Rótulos padronizados
Projeto da Almaviva apresentado em Florianópolis utiliza as melhores uvas e uma equipe técnica de ponta
Almaviva. Tenho certeza que esse nome é mais conhecido pelo brasileiro através do icônico vinho chileno do que pelo papel de herói de duas famosas comédias de Beaumarchais, O Barbeiro de Sevilha e As Bodas de Fígaro, mais tarde imortalizadas por Mozart e Rossini. Através dos laços entre a Baronesa de Rothschild e um descendente direto de Beaumarchais, o nome foi utilizado com a grafia original no rótulo e divide lugar com símbolos das civilizações antigas do Chile, simbolizando a união entre essas duas culturas através desse projeto entre a Baron de Philippe de Rothschild e a Concha y Toro. Um projeto amparado por duas empresas como essa já nasce com peso e, desde 1996, as melhores uvas e uma equipe técnica de ponta utilizam a vitivinicultura de precisão para fazer um "Château" em Puente Alto, no Alto Maipo.
Tivemos a honra de receber em Florianópolis, pela primeira vez, o enólogo que está à frente do projeto há cerca de 15 anos. Michel Friou é um cara com voz baixa, calmo e que não te deixa sem respostas; esbanja conhecimento e simpatia. Após um pequeno tour por Floripa, onde ele apreciou as ostras da Ilha, conheceu algumas lojas de vinhos, como o The Wine Pub, que serve Almaviva em taça. Ele comandou uma masterclass, e depois um jantar harmonizado no Restaurante Artusi para apresentar as diferentes safras e lançar em primeira mão no Brasil a safra 2016. Michel Friou comentou sobre as facilidades e as dificuldades que envolvem produzir um grande vinho, além da evolução da enologia e viticultura e a mudança do gosto das pessoas.
Para produzir um Almaviva podem ser vinificados até 150 lotes diferentes de vinhos, entre uvas, vinhedos, setores e até cubas. A tecnologia ajuda na obtenção de uvas no ponto ideal de maturação e um vinhedo é separado por parcelas e colhido pouco a pouco. Após cerca de quatro meses da fermentação, começa a definição do lote para o vinho final, principalmente a composição das outras variedades, como Carménère, Petit Verdot, Cabernet Franc e Merlot, que irão complementar a Cabernet Sauvignon, que é a espinha dorsal.
Na degustação, provamos cinco safras diferentes, entre as mais recentes (2016 - 2015) e outras mais antigas (2012 - 2009 - 2003) e, apesar do que muitos falam, o Almaviva não é um monolito que segue uma fórmula. Foi claro e muito interessante perceber a mudança de safras e até mesmo da equipe enológica. Outro ponto importante que percebemos através da evolução dos anos foi a adaptação do estilo ao que o mercado demanda. Escrevi muitas vezes sobre vinhos mais frescos, menos alcoólicos e com mais elegância, e isso está sendo buscado por lá, fugindo da "época das grandes notas para vinhos concentrados", como afirma Friou, referindo-se a um certo movimento de padronização dos vinhos do mundo buscando altas notas do famoso crítico Robert Parker.
Todos os vinhos provados refletiram de certo modo o clima da safra, como ficou claro entre um ano chuvoso de 2016, com um vinho com menos madeira e menos concentração; e outros como 2009 e 2012, mais densos e refletindo anos quentes. Dentre os que mais gostei, estão um equilibrado 2015, que trazia essa harmonia entre fruta intensa, muito corpo, mas com frescor, e potencial de evolução de cerca de 15 anos; e o 2009, que para mim está entrando no seu auge, com notas primárias e de evolução, e com taninos aveludados.
Sobre o autor
Eduardo Machado Araujo
Certified Sommelier - Court of Master Sommeliers
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