Vinhos e cervejas: muito em comum
Fico um pouco triste com a pequena quantidade de vinho branco que o brasileiro bebe. Nossa culinária, grande costa e o fato de o Brasil ser um país extremamente cervejeiro me faz pensar que os brancos são vinhos que combinariam muito bem com tudo isso. Muitos bebem cerveja por ser barata e muitos por ser leve, refrescante e servida bem geladinha, similar a um grande leque de opções de brancos no mercado. Até acho que muitos dos tomadores de cervejas que se recusam a beber vinho têm perdido muito. O fato é que as duas bebidas dividem muitas semelhanças e muitas diferenças.
A cerveja é frequentemente tratada como uma bebida despretensiosa e simples, enquanto o vinho é exageradamente tratado como uma bebida de elite, chique e para celebração e harmonização em grandes restaurantes. Porém, ambos são fermentados e a cerveja tem uma “vantagem”: pode ser produzida durante todo o ano através de uma grande variedade de cereais. Já o vinho precisa aguardar a safra das uvas, ou seja, tem uma margem de erro muito mais estreita e delicada.
O surgimento de micro-cervejarias e a popularização de grandes vinícolas têm criado caminhos inversos entre esses pares. Nunca tivemos tantas cervejas diferentes, saborosas e aromáticas, fugindo do que estávamos acostumados. Ao mesmo tempo temos cada vez mais vinhos simples, prontos pra beber em qualquer circunstância, num bate papo com amigos ou na beira da piscina. Temos então cada vez mais similaridades com os estilos se aproximando em todas as nuances que podemos encontrar, por isso deixo algumas sugestões para que cervejeiros e enófilos possam encontrar suas alternativas no “outro fermentado”.
Os estilos mais populares de cervejas e os que causam mais controvérsias são os Lagers/Pilseners. A produção em massa e a obrigação de beber a temperaturas praticamente negativas contrastam com as coisas boas que esses estilos devem nos trazer quando bem produzidos: as cervejas precisam ser saborosas, com frescor e leveza. Para quem curte, sugiro provar vinhos com as mesmas características positivas: frescor, boa acidez e aromáticos, como os Sauvignon Blanc da Costa Chilena ou Nova Zelândia, ou um Verdejo Espanhol.
Os que já caminham para o lado dos lúpulos, mas sem exageros, gostam das Pale Ales, que já trazem amargor um pouco maior, aliado aos aromas florais e herbáceos. Nesse estilo temos alguns Pinot Grigio do Friuli e Collio no Norte da Itália, que quando bem feitos trazem aromas cítricos, florais e herbáceos com ótima acidez. Para algo mais inusitado e difícil de achar, temos a Grüner Veltliner, queridinha da Ásutria, com mais especiarias no aroma.
Outras queridinhas dos iniciantes são as Witbiers e Weissbiers, leves, matam a sede e são muito aromáticas, com toques de casca da laranja, florais, especiarias, banana e cravo. Um estilo de vinho que acho que combina bem com essas características e a leve doçura que contrasta com a alta acidez é o Vinho Verde, principalmente o produzido com Alvarinho. Traz frutas tropicais, florais e uma boa textura de boca. Podemos voltar ao Sauvignon Blanc de um clima não tão frio e trazendo mais frutas tropicais.
O Vale do Loire pode ser uma opção certeira para quem curte as famosas IPA’s. Existem maníacos por isso, e o amargor, os aromas vegetais de grama cortada e os herbáceos, além dos cítricos e florais, são características dessa família. Nada melhor que a Sauvignon Blanc de climas frios como Sancerre ou Nova Zelândia. Culpa da pirazina, um componente encontrado em algumas uvas incluindo também a Cabernet Franc do Loire pra quem quer se aventurar nas tintas que trazem esse toque vegetal. Finalizo pra quem não quer de jeito nenhum provar brancos e para os que curtem as Porters/Stouts e seus aromas tostados, achocolatados com café e fruta madura. Com acidez equilibrada e redondos em boca, os vinhos da dupla Malbec/Merlot podem ser opções certeiras, sendo carnudos e frutados. Saúde!
Sobre o autor
Eduardo Machado Araujo
Certified Sommelier - Court of Master Sommeliers
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