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O renascimento de Chianti, por Eduardo Machado Araujo

Chianti está renascendo, com um foco renovado na qualidade e no terroir autêntico das colinas toscanas. (Foto: Divulgação)

Publicado em 21/11/2024

Fiasco! Esse nome é típico e familiar para quem conhece Chianti, mas o nome pode ter tido outra conotação com o tempo se pensarmos na qualidade que muitos Chiantis tiveram.

Mas, Fiasco é o nome da tradicional garrafa bojuda envolta com palha que decora cantinas italianas pelo mundo e virou um dos símbolos locais.

Chianti sofreu com a própria fama, assim como diversas regiões italianas, sua área delimitada foi crescendo com o tempo para suprir a demanda e sua qualidade ficou totalmente heterogênea. São 7 sub-regiões (9 contando com Chianti Classico e Chianti) que anexam o nome de sua cidade mais próxima, como Chianti Colli Pisane, Pisa, Chianti Colli Senesi, Siena e Chianti Rufina, a menor e mais continental próxima a vila homônima. 

Na Itália, como manda a tradição, sua área original anexa o nome “Clássico” e Chianti Clássico é a origem da DOCG nessa área alta e montanhosa com solos especiais entre Siena e Firenze. Para muitos essa é a primeira região demarcada do mundo quando o Duque Cosimo III de Medici definiu seus limites geográficos e penalidades pela falsificação dos vinhos desta área em 1716.

Aliás, o símbolo do Chianti Clássico é o Galo Nero. Na idade média Firenze e Siena guerreavam arduamente, inclusive pela delimitação de Chianti Clássico. Após muito tempo de briga, os líderes locais decidiram adotar uma disputa diferente. Enviariam dois cavaleiros, um representando cada reino e fixariam a fronteira no exato ponto de encontro entre eles. A largada seria dada com o canto de um galo. Os senenses escolheram um bonito galo branco, bem alimentado que não errava o horário de seu canto. Já os florentinos, sabendo que tinham cavalos mais lentos, escolheram um galo de penas pretas, mal alimentado que apareceu alguns dias antes. O galo cantava sempre que estava com fome, e em jejum começou muito cedo pedindo por comida, fazendo com que o cavaleiro florentino saísse antes, levasse vantagem e Firenze ganhasse a disputa pela região.

A principal uva de Chianti é a Sangiovese, mas ela pode ser misturada com outras variedades, inclusive em algumas denominações como a genérica “Chianti” com uvas brancas, para “suavizar” e deixar mais fácil de beber de acordo com o decreto de 1872 do Barão Bettino Ricasoli. 

Com leis brandas, aumento de território e mistura de uvas muitas vezes consideradas mais simples, a imagem da região sofreu muito. Mas, ultimamente a busca por vinhos de terroir, sem maquiagens e mais frescor levou o foco novamente para Chianti Clássico e Rufina, principalmente.

Essas regiões se beneficiam de altitude, exposição, solos (albarese e galestro) e principalmente uso exclusivo de uvas tintas e a volta de variedades de qualidade inclusive com seleção dos melhores clones de Sangiovese, tudo aliado a vinificações mais delicadas e produtores voltados a menos quantidade e mais qualidade.

Com essa mudança os olhos dos principais Sommeliers e especialistas se voltaram novamente às colinas de Rada, Greve, Castellina e Castelnuovo Berardenga, a zona de Chianti Classico. A qualidade aumentou muito e com a fama e alta demanda por Brunello di Montalcino que fez com que seus preços explodissem, a busca por Sangiovese in Purezza achou seu porto seguro por lá. 

O Consorzio também valoriza a qualidade com regras mais rígidas e nomenclaturas como Riserva e Gran Selezione para seus vinhos mais especiais vindo de vinhedos únicos da propriedade do produtor.

Produtores como Monteraponi, Cigliano di Sopra, Gabriele Buondonno, Castel’in Villa e Tenuta di Carleone são grandes exemplos de produção sustentável, busca incansável pela qualidade e valorização do terroir.

Não por acaso essas expressões de Chianti Classico estão sempre na minha taça.

 

 

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Sobre o autor

Eduardo Machado Araujo

Certified Sommelier - Court of Master Sommeliers


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