Os desafios extremos para os produtores de vinhos
Passada uma semana da forte nevasca que aconteceu em dezenas de cidades do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, tenho visto diversas notícias sobre climas extremos ao redor do mundo.
Apesar da neve por aqui, aquele vídeo que você pode ter recebido com diversas “velas” acesas no meio de um vinhedo, supostamente na Serra Gaúcha, infelizmente (ou felizmente), é fake news. Isso aconteceu por volta de março, na Borgonha, e lá os produtores estavam no começo da brotação e enfrentaram uma forte geada tardia, extremamente nociva para as vinhas naquele período. Mesmo com as tentativas de proteção, muitos produtores perderam até 85% da sua produção desse ano. Por aqui, mesmo com esse frio intenso, não é necessário nenhum tipo de proteção para as vinhas, pois estamos no inverno e o frio é até bem-vindo nessa época em que os vinhedos estão em estado de dormência, ou seja, sem nenhum tipo de processo de brotação.
Mas, olhando ao redor, não é só de frios extremos e fora de hora que os vinhedos do mundo estão sofrendo. Novamente, temos uma forte onda de calor e incêndios selvagens afetando diversos países, como Turquia e, falando de vinhos, principalmente o Oeste dos Estados Unidos. Por lá, ano após ano, esse problema se agrava cada vez mais e quando não temos vinhedos totalmente destruídos e até vinícolas queimadas ao chão, temos problemas de “smoke taint”, que acontece quando a fumaça dos incêndios atinge as uvas e impregnam seus sabores e aromas fazendo com que a qualidade despenque e que muitos produtores nem consigam vender ou comprar uvas. Aliás, por lá o problema é tão grande, que alguns produtores, como Cyril Chappellet, afirma que se continuar como está, em poucos anos eles estarão fora do mercado. Até mesmo as seguradoras estão se recusando a segurar os produtores locais e quando o fazem os preços da apólice atingem a casa dos milhões de dólares, antes chegava a 1/5 do valor.
Mas, como falei, os climas extremos estão por toda a parte. As regiões vinícolas da Alemanha, Áustria, Luxemburgo e arredores foram devastadas por uma tempestade com volumes impressionantes de chuva que os rios locais não deram vazão. As famosas paisagens do Mosel estavam irreconhecíveis com muitas vinícolas alagadas, mas o pior foi na pequena e antiga região do Ahr, mais ao Norte, por lá o pequeno rio que corta a região não suportou o volume e a chuva varreu a pequena cidade, muitos de seus vinhedos e destruiu completamente as instalações das excelentes vinícolas locais, levando barricas, garrafas e infelizmente algumas vidas.
Lembro também da África do Sul que chegou no marco zero da água disponível e hoje está sofrendo com anos e anos de secas intensas e não precisamos ir muito longe. Quando lembramos que as últimas safras brasileiras foram consideradas “históricas” pensamos numa mudança de padrão de um clima que sempre foi mais úmido e não tão quente e que hoje cada vez mais temos safras intensas e solares que podem beneficiar algumas culturas, mas com certeza prejudicam outras.
Com certeza com todos esses exemplos, ano após ano, não podemos deixar de pensar nessa mudança climática e para onde iremos. Regiões como Champagne e Bordeaux que recentemente aprovaram novas uvas e novos métodos de condução de vinhedos já pensam nessas mudanças e mesmo sem agradar a todos e com muita polêmica trabalham para amenizar e tentar prever o que pode ajudar os produtores locais no futuro.
Quem não está agindo para se adaptar a essa realidade, já está atrasado!
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Sobre o autor
Eduardo Machado Araujo
Certified Sommelier - Court of Master Sommeliers
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