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Garnacha: a uva que divide Espanha e Itália

Garnacha é a uva que desafia o tempo e as origens com seus rótulos históricos. (Foto: Eduardo Machado Araújo)

Publicado em 12/12/2024

Pouco falada e muito importante em diversas regiões do mundo, essa variedade tem uma história antiga e uma disputa entre Espanha e Itália para ter o direito de chamar a origem dessa uva de sua. 

Com suas primeiras menções na Espanha em 1513 com outro nome e como Garnacha em 1678 e na Itália como Canonat em 1549 só temos mais combustível para a discussão. Lembrando que dentre os muitos sinônimos dessa uva, Cannonau é um dos mais conhecidos e é usado na Sardenha. Sua etimologia abastece os Italianos vendo uma similaridade com o nome Vernaccia, mas ao mesmo tempo os espanhois se defendem dizendo que Garnacha era como chamavam as togas dos juízes dos Reis antigamente e que essa toga tinha uma cor profunda como a uva. 

Bom, se na parte etimológica temos esse debate, na parte genética podemos dar mais espaço pra teoria espanhola, já que por lá temos mutações genéticas das três cores dessa uva (tinta, branca e cinzenta), além de mutações morfológicas como a Garnacha Peluda, coisas que não encontramos na Itália. E isso é importante, pois os agrônomos consideram a área de maior diversidade genética como o local de origem de uma planta. 

E por fim, a Garnacha tem alguns parentescos com uvas antigas da Espanha, como Verdejo e Airén. Talvez a explicação mais comum dessa presença nos dois países seria a proximidade cultural desses locais, pois os Sardos, já ocupavam a península ibérica em 800 BC e a Sardenha foi uma colônia Espanhola entre 1479 e 1720.

Um dos maiores motivos de sucesso dessa uva, já que ela é uma das mais plantadas do mundo, é sua adaptabilidade a climas secos e quentes e sua afinidade em fazer parte de alguns blends como o tradicional GSM, ou Grenache, Syrah e Mourvèdre. Tem uma cor que pode ser delicada se a produção for alta e um potencial alcoólico alto, sendo muito utilizada para produzir vinhos fortificados no Sul da França, onde é chamada de Grenache. 

Sim, suas principais regiões estão nesse clima mediterrâneo do Sul do Rhône, Languedoc-Roussillon e na Espanha em locais como Priorat, Rioja e em regiões que tem chamado muito atenção ultimamente como Aragón, Valdejalón e as montanhas ao lado de Madrid na Sierra de Gredos. 

Ela é a principal variedade do mais importante Cru do Rhône Sul, Châteauneuf-du-Pape e em alguns dos mais famosos e procurados rótulos ela domina todo o blend, que pode trazer 18 variedades. Ali ela pode ter mais cor, com sua casca mais grossa em vinhas velhas plantadas em gobelet, ou bush vines, além de taninos mais firmes. Ela também pode ser utilizada para produzir alguns rosés tanto na França (Tavel) como na Espanha (Navarra). 

Eduardo Machado Araújo registra a colheita de Garnacha na França.

 

Vários outros países do mundo estão descobrindo essa versatilidade e a possível elegância que a Garnacha possui devido a sua resistência a climas mais quentes, Califórnia e Sul da Austrália são bons exemplos.

Mas, ultimamente, meus preferidos tem sido os produzidos nas partes centrais mais altas da Espanha, com vinhas velhas tanto em Valdejalón quanto acima dos 800 metros de altitude na Sierra de Gredos em Madrid. Por ali ela se adaptou ao clima de alta amplitude térmica e produz vinhos de acidez mais vibrante, taninos firmes e cor delicada, refletindo muito bem cada vinhedo e terroir. São vinhos surpreendentes e cheios de energia nas mãos de produtores como Fernando Mora, 4Monos e Cá di Mat.

De aparecer raramente em rótulos e ser uma coadjuvante a estampar alguns dos vinhos mais excitantes do momento, a Garnacha encontra cada vez mais seu lugar (merecido) de destaque.

 

 

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Sobre o autor

Eduardo Machado Araujo

Certified Sommelier - Court of Master Sommeliers


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