Feira de vinhos “naturais”
Evento reúne rótulos orgânicos, biodinâmicos, de práticas sustentáveis e com pouca intervenção humana
Menos é mais. Mais um ano pude visitar a maior feira de vinhos “naturais” do Brasil, a Naturebas, em São Paulo (SP), que aconteceu no final de junho. Coloquei naturais entre aspas, pois não existe uma regulamentação para o termo e já escrevi aqui um pouco sobre o tema. A feira é voltada para vinhos orgânicos, biodinâmicos, de práticas sustentáveis e até mesmo àqueles com a mínima intervenção humana. O evento, organizado pela Lis Cereja, da Enoteca Saint VinSaint, tomou proporções que pouca gente iria imaginar: começou com 100 visitantes e 20 expositores em 2013. Na edição deste ano foram cerca de 2 mil visitantes e mais de 100 expositores em dois dias de evento.
Feiras são momentos muito legais onde podemos encontrar os produtores e profissionais do ramo, conhecer novos vinhos, ouvir histórias e trocar muitas ideias, e não é diferente na Naturebas. Diversas importadoras focadas nesses nicho e produtores brasileiros e de diversos outros países estiveram por lá matando a nossa sede. Um grande ponto positivo foi a organização, que evitou filas e atropelos apesar do número de presentes, e da lista de produtos apresentados, que não ficou somente com os vinhos, trouxe uma gama de comidas e outras bebidas, como gin, pães, cafés e embutidos com a mesma proposta.
Visitando uma feira dessas e observando o mercado, posso afirmar que a busca pelos vinhos com esse estilo leva a uma procura maior do consumidor por vinhos mais leves e refrescantes, muitas vezes com menos álcool e menos uso de madeira. Podemos falar que são vinhos mais elegantes e os bons exemplares são mais equilibrados e frescos. Esse ano também curti a elevação de qualidade de muitos produtores, foi muito comum provar diversos vinhos com defeitos que não tinham relação nenhuma com terroir, entre eles um bem controverso, que é a acidez volátil que atinge níveis elevados sem o devido cuidado.
Vinhos mais limpos, sem deixarem de ser “naturebas”, preocupação com uvas ancestrais e típicas e a multiplicação dos consumidores para conhecer esses estilos nos leva a incentivar muitos novos e até mesmo velhos produtores a buscar essas características, claro, sem perder a qualidade. Acredito que a maior quantidade de vinhos assim no mercado faz mais enófilos se interessarem em conhecer esses rótulos, trazendo uma maior procura por vinhos onde o menos é mais. Menor maturação das uvas, mantendo uma acidez mais alta (mais frescor, consequentemente), menos álcool e uma preocupação maior em preservar a fruta, usando menos madeira nova na vinificação e amadurecimento. Regiões onde os vinhos são mais densos, alcoólicos e com muita madeira foram praticamente regra, como Argentina e Austrália, que vêm cada vez mais buscando por delicadeza e equilíbrio, seja na procura de novas regiões ou numa filosofia diferente de cultivo e vinificação.
Além de mais “drinkability”, conseguimos entender que vinhos com esse estilo não precisam esperar tanto tempo para serem bebidos, mas que também podem melhorar com alguns anos em garrafa. E, no final das contas, temos vinhos com muito mais respeito a nós e ao meio ambiente!
Sobre o autor
Eduardo Machado Araujo
Certified Sommelier - Court of Master Sommeliers
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