por satélite são estratégicos para múltiplas áreas, e que o Brasil historicamente priorizou outros temas espaciais, como o monitoramento por satélites. Agora, a proposta é ampliar o debate: "Queremos entender os gargalos e analisar se devemos buscar um sistema nacional, seja global ou regional", explicou. Ele reconhece, no entanto, que qualquer caminho exigirá investimentos muito acima dos atuais níveis do programa espacial brasileiro.

Especialistas lembram que o GPS é apenas um dos sistemas globais disponíveis. O termo mais correto, segundo Leonardi, é GNSS (Sistema Global de Navegação por Satélite), categoria que inclui também o Glonass (Rússia), Galileo (União Europeia), BeiDou (China) e sistemas regionais como o NavIC (Índia) e QZSS (Japão). A maioria dos dispositivos atuais, como celulares e equipamentos de transporte, já são capazes de operar em modo multiconstelação, recebendo sinais de diferentes sistemas simultaneamente. Isso reduz os riscos de interrupção em caso de falha ou restrição de um único provedor.

O professor Geovany Araújo Borges, da Universidade de Brasília (UnB), especialista em automação e robótica, avalia que, tecnicamente, seria possível aos Estados Unidos restringirem o sinal do GPS para determinadas regiões. No entanto, uma decisão como essa teria impactos graves, inclusive para empresas e usuários norte-americanos que operam no Brasil. “Isso afetaria até a aviação civil, com risco de acidentes. É uma medida extrema e muito improvável”, opinou.

Apesar da disponibilidade de sistemas alternativos, Borges ressalta a importância de o Brasil possuir autonomia tecnológica nesse setor, considerado estratégico. “Não é só uma questão de segurança nacional. O desenvolvimento de tecnologias espaciais impulsiona setores como a indústria, medicina e agricultura”, afirmou. Para ele, o país tem recursos humanos qualificados, mas esbarra na limitação de investimentos e na dependência de componentes externos, que nem sempre estão disponíveis para exportação.

“Não é um projeto de curto prazo. Requer continuidade, financiamento robusto e uma política de Estado. É positivo que o tema esteja sendo debatido por um grupo especializado, ainda que de forma tardia”, concluiu o professor da UnB.

 

 

 

 

Da redação

Fonte: RCN

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