Vinho e saúde: A mensagem antiálcool é real?
No Brasil e no mundo o tema recorrente nos últimos anos é a guerra contra o álcool. Europa, América do Norte e até por aqui estão vendo a criação de novos impostos, alguns generalizando coisas sem conexão com nomes como “imposto do pecado” (ao mesmo tempo que excluem armas desse pacote), novas taxas e avisos em rótulos e propagandas ligando o consumo de bebidas alcoólicas com maior risco à saúde.
O vinho, essa bebida milenar que sempre foi ligada aos benefícios quando consumida em moderação, se viu contra a parede e muitos nomes importantes, tanto do setor quanto da área médica, estão lutando para esclarecer alguns fatos.
À medida que os Estados Unidos se preparam para divulgar diretrizes atualizadas, a discussão em torno do consumo de álcool ganhou destaque. Recentes manchetes e avisos de saúde pública pintam um cenário alarmante sobre o impacto do álcool na saúde, mas muitos especialistas argumentam que essa narrativa simplifica demais um tópico complexo. A Dra. Laura Catena, produtora e médica formada em Stanford, baseia-se em décadas de pesquisa e experiência clínica para defender uma compreensão sensata e fundamentada no consumo moderado de álcool.
Ninguém está negando os perigos do consumo excessivo, mas recentes declarações, como a afirmação da Organização Mundial da Saúde de que "nenhum nível de consumo de álcool é seguro", geraram controvérsia. Essas alegações frequentemente se apoiam em interpretações seletivas de dados, ignorando pesquisas que destacam possíveis benefícios à saúde associados ao consumo moderado, além de que existem lobies empresariais e religiosos/políticos frequentemente por trás dessas pesquisas e interpretações negativas.
Por exemplo, o estudo Global Burden of Disease de 2020, publicado na revista The Lancet, reconhece que, para adultos acima de 40 anos, o consumo moderado de álcool pode oferecer benefícios cardiovasculares, incluindo a redução de riscos de doenças cardíacas, derrames e diabetes. No entanto, essas descobertas são frequentemente ofuscadas por mensagens alarmistas que falham em comunicar as nuances dos efeitos do álcool na saúde.
Décadas de estudos observacionais mostram consistentemente que o consumo moderado de álcool está associado a menor mortalidade e redução de riscos cardiovasculares. Estudos mecanísticos corroboram essas descobertas, demonstrando que o álcool pode aumentar o HDL (colesterol bom), reduzir a formação de coágulos e diminuir os níveis de açúcar no sangue. No entanto, esses benefícios dependem do perfil de saúde individual, e devem ser avaliados com um profissional de saúde.
O alto consumo de álcool é um fator de risco conhecido para vários tipos de câncer. Mas esse risco deve ser ponderado em relação aos riscos significativamente maiores de doenças cardiovasculares para a maioria das pessoas acima de 40 anos. Além disso, alguns estudos sugerem que o consumo moderado de álcool pode reduzir o risco de certos cânceres e alguns estudos mais completos estão sendo feitos.
O problema é que de acordo com o lobby e com o viés de quem financia a pesquisa artigos recentes frequentemente ampliam os riscos do consumo moderado enquanto minimizam ou omitem seus potenciais benefícios. Por exemplo, uma revisão de 2023 publicada na JAMA Network foi citada para desacreditar os efeitos cardioprotetores do álcool, mas o próprio estudo observa que os riscos de mortalidade mais elevados começam em níveis de consumo que excedem as diretrizes dos EUA e da Europa
O importante é ter uma abordagem equilibrada e diferenciar entre o consumo moderado e excessivo, além de identificar fatores de riscos individuais e até mesmo práticas culturais. É muito importante lembrar que a saúde mental e social nos faz melhorar a saúde física e o vinho é com certeza uma bebida social e que conecta as pessoas.
O debate certamente está longe de ser resolvido, mas declarações alarmantes e simplistas de governos e grupos lobistas não refletem a realidade. Precisamos de uma abordagem científica e fundamentada sem preconceitos ideológicos.
Conclusão do artigo escrito por Laura Catena no site.
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Sobre o autor
Eduardo Machado Araujo
Certified Sommelier - Court of Master Sommeliers
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