Passeio pela Serra Gaúcha
Ano novo, mas o roteiro é o mesmo. Há 10 anos visito as principais regiões vinícolas nacionais para me envolver com produtores e aprender cada vez mais. Este ano, infelizmente, não consegui ir até a Campanha, mas na recente visita ao Vale dos Vinhedos (RS) pude rever amigos, aprender com novos produtores e conhecer alguns garagistas que há tempos vêm fazendo seus vinhos de forma muito pessoal.
A safra iniciou como uma ótima promessa, lampejos de 2012 e a esperança de resultados históricos. As estações mais definidas ajudaram as diferentes fases da maturação, mas alguma chuva aqui e acolá e outras dificuldades mantiveram a safra boa, porém, com a obrigação de muita atenção e cuidado. Mais uma vez a natureza está dando as cartas e desafiando os produtores. Quem tem cuidado, paciência e sabe ler cada detalhe está colhendo bons frutos.
Os vinhos base espumante têm tido ótimos resultados; algumas uvas mais tardias ainda aguardam a maturação adequada, mas o cenário na Serra Gaúcha esteve fantástico numa fase em que tudo aconteceu. Tem gente aguardando, colhendo e vinificando.
A onda dos “vinhos naturais”, termo que causa muito debate e tensão, tem aumentado bastante. Há uma década era muito difícil encontrar pessoas fazendo seus vinhos – de uvas próprias ou compradas –, nas garagens de sua casa, sem o uso de produtos enológicos como um todo ou em excesso, trabalhando com o que a natureza manda. É legal ver a obstinação dessas pessoas e a sua filosofia de trabalho, sua crença no que fazem e também o fator colaborativo desse sistema, onde amigos, visitantes e familiares botam a “mão na massa”, nas prensas, uvas e tanques para ajudar no que podem. Foi fantástico conhecer o trabalho de Eduardo Zenker, em Garibaldi, e da Lizete Vicari, que saiu da Praia do Rosa e retornou ao Vale dos Vinhedos, mais próxima de suas vinhas.
É também fantástico observar o crescimento daqueles que evoluem todo ano em uma escala maior e conseguem aprender mais com a natureza, utilizando esse fator a seu favor para produzir vinhos cada vez mais puros e que refletem o seu local. Bato ponto nos amigos da família Angheben, em Bento Gonçalves, e lá percebo claramente esse estilo impresso em seus vinhos.
Nas ondas dos ótimos espumantes nacionais fui também até Pinto Bandeira, região que está cada vez mais identificada com esse estilo de vinho e receberá em breve a primeira Denominação de Origem Brasileira para espumantes. Vinhos deliciosos na bela Don Giovanni, um atendimento especial com espumantes ótimos e também diferentes, como um tinto, e outros com passagem em barrica de carvalho, na Valmarino. Isso tudo ao lado dos Caminhos de Pedra, estradinha com diversas atrações turísticas no estilo colonial, com vinícolas, restaurantes e lojas típicas.
As vinícolas se especializaram no turismo, visto a charmosa Cristófoli, em Faria Lemos, que tem o seu trenzinho, edredom para piquenique nos vinhedos e até mesmo um restaurante dentro da antiga cave. Pra chegar lá, esqueça a rodovia! Desça na linha Leopoldina e vire no Vale Aurora, uma estradinha de chão que faz você voltar no tempo algumas décadas, com uma vista única e digna de cartão postal. Após alguns quilômetros você chegará praticamente no Campanário da Igreja de Faria Lemos, com outra vista especial, e muito perto da Cristófoli. Não tem erro, recomendo! A próxima viagem é para o Planalto Catarinense. Depois eu conto aqui como foi!
Sobre o autor
Eduardo Machado Araujo
Certified Sommelier - Court of Master Sommeliers
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