Vinhos Fortificados, por Eduardo Machado Araújo
Acabo de passar uma semana com aulas para a minha formação do Diploma WSET, e o tema foi a unidade D5, que fala somente sobre vinhos fortificados. Talvez você nunca tenha ouvido esse nome, mas já deve ter bebido ou conhecido um vinho do Porto. Pois é, os vinhos do Porto são, provavelmente, o exemplo mais clássico de vinhos fortificados.
A fortificação de um vinho se dá pela adição de álcool vínico (aguardente vínica ou brandy) em algum momento durante o processo de produção, aumentando a graduação alcoólica do vinho em questão. Inicialmente, esse método era utilizado, principalmente, para conservar os vinhos contra a oxidação em viagens marítimas. Mas, o processo criou alguns vinhos interessantes, e caiu no gosto dos consumidores.
Engana-se quem pensa que somente o estilo doce do vinho do Porto é produzido. Algumas regiões se especializaram em fazer, não somente o estilo mais doce, como também vinhos fortificados secos. Em Portugal, na Ilha da Madeira, e na Espanha, na região de Jerez (Sherry), na Andalucia, também são produzidos vinhos fortificados secos de altíssima qualidade.
Um dos fatores positivos desses vinhos é em grande parte da sua capacidade de envelhecer "ad eternum". Já provei vinhos do Porto com mais de 200 anos e absolutamente inteiros, vivos e fantásticos, e conheço amigos que já provaram vinhos Madeira do Século XVIII. Incrível pensar como era o mundo e o que esse mundo passou durante todo esse tempo, e esses vinhos ainda estão entregando sabores e aromas maravilhosos.
Existem outros estilos e países com grande produção, como o Sul da França e seus Vin Doux Naturel, como Banyuls e Muscat de Beaumes de Venises, além da Austrália, com seus raros e particulares Muscat de Rutherglen, que podem envelhecer durante décadas num processo oxidativo e terem mais de 300 gramas de açúcar por litro. Mas, quem ganha a competição de doçura extrema é o também raro PX ou Pedro Ximenez de Jerez, que pode facilmente passar de 400 gramas de açúcar e ter uma densidade que é mais para usar como calda de sorvete do que para beber.
Como a maioria desses vinhos tem uma doçura marcante e alto nível de álcool (entre 15-22%), seu consumo tem caído ano após ano, chegando a níveis históricos nunca vistos. A preocupação com a saúde e com o consumo moderado de açúcar e álcool, aliado ao estilo de vinho que não é lá tão fácil de beber uma garrafa inteira, fizeram com que essas regiões buscassem alternativas com novas comunicações, sugestão de harmonização e incentivo ao uso desses vinhos na coquetelaria. Os bartenders do mundo já descobriram, principalmente, os vinhos de Jerez, que podem ir de extremamente secos e frescos, como os estilos Fino e Manzanilla, passando pelos secos oxidativos como o Oloroso até o afamado PX que citei acima. Isso dá um enorme leque de oportunidades e sabores para misturar e criar diferentes drinks.
Ah, falando em Jerez, no mês que vem, em novembro, teremos a promoção mundial dos vinhos da região com a já famosa Sherry Week. Nós do The Wine Pub já participamos dessa ação há quatro anos e iremos trazê-la novamente para Floripa para que as pessoas possam conhecer esses vinhos complexos e gastronômicos.
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Sobre o autor
Eduardo Machado Araujo
Certified Sommelier - Court of Master Sommeliers
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