Quando a natureza ajuda fica mais fácil!
Ano após ano algumas das principais regiões vinícolas do mundo sofrem com problemas climáticos e os produtores precisam torcer, rezar e muitas vezes lutar contra a adversidade para fazer bons vinhos. Como já disse numa coluna nesse espaço, alguns dos melhores vinhos do mundo são feitos em climas marginais, com muitos desafios, gerando vinhos também desafiadores. Outros estão em oásis regados artificialmente, com sol de sobra e a certeza de que não terão muitos problemas na grande maioria dos anos.
Por aqui temos um cenário mais parecido com o primeiro. Regiões muito úmidas, excesso de chuvas, frio e calor se confundindo em horas erradas, geadas e granizo. É tanta dificuldade que nossos produtores têm que trabalhar duro para extrair o que pode sair de melhor naquele ano. Nessa década tivemos duas safras consideradas excelentes no geral (claro que não vamos citar cada microrregião) que foram 2011 e 2012. Com a maior parte dos vinhedos localizados no Rio Grande do Sul e os dados mais relevantes vindos de lá, vamos focar nessas regiões.
A boa notícia que vem do Sul, e eu estarei lá durante uma semana pra conferir, é que esse ano acumula um clima absolutamente favorável e até mesmo histórico para a nossa safra. O inverno de 2017 foi um dos mais amenos dos últimos anos, com baixo acúmulo de horas frio (abaixo de 7,2Cº). O que no início poderia ser causa de temor, como a quebra da dormência das gemas das videiras, foi positivo pela saúde fitossanitária das videiras após a colheita 2017 gerando uma brotação vigorosa e uniforme.
Tivemos uma antecipação de até 20 dias no ciclo na maior parte das variedades. O excesso de frio diminuiu a floração e aumentou a concentração das uvas e a maturação de alta qualidade. Por fim, as chuvas de primavera e verão aconteceram dentro da normalidade e principalmente no verão até mesmo bem abaixo da média. As temperaturas amenas noturnas foram constantes e em alguns casos a amplitude térmica ultrapassou 20ºC.
Esses dados podem ser acompanhados no Vale dos Vinhedos, propiciando maturação excepcional até agora para os tintos elaborados de Merlot e com um ciclo favorável para a maturação das variedades mais tardias como Cabernet Sauvignon em março. Essa amplitude térmica também foi fundamental para a maturação das brancas mantendo o frescor necessário da acidez natural. Na Campanha Meridional teremos pela primeira vez após sete anos a elaboração do ícone Sesmarias da Miolo. Aliás, a Miolo confirma que esse ano estão sendo produzidos todos os seus vinhos ícones que dependem de safras excepcionais para serem elaborados.
Miguel Ângelo Vicente de Almeida, um Português obstinado fazendo vinhos no Brasil e um dos enólogos mais competentes que já conheci afirma que: “Nunca como antes vindimei uvas tão bonitas. Estou perante a, sem exagero, a melhor vindima da minha vida”. Agora aguardaremos ansiosos essa safra 2018 chegar ao mercado, algumas garrafas de brancos leves como o delicioso Almadén Riesling e o Miolo Reserva Sauvignon Blanc Colheita Noturna ainda nesse ano. Já outros, vinhos de guarda, como o Quinta do Seival Castas Portuguesas e o Sesmarias podem demorar até mais de dois anos.
Sobre o autor
Eduardo Machado Araujo
Certified Sommelier - Court of Master Sommeliers
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