Os vinhos de garagem produzidos no bairro João Paulo
O engenheiro agrônomo Adolfo Nunes Corrêa, é um grande apreciador se vinhos. Natural de Tubarão, no Sul de Santa Catarina, ele presenciou desde pequeno as plantações de uvas naquela região, pois era comum as famílias cultivarem a fruta em suas residênciais. Com a mudança para Florianópolis, especificamente para o bairro João Paulo, ele vislumbrou, junto com a esposa Nelsiria, o cultivo de seus próprios parreirais e a sua própria produção de vinhos, aos quais se dedica há uma década.
Ele conta ao Imagem da Ilha sobre a sua trajetória com os "vinhos de garagem":
Imagem da Ilha: Há uns 6 ou 7 anos fizemos uma matéria sobre o seu plantio e vinificação em pleno centro urbano, aqui no João Paulo. Para relembrar, quando foi a primeira colheita, e quantas já foram colhidas até agora?
Adolfo Nunes Correa: O plantio de algumas uvas aqui em nossa casa começou em 2011, quando viemos morar no Bairro João Paulo. Sempre apreciamos as “parreiras”. Na nossa cidade, em Tubarão, na década de quarenta/cinquenta, era comum as famílias cultivarem alguns “pés” de uvas (videiras) no quintal. Urussanga e municípios vizinhos se destacavam na produção de uvas e vinhos. Aliás, continuam se destacando. É gratificante visitar as vinícolas daquele belo vale catarinense.
Imagem da Ilha: O solo do teu terreno é trabalhado? Há irrigação, proteção das plantas ou trabalhas com o tempo?
Adolfo Nunes Correa: O solo foi preparado e covas bem adubadas para receberem a mudas de uvas Cabernet sauvignon, Syrah e Sauvignon Blanc. Nós temos irrigação feita através de gotejamento, com água armazenada das chuvas. Para proteger as plantas (videiras) colocamos “filme plástico”. O clima nesta região é muito úmido e as plantas frutíferas ficam sujeitas a ataques intensos de fungos. A ação de pássaros e insetos também é intensa, o que nos obriga a colocar redes laterais para protegê-las melhor. Desta forma as protegemos melhor também das chuvas constantes. Já o cultivo empresarial busca “terroir” apropriado em outras localidades.
Imagem da Ilha: Como você administra essa colheita, já que o número de vinhas aumentou significativamente?
Adolfo Nunes Correa: Na safra de 2020 projetávamos colher o mais tarde possível (fevereiro), buscando um maior teor de açúcar (sacarose). Mas chuvas intensas de janeiro nos levaram a colher na segunda quinzena daquele mês.
Imagem da Ilha: Quais as uvas plantadas e que vinhos você produz, algum blend?
Adolfo Nunes Correa: Colhemos aproximadamente 70 quilos (Cabernet sauvignon 48%, Syrah 31% e Sauvignon blanc 21%) que foram armazenados por alguns dias na adega (no porão da casa).
Imagem da Ilha: Como é feito o processo de vinificação? Poderia ser considerado um vinho de garagem?
Adolfo Nunes Correa: Usamos pequenos tanques de inox (50 litros cada tanque) para fermentação. Depois fazemos a “descuba” (separação das uvas esmagadas do líquido), e também realizamos o primeiro transvase. Eu realmente produzo um vinho de garagem.
Imagem da Ilha: Ao longo destes anos o que mais lhe surpreende de uma colheita para outra?
Adolfo Nunes Correa: Fico surpreso, sempre, quando algumas pessoas se aproximam das plantas e as entendem em numa grande sintonia. Com arte e sincronia, elas as podam e elas retribuem. Vale observar o entendimento dessas pessoas com as plantas. Arte, paixão, técnica, ciência e trabalho. Admiro muito.
Imagem da Ilha: Apesar de ser um processo trabalhoso este de produzir o seu próprio vinho, o que mais lhe anima a continuar?
Adolfo Nunes Correa: Sim, é como disseste, o processo é trabalhoso... e reflexivo. Nos ensina a admirar e respeitar os que se dedicam e produzem vinho através dos anos e gerações.
Imagem da Ilha: Nesta safra de 2020, como está o processo? Qual a sua avaliação do produto final? Quantas quilos foram colhidos, e quantas garrafas produzidas?
Adolfo Nunes Correa: O processo está bem encaminhado, caminhando bem. O clima foi favorável para as fruteiras, em geral, no segundo semestre de 2020. A pequena quantidade de uva nos conduz ao “blend”. Este ano estamos com 70 plantas e colhemos 70 quilos de uvas. Estimamos a produção de 35 garrafas. O grau alcoólico está por volta de 12%. Daqui uns dois ou três meses apreciaremos a evolução.
Fotos: arquivo pessoal
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