MIAMI PARA SER DEGUSTADA
Cidade vai além de praias e shoppings e se rende à gastronomia impecável
Uma cidade de praia que recebe, há décadas, quase 10 milhões de turistas todos os anos deve ter lá seus encantos. E um deles certamente é a gastronomia. Miami é hoje uma praia cosmopolita que deixou para trás a fama de ser somente o refúgio de cubanos e mexicanos ilegais para se transformar no destino de milhões de turistas e investidores do mundo inteiro. Não é mais só de outlet e baladas que vive a capital da Flórida. Miami pulsa uma cultura mundial, que se reflete não só em museus e galerias de arte, hoje em profusão pela cidade, mas também na gastronomia. Se, num primeiro momento, os temperos caribenhos e sulamericanos enriqueceram a junk food americana, agora a cidade vive a invasão de outras tribos que têm levado sabores da Rússia, da Ásia, do interior da Europa e até da África. Chefs consagrados estão colocando seu pé por lá e abrindo novas portas, desenvolvendo um nicho importante para o pulsante turismo e fazendo surgir experiências gastronômicas inigualáveis.
Confira alguns dos endereços que eu e meu marido conferimos na última viagem, no final de outubro, e veja o que descobrimos por lá. Mas, antes, só deixo aqui duas dicas importantes: primeira, planeje sua viagem e reserve ainda no Brasil os lugares que vai querer conhecer para não correr o risco de ser “barrado no baile”; segunda, fuja dos “caça-turistas”, aqueles restaurantes da Ocean Drive. Eles não são tão baratos quanto promovem, e a comida é congelada e mal preparada. Se você gosta do astral, minha sugestão é: compre um drink do tipo 2x1 e então caminhe ao longo dos restaurantes para curtir o clima. Depois, pegue um táxi e vá a um restaurante de verdade.
A magia da cidade que vê surgir uma cultura mundial pulsante e também umanova gastronomia
No Carpaccio peça um... carpaccio!
Ele, na versão simples e deliciosa derúcula e parmesão
O Carpaccio é um restaurante italiano clássico, instalado no boulevard externo do Bal Harbour Shops, o mais sofisticado da cidade. Já estivemos lá por três anos seguidos e o padrão do restaurante não muda: excelente atendimento, ambiente aconchegante, comida impecável e no melhor estilo confort food. Ele é aquele tipo de restaurante que não tem erro, sempre será uma boa indicação seja qual dia for.
Os pratos principais – à base de carnes, peixes e crustáceos - são preparados com esmero, alguns com 12 ou 14 horas de cozimento. Mas a melhor pedida está mesmo na entrada, e que seja um carpaccio! Eles têm cinco tipos a escolher, um melhor que o outro. Il Carpaccio Manzo, ou seja, de filé mignon, é servido em três versões: Arugola and Parmigiano (rúcula e queijo parmesão), Carciofi and Parmigiano (com alcachofra) e o meu preferido, Portobello and Parmigiano (com cogumelos). Na versão Il Carpaccio Fish, eles usam o salmão com rúcula e parmesão e no swordfish (peixe espada) o prato é combinado com finas fatias de laranja, pimenta rosa, limão e azeite de oliva. O pão italiano quentinho que vem para acompanhar faz desta seleção de carpaccios um programa imperdível.
(9700 Collins Ave, Bal Harbour - Telefone:+1 305-867-7777 - www.carpaccioatbalharbour.com)
SeaSalt and Pepper, para ver e ser visto
Entre os mais de mil objetosgarimpados ao longo do Miami Riverestão os lustres de vime, tradição dospescadores locais
Quer conhecer um lugar diferente, arrojado, ambiente top, na beira do canal, gastronomia super contemporânea e com uma atmosfera “para ver e ser visto? Vá à mais nova sensação de Miami, o SeaSalt and Pepper. Freqüentado por um público exigente, mas altamente descolado, o lugar é charmoso na essência. Foi todo conceituado num antigo galpão e ganhou uma decoração rústico-elaborada bem bacana. Por estar numa região de pescadores, o arquiteto Alberto de La Torre e o artista Carlos Bentancourt utilizaram mais de mil objetos de pesca e artesanato que encontraram ao longo do rio. Na parte externa tem uma varanda transada que dá para a margem NW do Miami River. É ali que chegam os ricos e famosos de super iates, já que o canal comporta embarcações de até 225 pés (pasmem!). Na noite que estávamos ali, dois mega-iates estavam ancorados e, em um deles, o serviço do restaurante foi todo feito a bordo.
O Seasalt é muito bem servido de pessoal. Maitres, garçons, recepcionistas e ajudantes por toda parte dão a impressão de que há um funcionário por cliente. Ninguém te deixa esperando. Legal também é dizer que, apesar do clima “balada chic”, e de ser freqüentado por celebridades do tipo David Beckham, crianças são bem-vindas. Há um menu kids e elas ainda recebem, assim que chegam, giz de cera com livrinhos para colorir.
A gastronomia é outro ponto forte. A especialidade, claro, frutos do mar. Mas deu para sentir que eles navegam bem em todas as ondas. Antes de você pedir a entrada, chega à mesa uma schiaccina quentinha de parmesão e oliva com creme de ricota, para abrir os trabalhos. Uma maravilha. De entrada pedimos uma espécie de salada caprese (Beef Tomato Burrata) e já ali deu para notar a ousadia da cozinha. O queijo vem todo empanado em panko, bem quente, sobre a cama de tomate e molho pesto. É uma explosão de sabores à primeira mordida.
Para o prato principal a minha escolha foi o Chilean Sea Bass, recomendadíssimo pelo maitre. O peixe vem numa cumbuca de ferro, onde é gratinado com batata e trufas. Divine! E meu marido foi de Costela de Cordeiro que só a aparência já é uma obra de arte.
Depois de viver todas essas delícias, lembro agora do porteiro, super simpático, que nos recebeu dizendo: “Welcome to the Seasalt and Pepper! The right place and the right time!” Ele tinha toda razão.
(422 NW North River Drive – Telefone: +1 (305) 440-4200 – seasaltandpepper.com)
Casa Tua, o must to go em South Beach
Tiramisu Casa Tua, especialíssimo como o lugar
Até virar modinha nos blogs e entrar no roteiro das celebridades em Miami, o Casa Tua era só um restaurante italiano, sofisticado e elegante, no coração de South Beach. Hoje, Jennifez Lopez, Cameron Diaz e Leonardo Di Caprio concorrem por uma mesa. E olhe que o lugar não tem sequer uma placa indicando que ali tem um restaurante. É endereço para quem conhece os hits de Miami. Portanto, fica a dica: nesse restô faça a sua reserva antes mesmo de sair do Brasil, senão não rola.
O Casa Tua é considerado pela crítica gastronômica o melhor italiano de Miami. E não é por menos. O menu, que vem sendo lapidado nos últimos 30 anos pela família fundadora e que até hoje toca o negócio, é uma iguaria por si só. Os antepastos têm uma diversificação enorme: de polvo grelhado, passando por burratas e outros queijos até chegar ao caviar Petrossian. E à mesa, o garçom serve em ritmo non-stop, pãezinhos especiais, grissinis e foccacias recém saídos do forno.
A grande pedida, comprovada pelo amigo anfitrião que estava nos acompanhando, o Osvaldo Macedo, é um tagliarini com cogumelos e trufas italianas. Meu marido escolheu outra massa e não menos gostosa: um raviolini com shitake e presunto parma. Para a sobremesa, não pude resistir ao famoso Tiramisu à moda Casa Tua. Fantástico, levíssimo e que leva um creme de chocolate inesquecível.
O que poucos sabem é que na parte superior deste sobrado da Avenida James, que abriga o Casa Tua, há um hotel boutique de mesmo nome e um clube privativo para grupos fechados. Balançou? Faça sua reserva.
(1700 James Ave, Miami Beach - Telefone:+1 305-673-1010 - casatualifestyle.com)
The Cheesecake Factory, um clássico americano
Cheesecake, a especialidade da casa, em mais de 50 versões
Presente nas principais cidades dos EUA o The Cheesecake Factory também brilha em Miami com a mesma intensidade que o sol. São quatro restaurantes, nos principais shoppings da cidade. O cardápio, com produtos frescos e comida feita na hora, deixa cair por terra a impressão de se tratar de um fast food arrumadinho. Com mais de 200 opções de saladas elaboradas, pizzas, massas, pratos especiais com carnes, aves e frutos do mar, tem ainda uma seleção prime de hambúrgueres de cinema.
Nesta última viagem acabamos indo duas vezes ao Cheesecake, a primeira no Aventura Mall para um almoço rápido e na outra no fim de uma jornada no outlet Sawgrass Mills. Eu investi num clássico deles chamado Steak Diane e acertei em cheio. São Medalhões de Filé Mignon certificado, temperados com pimenta negra e um rico molho de vinho e cogumelos. O prato é servido com purê de batatas, cebolas grelhadas e um mix de folhinhas verdes para aliviar a consciência. Muito bom.
Os hambúrgueres são outra especialidade que deve ser considerada. De tão glamurosos ganharam na casa um cardápio especial só para eles: o Glamburguers. Há versões clássicas, veganas, old fashioned e até Kobe, feito à base de cogumelos.
Há ainda o cardápio que eles chamam de Skinylicious, com opções leves de até 400 calorias para um pequeno almoço. São porções menores que do cardápio tradicional ou preparadas com alimentos menos calóricos. Excelente opção para quem não está podendo. E para quem está, a casa oferece nada menos que 50 tipos diferentes de cheesecakes e sobremesas especiais. Na semana que estivemos lá o hit era a Pupkin Cheesecake, em homenagem ao Halloween.
Juvia, alto astral na melhor vista de Miami
Sofisticação despretensiosa, debruçada sobre Miami Beach
Ir ao Juvia é sempre uma experiência única. Não importa quantas vezes você já tenha ido. O ambiente é lindo. Ocupa a cobertura de um edifício em plena Lincoln Road, de onde se avista o mar e boa parte de South Beach e Miami Beach. O astral é sensacional. Djs tocando ao vivo numa área externa com deck e gente pra lá de bonita. A decoração chique, porém despretensiosa, de móveis amplos e confortáveis tem seu ponto alto num jardim vertical com mais de 30 metros de extensão. Do lado de dentro, separado apenas por uma divisória de vidro, o ambiente é mais techno e evidencia a cozinha em aço inoxidável e super equipada do restaurante, de onde se pode assistir aos chefs em sua coreografia mágica.
Cada prato parece ter saído de uma sessão de fotos diretamente para a sua mesa, de tão perfeita e metódica que é a apresentação. Pequenas obras de arte que escondem sabores e aromas asiáticos, baseados em gengibre, tarê, wasabi... Difícil é fazer a opção no cardápio complexo e de difícil tradução, já que usa um inglês gastronômico rebuscado com ingredientes orientais não tão conhecidos. O menu é uma mistura harmoniosa das cozinhas regionais da Ásia preparadas com técnicas clássicas francesas e os sabores vibrantes e ingredientes da América do Sul e Flórida.
Desta última, pedimos de entrada um Sauteed Foie Gras, laminado com chutney de manga e abacaxi, uvas frescas e avelãs. Muito equilibrado, já que o toque doce evidencia ainda mais o sabor do Foie Gras. Como prato principal, acertei em cheio: Milk Fed Pork Confit,um confit de porco lindamente disposto sobre uma cama de repolho azedo, com shitake e um molho vitrificado de mel e gengibre. Róger, meu marido, também foi feliz com a sua escolha: Seared Tuna, um atum levemente grelhado e cortado em lâminas, com salada de abacate e tomate e arroz jasmim. Destaque para o molho de cebola caramelizada em redução de shoyu. Combinação perfeita.
Ponto negativo? Sim. O atendimento. De tão presente, tão atencioso, tão intenso, fica chato. A menina que nos atendeu era insistente, ia à nossa mesa a cada três minutos, queria explicar muito sobre cada prato, falava demais e realmente incomodou.
(1111 Lincoln Rd, esquina com a Lenox – telefone +1 305-763-8272 www.juviamiami.com)
The Forge, visita obrigatória
A carne do The Forge é certificada e está entre os Top Ten dos EUA
Apenas um discreto “F” sobre a porta da rua, indica que ali no número 432 da 41 street, fica o The Forge, reduto de quem aprecia a boa e alta gastronomia. O ambiente do restaurante consegue ser ultra sofisticado e ao mesmo tempo deixar os convivas tão à vontade como se estivessem na casa de amigos. É como se o requinte fosse uma forma de valorização da cozinha que ali se pratica e não uma ostentação por si só. Além de cinco salas de jantar dramaticamente elegantes, há ainda o Grand Tasting Room e o Bar Forge. Às quarta-feiras, há mais de uma década, o The Forge tem a tradição do Wednesday Night Dinner Disco, onde a casa põe todo mundo pra dançar ao som dos anos 70.
Já estivemos no The Forge em duas ocasiões e foram inesquecíveis. Na primeira, no ano passado, fomos com um casal de amigos comemorar os mais de 20 anos da união deles. Primeiro, custamos a achar o local pelo fato de não ter identificação na entrada. Mas depois que entramos, a dificuldade foi o contrário: sair de lá. É um lugar para se comer sem pressa, para degustar entradas e vinhos, para por a boa conversa em dia, enfim, para celebrar as boas coisas da vida.
Da segunda vez, mês passado, o astral conseguiu estar ainda melhor e mais divertido. Era o Dia das Bruxas e a festa de Halloween rolava solta, com garçons fantasiados e muitos dos convidados já à beira da embriaguez. Uma drag queen produzidíssima, que fazia pequenos shows, animava a turma nas mesas e colocava parte para dançar. Fui servida pelo Batman, Elton John e também por um gentil índio apache. Nos divertimos muito. E, de sobra, comemos e bebemos muito bem.
O The Forge tem uma parceria forte com a Veuve Cliquot e os preços são sempre bons. Para se ter ideia, o preço de uma garrafa de champanhe desta marca no supermercado em Miami custa em torno de 75 a 80 dólares, dependendo da edição. Lá no restaurante estava por 50 dólares, geladinha em taças de cristal. Como não beber?
Uma das curiosidades deste restaurante que já foi uma forjaria nos anos 30 e fazia as grades e portões personalizados das mansões de Miami, é a sua adega. São oito cômodos com mais de 300 mil garrafas vintages. É considerado por enófilos uma das melhores coleções do mundo. As garrafas mais raras, incluindo uma 1792 e uma de 1822 Madeira Chateau Lafitte Rothschild – estão avaliadas em $ 150 mil. Todas, obviamente, devidamente guardadas por grades de ferro da velha forjaria que dá nome ao restaurante. Excursões privadas à adega podem ser solicitadas já na reserva e os sommeliers Gino e George irão te guiar. A coleção é consistentemente reconhecida pela Wine Spectator, que atribuiu ao restaurante suas mais altas honrarias - The Grand Award and 2002 Best of Award of Excellence.
A experiência da entrada valeu por todo o jantar. Pedi um “Beef Tartar” que surpreendeu pela apresentação. A carne magra, finamente picada na ponta da faca, vem à mesa com uma gema crua de ovo de codorna e vários temperinhos para serem misturados na hora: cebola, mostarda, cebolinha, mel, raspas de limão etc. É o garçom que faz a preparação na hora. Me lembrou os tradicionais hackepetters de Joinville.
O restaurante, que é certificado pela qualidade da carne que serve, é considerado entre os dez melhores endereços dos EUA. Fomos verificar. Pedimos um “Bone-In Dry Aged Porterhouse”, que nada mais é do que um T-Bone maturado, com alcatra de um lado e filé mignon do outro. Simplesmente maravilhosa e super macia. Veio acompanhada de uma batata de forno com cebolas caramelizadas e molho de queijo. Serve duas ou três pessoas.
Algum ponto negativo? Definitivamente, não.
(432 41st St, Miami Beach, Telefone:+1 305-538-8533 – www.theforge.com)
Ruth´s Cris, templo da carne
Meu pedido, Baby Beef, só fez por merecer a boa fama da casa
Este é para os amantes da carne. Um verdadeiro templo, um clássico com mais de 140 restaurantes nos Estados Unidos, que se autointitula no segmento de “carnes de luxo”. Conheci uma delas, em Coral Gables, a convite do amigo Osvaldo Macedo, que há mais de vinte anos freqüenta Miami e seus melhores endereços. Realmente, a fama condiz com a realidade. Uma curiosidade é que a carne, de origem certificada e com cortes personalizados, chega à mesa chiando. Isso porque, depois de selarem a peça em ferro a 980 graus, a carne é temperada com sal e muita, muita, muita manteiga e colocada numa travessa de cerâmica aquecida a 280 graus, diretamente para a mesa. O aroma do restaurante é inconfundível e o termo “chiar” – sizzle em inglês - está sendo reivindicado pelo restaurante como exclusividade do método de cozimento, assim como grelhar, fritar ou refogar. Acho que é merecido.
Fomos no tradicional e pedimos dois clássicos da casa: o T-Bone e o Baby Beef. Bingo! Muito interessante também a forma de servir saladas. Pedimos uma de alface americana com bacon e molho de blue cheese, a “Lettuce Wedge”. Fantástica, o pé de alface vem inteiro (sem abrir as folhas). Claro, já copiei e fiz em casa assim que cheguei de viagem.
(2320 Salzedo Street, Coral Gables – Telefone (305) 461-8360 – www.ruthschris.com)
Fratelli la Bufalla, uma bela descoberta
As pizzas napolitanas, como esta de presunto, são as boas pedidas do Fratelli
Não é tão bonito. Mas é muito bom e barato. O Fratelli La Bufala foi um achado. Anos atrás, depois de uma tentativa frustrada de ir ao Joe´s Stone Crab sem fazer reserva, ficamos à deriva procurando por um restaurante ali em South Beach. E foi aí que descobrimos sem querer esta cantina italiana que tem a melhor burrata do mundo, na nossa opinião. A família que toca o negócio recebe duas vezes por semana, diretamente de Nápoles, uma remessa de mussarelas de búfala e de burratas. São impagáveis. Servidas do jeito mais simples, apenas sobre uma cama de rúcula precoce e em volta de tomatinhos temperados, a burrata é daquelas que desmancham na boca.
A casa também é famosa por suas pizzas napolitanas – meu marido sempre pede a de Prosciutto di Parma, que é uma das especialidades deles. Eu também sou repetitiva e vou invariavelmente de Bucatini alla Carbonara, outro clássico.
(437 Washington Ave, Miami Beach - Telefone: +1 305-532-0700 – www.flbmiami.com)
Acesse esta matéria no site www.imagemdailha.com.br e confira dicas de outros restaurantes que valem a pena conhecer em Miami.