Vinhos brancos de inverno
Escrever sobre tintos no inverno e brancos no verão deve ser tão antigo quanto fazer vinho. É um clichê que sempre aparece antecipando nossas mudanças de estação e que reforça ainda mais aquele conceito antigo na cabeça do brasileiro de que a cor dos vinhos que iremos beber é definida pela temperatura do dia.
Trabalhando com o público percebo uma mudança automática no consumo. Esses dias mesmo em que tivemos mudanças bruscas em menos de 24h o calor de um dia fez minhas vendas de brancos e rosés ultrapassarem 70% do total e no outro dia com um frio de inverno eu não vendi uma taça sequer de vinho branco à noite. Ninguém ofereceu nada diferente, os brancos e rosés continuavam ali sendo servidos em taça, foi apenas uma mudança natural e automática de uma ideia já embutida na nossa cabeça.
Lógico que o fato de termos uma alimentação de pratos mais pesados e gordurosos nessa época do ano favorece os vinhos tintos mais robustos. Os vinhos mais encorpados nos trazem uma sensação que nos aquece e o fato de termos que beber os vinhos brancos resfriados também assusta num dia frio. Mas, temos diversas opções de brancos que podemos utilizar nesse caminho. E se continuamos a beber cerveja num happy hour, podemos também tomar umas tacinhas de vinhos mais leves.
Existe uma gama de vinhos brancos muito interessantes e altamente gastronômicos que podemos utilizar como opção para esses dias. Alguns deles já são clássicos como robustos Chardonnays com fermentação e envelhecimento em madeira, carregados em untuosidade e aromas de especiarias como alguns Borgonhas, Californianos ou até mesmo argentinos e brasileiros.
Mas, existem também brancos produzidos com métodos que até então não eram mais comuns, como a maceração com a própria casca em diferentes níveis de contato e oxidação. Esse é o princípio de produção dos “vinhos laranja” ou “âmbar” onde esses processos geram uma coloração mais intensa no vinho. O nível de maceração e/ou oxidação pode variar muito e consequentemente a intensidade de cor do vinho também, mas independentemente disso o vinho final sempre traz uma estrutura mais elevada inclusive com a presença de taninos, toques amendoados e uma presença maior em boca.
Temos excelentes exemplos no mercado inclusive com a linha Garapuvu aqui de Florianópolis produzido pela Quinta da Figueira. O belíssimo Oro Vecchio da Leone di Venezia de São Joaquim, o Branco de Curtimenta da Roquevale do Alentejo e o Koggelbos Mount Abora da África do Sul. São todos vinhos brancos de muita personalidade, estruturados e que além de poderem acompanhar pratos mais condimentados e intensos vão te esquentar nesse inverno.
Sobre o autor
Eduardo Machado Araujo
Certified Sommelier - Court of Master Sommeliers
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