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Retorno ao terroir!


Publicado em 12/07/2013

Uma das mais belas e utilizadas palavras do mundo do vinho é terroir. Esse termo francês designa não somente a terra, mas o clima, as uvas e toda a ação do homem e a cultura de um local que no final se traduzem num grande vinho engarrafado.

O senso de um lugar pode ser expresso de uma forma intensa dentro de uma simples garrafa de vinho e, ao degustá-lo, você pode se ver nas belas colinas do Piemonte ou em meio ao cascalho de Châteauneauf-du-Pape, sentir o real motivo do porque aqueles vinhos são do jeito que são.

Mas, é nessa hora que outro estilo entra em cena, o dos chamados vinhos tecnológicos ou "parkerizados", como alguns falam, no sentido de seguir a linha de vinhos que recebem pontuações altas do mais famoso crítico do mundo, Roberto Parker.

São vinhos feitos em regiões fantásticas, com uvas excelentes, mas que recebem diversos tipos de tratamentos no processo de vinificação, mascarando um pouco o que o terroir lhe passou, mas deixando num estilo denso, alcoólico, com taninos doces, muito frutado e a inconfundível utilização de barricas de carvalho.

Micro-oxigenação, osmose reversa, adição de mosto concentrado, acidificação são algumas das práticas comuns utilizadas para seguir um padrão. Sim, o público consumidor adora esses vinhos e eles são realmente excelentes, fáceis de beber sem perder estrutura, complexidade, seus taninos intensos, mas, macios e doces, apelam muito bem à maioria dos consumidores.

É nessa hora que surge uma das muitas divisões e discordâncias entre os enófilos de plantão: entre o que seria um vinho sem manipulações e os tecnológicos.

Por um bom tempo, muitas vinícolas começaram a fazer os vinhos que mais pareciam bombas de frutas e com graduação alcoólica elevada, pré-requisitos para altas pontuações nos guias especializados e, logicamente, liberdade para inflar os preços. Os vinhos de todos os lugares do mundo começaram a ficar "parecidos" e o vinho que era fácil reconhecer como vindo de regiões clássicas como Bordeaux, por exemplo, começaram a se parecer cada vez mais uns com outros.

Maipo, Napa Valley, Pauillac, todos tinham semelhanças e pontuações astronômicas, beirando a "perfeição". Isso causou uma corrida para comprá-los, criou rótulos míticos, mas também gerou antipatia e muita rejeição. Por outro lado, produtores que se intitulavam naturais e que faziam vinhos que refletiam o que aquela região proporcionava, começaram a se movimentar para uma volta às origens e maior valorização desses vinhos de terroir e, hoje, como conseqüência, as palavras da moda nas rodas de sommeliers e enófilos são orgânico, biodinâmico e natural.

Não só o respeito à natureza, mas a pureza do vinho sem maquiagens se torna grande apelo. A preocupação com as altas graduações alcoólicas facilmente encontradas hoje em dia e a facilidade que esses vinhos mais frescos têm para acompanhar a gastronomia também influenciam.

Prove os dois estilos, conheça os dois lados da moeda, pois não adianta fazer parte de nenhuma dessas correntes se o vinho, no final das contas, não for bom.


Sobre o autor

Eduardo Machado Araujo

Certified Sommelier - Court of Master Sommeliers


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