00:00
21° | Nublado

SABORES DA COZINHA - 1ª QUINZENA DE JULHO


Publicado em 02/07/2015

Em dia de estreia, uma receita de nhoque!

Tenho para mim que toda estreia causa um certo nervosismo, ansiedade e frio na barriga, um mal que deve atingir todos em estreias, seja ator, cozinheiro, pai, namorado ou até colunista de um jornal que faz parte da vida. Espero estar à altura de substituir a amiga que tanto e tão bem escreveu aqui e tanto adoçou os eventos nos primórdios do meu Bistrô: ‘a benção’ Ceres Azevedo!

Estreio tendo com vizinho o amigo responsável por boa parte do meu conhecimento enológico, aliás, vizinho perfeito, pois todo bom prato e bom papo precisam de um bom vinho: ‘tamo junto’ Eduardo Araújo! Estrear para mim sempre foi algo inusitado, quase sempre por acaso, quase sempre sem querer. Na cozinha estreei já na infância, quando quebrava ovos caipiras sobre açúcar em um prato fundo e batia com o garfo, com a força e competência de uma criança arriscando fazer uma gemada. Minha plateia, um irmão pouco mais velho que eu, não disfarçava a cara de nojo diante de tal iguaria.

Muitos anos depois aconteceu minha estreia (caseira) para grande público: o nhoque da fortuna. Nesse dia muitos amigos surgiam munidos de apetite e garrafas de vinho barato, afinal éramos jovens nos anos 80, onde o vinho de Jundiaí feito com uvas niágara era o nosso Brunello di Montalcino. Procurei muitas vezes a origem dessa tradição paulista, mas foram tantas e tão confusas as informações que assumi o simples fato que dia 29 tem nhoque, o nhoque da fortuna.

Um dia nos anos 90, Floripa estreou na minha vida e o nhoque veio comigo, ao menos na turma em que convivia - entre cariocas, gaúchos e manezinhos - ninguém comia nhoque no dia 29, uma heresia! É uma data tatuada em minha alma gastronômica, tanto que até na véspera do meu casamento (certo dia 30 de julho) servi nhoque a todos os padrinhos e parentes. A partir daí, “dia 29” cresceu a ponto de causar uma crise conjugal que resultou minha estreia profissional, e do Bistrô, em um 29 de fevereiro de quase vinte anos atrás, e a partir daí a estória é pública.

Quanto à receita, fácil de dar dó: misture bem um quilo de batata cozida e amassada, uma colher de manteiga, duas outras de queijo parmesão ralado bem fino e dois ovos. Depois de tudo incorporado, acrescente três xícaras de farinha de trigo e duas colheres de fécula de batata, tempere com sal e amasse bem. Estique a massa em rolinhos e corte os nhoques. Jogue em uma panela com muita água fervente e assim que os nhoques boiarem, desligue o fogo, deixe descansar por três minutos e recolha. Sirva com seu molho ou como eu gosto: só com sálvia na manteiga... e o vinho, um Nero D´Avola, da Sicília. Simples assim, e se você nunca fez nhoque, arrisque e tenha uma boa estreia!