O arroz, o feijão e... o caviar!
Ingredientes comuns se transformam em delícias exóticas e fashionistas
Em toda semana de moda, mesmo sendo carregada de tendências, pirotecnias e looks bizarros, “básico” e “fashion” são palavras certas nas rodinhas de conversas de especialistas ou mero influencers.
Básico é jeans e camiseta, o feijão com arroz das passarelas.
Um duo sempre presente em todos os corpos e em todas as mesas.
A combinação dos dois alimentos é perfeita, pois além de serem riquíssimos em nutrientes, os aminoácidos que faltam em um, estão no outro: a lisina que falta no arroz é abundante no feijão e a metionina pobre no feijão, é rica no arroz.
Os pares perfeitos: jeans e camiseta… arroz e feijão!
E mesmo sendo um par perfeito, nada contra uma infidelidade gastronômica visando maior prazer a quem degusta.
É prazerosa a traição do arroz com diversos parceiros, uma suruba de sabores como o simples arroz de forno da casa da vovó, até o tradicional arroz pilaf, prato turco regado com puro azeite.
Isso sem citar as muitas infidelidades do arroz na composição dos risotos.
O feijão pode parecer mais fiel, pois sempre vem com o parceiro arroz: na feijoada brasileira, no cassoulet francês e até na dobradinha portuguesa.
O feijão faz também seu vôo infielmente solo na cozinha baiana: do feijão fradinho surge a massa tanto para o abará, onde é misturado com camarão seco e cozido no vapor embrulhado em folha de bananeira, quanto para o acarajé, bolinho frito no azeite de dendê…
Aliás, uma Bahia sem dendê é como uma Grécia sem azeite.
É também infielmente brilhante em pratos memoráveis como feijão tropeiro!
Jeans e camiseta... básico como feijão e arroz, mas não necessariamente comum.
Mas, se feijão e arroz é “básico”, “fashion” pode ser o caviar, ao sul da Rússia e ao norte do Irã, vivem os esturjões nas águas salgadas do Mar Cáspio.
O fashion esturjão, um peixe jurássico, com suas ovas escuras, quase pretas… epa!
Se é preto é básico.
Sendo assim o caviar é o “pretinho básico” tão exaltado no mundo fashion, como o feijão preto na feijoada bem brasileira.
E se o preto é básico, fashion então serão as ovas do salmão de cor alaranjada brilhante, quase vermelha, e sabor de brisa do mar?
Não ovas de salmão colorido dominante nos cardápios japoneses vulgares e de restaurantes sem personalidade, mas o salmão nativo, o salmão selvagem, aquele das costas do Atlântico Norte e Pacifico e se alimenta de maneira natural com peixes, algas e crustáceos… e não de ração que tem a soja e o milho como base.
O salmão nasce em água doce, desloca-se para o mar e retorna para a água doce em época de reprodução.
Não nasce no laboratório e se reproduz em um tubo de ensaio.
Talvez seja considerado rei dos peixes por muitos por sua cor rosada, ou talvez pela textura de sua carne gordurosa ou até pelo sabor surpreendente de suas ovas.
E mesmo sendo fashion pode ser básico, pois jeans e camiseta com sapatos Louboutin e brincos Antonio Bernardo não é nada básico, mas também não é exageradamente fashion… tem o tempero certo.
Ser fashion é um desafio tão básico quanto usar produtos triviais, arroz e feijão, com um toque das ovas de salmão e um peixe de pele furta-cor, o fashion pargo!
Não existe combinação proibida ou impossível quando se trata de boa gastronomia!
Não existe o “não combina” quando os insumos são tratados com talento e bom senso.
Tudo em gastronomia pode, e deve, ser basicamente fashion ou um básico fashionistas
Salve o nosso feijão com arroz!
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Sobre o autor
André Vasconcelos
Cozinheiro raiz e autodidata, hoje no comando de sua Cozinha Singular Eventos e d'O Vilarejo Hospedaria e Gastronomia, onde insumos e técnicas são a base de cardápios originais e exclusivos... e aprendiz de escritor também!
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