Um brinde à diversidade das uvas
Você já ouviu falar em Refosco dal Pedunculo Rosso, Viognier, Marselan e Teroldego? Provavelmente não, mas são algumas das uvas cultivadas hoje no Brasil e que não são fáceis de encontrar por aí. Segundo o livro Wine Grapes temos 1.368 variedades de uvas identificadas no mundo, mas essa estimativa pode estar longe de ser verdade, já que existem milhares ainda não identifcadas. Por mais que o Brasil ainda seja um país relativamente pequeno na cultura e mercado do vinho, cultivamos uma enorme variedade de uvas, nas mais variadas regiões.
Talvez o fato de sermos novos no negócio nos permite testar coisas novas e buscar características de clima e solo e seus similares no mundo. Lógico que tudo começou comercialmente, com muita Cabernet Sauvignon e Chardonnay sendo plantadas e, aos poucos, os produtores percebem que talvez essas não sejam as melhores variedades e testem dezenas de outras. É exemplo a nova e belíssima vinícola catarinense que produz somente castas Italianas com rápido sucesso, a Leone di Venezia. Sugiro provar seus vinhos, entre eles o Montepulciano e o Garganega.
Não precisamos ir tão longe para ver que na média geral o consumidor pouco varia suas escolhas. Você lembra a última vez que provou um Cabernet Franc, um Tannat ou um Syrah? Essas são algumas das uvas que têm se desenvolvido de maneira surpreendente em diversos lugares do mundo. A Cabernet Franc é uma uva que sempre deu bons resultados aqui no Brasil e temos diversos bons produtores, como Dunamis e Valmarino. A Dunamis também produz um Tannat que foi premiado como o melhor vinho na avaliação nacional de 2015. Essa uva está sendo muito bem trabalhada em estilos diferentes no Uruguai, que sempre a teve como símbolo.
E talvez a mais fácil de se encontrar das três citadas, a Syrah, é uma uva que vem se destacando em diferentes climas, como os mais frios do Chile e até mesmo em regiões brasileiras como a desconhecida Espírito Santo do Pinhal, na altitude de São Paulo, onde a vinícola Guaspari produziu o “Vista do Chá” que recebeu a medalha de ouro no Decanter Wine Awards. Um feito histórico! Entre as brancas, gosto muito de provar os vinhos portugueses como Alvarinho, Encruzado ou os blends regionais. Mas, uma uva que sempre me chama atenção é a Riesling, que produz desde um honestíssimo Almandén na Campanha Gaúcha até grandes vinhos na Alemanha e Alsácia, do mais seco ao extremamente doce, e caro.
As novidades são tantas que hoje você consegue encontrar Grüner Veltliner em locais além da Áustria, como Califórnia e Nova Zelândia. Aliás, países do novo mundo como Estados Unidos e Austrália, que estão na vanguarda da pesquisa, tendem a ousar bastante e produzir um pouco de tudo identificando micro climas aptos às variedades desejadas. Essa beleza em descobrir novas uvas levou até mesmo produtores em regiões tradicionais a testar novidades e recuperar uvas ancestrais, não deixando que as mesmas variedades de sempre tomem conta de todo o mercado.
Um bom exemplo é o Chile e a redescoberta de vinhedos centenários da uva País no Vale do Maule. Por aqui, com grande influência da cultura Italiana, temos recuperado essas castas no Brasil e bons resultados surgem como, por exemplo, Sangiovese, Teroldego (Angheben) e até mesmo Nebbiolo e Barbera. Como sempre gosto de falar: uma das maiores belezas do vinho é provar sua diversidade!
Sobre o autor
Eduardo Machado Araujo
Certified Sommelier - Court of Master Sommeliers
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