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Um sonho a mais...

(Foto: Divulgação)

Publicado em 05/04/2018

Como resistir a um sonho? Uma massa levíssima em forma de bola, passada no açúcar, algumas vezes com canela em pó e recheada com creme de confeiteiro, os mais clássicos, ou com doce de leite e até goiabada ... um sonho!!

No Brasil ele é presença certa em toda vitrine de padaria, talvez por associarmos padaria a padeiros portugueses, imaginamos que seja mais uma das delícias da doçaria portuguesa. Ledo engano! Em todo o mundo encontramos doces semelhantes, desde Israel com o sufganiyah, os donuts americanos ou o bismarck do Canadá!

Mas a história leva a crer que esses pães doces, fritos e recheados, tem origem na Alemanha, e inspirado em uma guerra... ou no fracasso de um soldado. Por volta de 1756 na Prússia, Frederico, o Grande, recrutou todos os homens saudáveis para defender Berlim de uma invasão, entre eles um jovem padeiro que foi designado para cuidar da munição da artilharia pesada, isto é, das balas de canhão.

Logo os militares perceberam que o soldado-padeiro não tinha o menor talento para a guerra e, quando foi afastado, voltou a trabalhar como assistente em uma padaria. Um padeiro em sua essência é um cozinheiro, e como todo cozinheiro, talvez pelo ambiente hostil e do calor que cozinha nossos ‘miolos’, gosta de inventar novos sabores e apresentar novas receitas.

Decidiu então, criar a sua nova receita: ainda traumatizado com o treinamento bélico, fez bolas de massa inspiradas nas balas de canhão, e ao invés de forneá-las, fritou-as! Nasceu a Berliner Pfannkuchen, ou Bola de Berlim, uma singela homenagem à cidade que escapara da destruição mais uma vez graças a seu exército, seus canhões e suas balas. Nas padarias brasileiras recebeu o nome poético de ‘sonho’, talvez pela leveza da massa e a doçura cremosa do seu recheio... um sonho de sabor!!!!

No Brasil o que se conta é que o sonho surgiu na São Paulo nos idos anos 1920, inspirado na Berliner, mas feito com a sobra da massa do pão doce que era frita em bolas irregulares e maiores que as originais, passadas no açúcar fino e recheado com um creme à base de manteiga, ovos e aromatizado com baunilha.

E esse sonho de doce tem primos no mundo inteiro com receitas bem semelhantes, como o bombolone italiano, típico da região da Bolonha, ou o brioche Troppézziene, um clássico da francesa Saint- Tropez. O francês, dizem ter sido criado por um paraquedista polonês, que participou da libertação da Riviera Francesa ao final da Segunda Guerra, e apesar de semelhante, tem a massa mais rica em sabores, com muita manteiga e ovos, e é assado, passado no açúcar e recheado com o creme de confeiteiro.

Esse soldado polonês se apaixonou pela região em que caiu de para-quedas, literalmente, e montou ali uma padaria cujo carro chefe era esse ‘sonho’, que dizia ser uma receita de sua mãe... e um belo dia, uma jovem entra em sua padaria e também se apaixona pelo doce! A bela jovem era Brigite Bardot que gravava na região o filme “E Deus Criou a Mulher”, e essa mulher, criou um ícone Troppézziene!

A receita original que veio da Polônia é chamada Paczki, na Croácia é Krafne, na Inglaterra são os doughnuts, na Finlândia, recheados com marmelada, são os Hillomunkki, e os primos da América Latina são as borlas de fraile. Enfim, o sonho é um doce do mundo, cheio de histórias e muito sabor, onde cada local tem a sua receita, e a minha, eu divido com vocês:

RECEITA DE SONHO

Creme de baunilha: 250 ml de leite integral, 75 g açúcar, 40 g de farinha de trigo, 2 gemas de ovo + 1 ovo inteiro, 1 fava de baunilha

Ferva 200 ml de leite com a fava de baunilha cortada ao meio (longitudinal).

Dissolva o restante dos ingredientes no leite restante e misture no leite aromatizado e cozinhe até formar um creme grosso.

Retire a fava de baunilha raspando as sementes e incorporando ao creme.

Deixe esfriar coberto com um plástico.

 

Massa: 500 g de farinha de trigo, 30 g de fermento biológico, 150 g de açúcar, 50 ml de leite, 125 g de manteiga, 3 ovos, 1 pitada de sal, raspas de laranja, óleo para fritar e açúcar para polvilhar.

Dissolva o fermento no leite e misture a farinha aos poucos até formar uma bola de massa.

Reserve o restante da farinha e deixe essa bola crescer.

Misture o restante da farinha com o açúcar, as raspas de laranja e a pitada de sal, e incorpore a manteiga amassando muito bem.

Junte então o fermento e os ovos, um a um amassando sempre, até formar uma massa que descole das mãos.

Deixe descansar coberta até dobrar o volume.

Divida em porções, em bolas, de 50 g e coloque para crescer novamente.

Frite em óleo abundante, não muito quente, virando sempre para dourarem por igual.

Escorra muito bem e passe pelo açúcar e depois recheie.

E viva o sonho.